A imagem do árabe no Ocidente
Sociólogo Emir Sader cita o pensador Edward Said para afirmar que, para os EUA, o árabe e não os europeus, tornou-se figura central na política global
Edward Said é um dos maiores pensadores contemporâneos. Nascido na Palestina, tornou-se professor de inglês e literatura comparada na Universidade de Columbia.
Um dia, na livraria da Universidade de Columbia, buscando livros dele, me deparei que ao meu lado estava nada mesmo que Edward Said. Que me levou à sua sala na Universidade e, a partir daí, mantivemos intensa correspondência.
irador da sua obra, antes de tudo do seu livro clássico Orientalismo, eu tentei trazê-lo ao Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Mas ele adoeceu e terminou falecendo, sem poder realizar seu desejo de vir a Porto Alegre.
Neste seu livro, ele critica fortemente a imagem do Oriente forjada pelo Ocidente, demonstrando como o Oriente, como tal, não existe, é uma invenção do Ocidente. A tal ponto, que ele inclui realidades geográficas e culturais tão distintas como o Japão, o Egito, o Afeganistão e Arábia Saudita.
Desde a Segunda Guerra, afirma ele, o muçulmano árabe tornou-se uma figura na cultura popular norte-americana, na política e no mundo dos negócios. A França e a Inglaterra não ocupam mais o centro do palco da política mundial. O império norte-americano tirou ambos desse lugar.
O árabe ou a ser um estereótipo como de um nômade montado em um camelo. Depois de 1973, essa imagem ou a representar algo mais ameaçador. Caricaturas apresentando um xeque árabe de pé atrás de uma bomba de gasolina surgiam reiteradamente.
Além de ser um anti-sionista, o árabe é também um fornecedor de petróleo. Nos filmes e na televisão o árabe é associado à libidinagem ou à desonestidade sedenta de sangue. Não aparece nenhuma individualidade, nenhuma característica ou experiência pessoal.
Um guia dos cursos do Columbia College diz que, uma de cada duas palavras do árabe tem a ver com violência. Um artigo na revista Harper’s era ainda mais injurioso e racista, afirmando que os árabes são basicamente assassinos e que a violência e a trapaça estão nos genes árabes. Um livro afirma que “poucas pessoas do mundo árabe sabem sequer que há maneiras melhores de se viver”.
O mundo árabe é hoje, diz Said, um satélite intelectual, político e cultural dos Estados Unidos. O mundo árabe e islâmico ainda é uma potencia de segunda categoria em termos de produção cultural, conhecimento e erudição.
Enquanto existem grande quantidade de organizações nos Estados Unidos para estudar o árabe e o Oriente islâmico, não existe nenhuma organização no Oriente para estudar os Estados Unidos, de longe a maior influência econômica e politica na região.
O fracasso do orientalismo, conclui Said, foi tanto humano como intelectual. Terminando seu texto, afirmando que: “Se o conhecimento do orientalismo tem qualquer sentido, é como um lembrete da sedutora degradação do conhecimento, qualquer conhecimento, em qualquer lugar, a qualquer momento. Hoje em dia talvez mais do que nunca.”
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