Polícia prende Juan Grabois após ocupação do Instituto Perón em protesto contra fechamento do centro histórico
Deputados e militantes da Frente Pátria Grande participaram da ação, que terminou com repressão, prisão e denúncias de perseguição política
247 - A ocupação do Instituto Juan Domingo Perón por Juan Grabois e integrantes da Frente Pátria Grande terminou com repressão e prisões na tarde desta sexta-feira (7), em Buenos Aires. A ação foi uma resposta ao anúncio do governo Javier Milei de que o tradicional centro de memória e pesquisa peronista seria fechado por "razões orçamentárias". A informação é do portal argentino Infobae, que acompanhou os desdobramentos no local.
Por volta das 14h, cerca de 50 manifestantes ingressaram no prédio histórico da antiga Quinta Unzué, no bairro da Recoleta. Estavam presentes, além de Grabois, os deputados Itai Hagman e Natalia Zaracho, o senador Federico Fagioli e a deputada Lucía Klug, todos da coalizão União pela Pátria. De varandas e janelas, os manifestantes penduraram faixas com frases como “Se você não pode escolher, não há democracia” e “Defendamos nossa história”. A entrada foi feita por uma porta interna do café anexo ao instituto, ainda em funcionamento.
A resposta das autoridades foi rápida. Após três horas de ocupação, por volta das 17h, agentes da Polícia Federal Argentina (PFA) invadiram o local com uso de spray de pimenta e força física. Juan Grabois foi preso em plena calçada, sob empurrões, e levado a um caminhão celular. Outro manifestante, Valentín Peralta Ramos, também foi detido. A operação foi acompanhada por clientes que estavam no restaurante "Un café con Perón", contíguo ao prédio.
“Coloque-me na prisão, Milei, mas você não tira a bandeira argentina de mim”, publicou Grabois em sua conta pessoal no X (ex-Twitter), ao divulgar uma foto dentro do veículo policial. A Argentina Humana, projeto político liderado por ele, denunciou que a prisão foi feita "sem ordem judicial" e convocou mobilizações em frente à delegacia para exigir sua libertação.
Nicolás Rechanik, advogado de Grabois, afirmou à imprensa: “Eles estão bem de saúde, pudemos vê-los. Ficaram muito tempo dentro do caminhão, com condições complexas de parada. É quase uma privação ilegítima de liberdade. Não há nenhuma prova do que diz a ministra Patricia Bullrich, não privou de liberdade nenhum policial”. E acrescentou: “Há uma vocação política para atacar Juan Grabois”.
Horas antes da detenção, Grabois havia justificado a ocupação como uma "presença pacífica" baseada nos princípios da resistência não violenta. “A juventude do movimento nacional recuperou do ódio gorila a antiga residência de Perón e Evita”, escreveu ele nas redes. À Infobae, detalhou: “É um ato de reafirmação do direito de nosso povo à sua memória histórica (...) Este era um lugar de referência para pessoas de todas as ideologias”.
O governo, por sua vez, comemorou a repressão. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, afirmou nas redes que o prédio foi “recuperado” e que a ação representou o fim dos “privilégios kirchneristas”. “Recupramos um prédio tomado por militantes que se acreditavam donos do Estado. Acabou tudo”, escreveu. E concluiu: “Grabois: você as faz, as paga”.
O Instituto Nacional “Juan Domingo Perón” foi criado em 1995 por decreto do então presidente Carlos Menem, e desde 1997 funcionava na sede histórica da antiga residência presidencial, local onde Eva Perón faleceu em 1952. Em 2008, o Congresso argentino declarou o prédio monumento histórico nacional.
No último dia 7 de maio, o porta-voz do governo, Manuel Adorni, anunciou a dissolução do Instituto Perón e da Comissão Nacional de Homenagem ao ex-presidente, sob o argumento de que ambas representavam “uma carga orçamentária injustificada”. Segundo o Ministério do Capital Humano, o instituto empregava 20 pessoas e gerava um custo de mais de 400 milhões de pesos por ano, “sem cumprir sua função de pesquisa”.
A pasta comandada por Sandra Pettovello prometeu que o patrimônio histórico será transferido à Biblioteca Nacional e ao Arquivo Geral da Nação. O prédio, segundo o governo, será destinado a uma biblioteca voltada para pessoas com deficiência. Já o restaurante “Um café com Perón” poderá ser concedido a um projeto social para jovens neurodivergentes.
Grabois, por sua vez, contestou os argumentos do governo. “A ideia de que havia muitas despesas é totalmente falsa. Havia possibilidades de manter o espaço com apoio de ONGs e trabalho voluntário”, afirmou. Para ele, o fechamento do instituto é mais um ataque à memória popular: “É um símbolo dos abusos do governo contra os direitos sociais”.
A crise em torno do Instituto Perón expõe os conflitos cada vez mais acirrados entre o governo Milei e setores do peronismo. Enquanto o Executivo afirma estar combatendo privilégios e readequando os gastos públicos, opositores denunciam o desmonte deliberado da memória histórica argentina e a criminalização da militância política.
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