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      Carlos Corrêa

      Professor, consultor e pesquisador do Grupo de Estudos em Bioeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro

      4 artigos

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      A importância da biomassa na Nova Indústria Brasil na definição de políticas industriais e na reindustrialização nacional

      A falta de olhos para questões tecnológicas ligadas a matérias-primas sólidas pode ser um paradigma construído a partir do uso predominante do petróleo

      Lula, presidente da República (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

      No dia 26 de maio de 2025, o Brasil 247 promove evento sobre o Dia da Indústria – Nova Indústria Brasil, que acontecerá no Teatro do BNDES, no Rio de Janeiro, com a participação de nomes importantes do cenário industrial no país, visando promover discussões que contribuam para moldar o futuro do país. A programação inclui mesas sobre políticas industriais, cadeias produtivas estratégicas, casos de sucesso da reindustrialização nacional e transição verde.

      Falando em transição verde, no período entre 25 e 27 de março, Salvador mostrou que também olha para o futuro hospedando o International Brazil Energy Meeting 2025, que buscou debater, de forma transversal, a necessidade de uma transição energética que garanta um futuro sustentável para o planeta. O vento levou para Salvador mais de 6.000 representantes de mais de 30 países, com quase 300 palestrantes abordando temas que incluem diversas fontes de geração de energia. Em seu último dia, o evento promoveu uma conferência sobre as Novas Fronteiras de Energia que, entre outros pontos, deu destaque à importância do uso de biomassas [1] residuais para futuro da geração de energia de forma sustentável. Os debates, deixaram clara a importância de todos os envolvidos na produção e consumo de energia: desde entidades e empresas totalmente dedicadas às novas fontes renováveis de geração de energia, (solar, eólica, geotérmica, energia das marés, hidroelétricas e biomassa), até entidades e empresas atualmente ligadas a fontes fósseis, como o petróleo e o carvão mineral.

      Outro o importante no tema da transição verde foi dado no dia 28 de março, durante a 2ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Bioeconomia – CNBio presidida por Rodrigo Rollemberg – Secretário de Economia Verde do MDIC[2]. Nesse evento foi apresentada a publicação “Elementos para uma Estratégia Nacional de Implementação de Biorrefinarias no Brasil” [3], fruto da cooperação entre o MDIC e o PNUD Brasil no Projeto BRA/18/023 — Modernização da Economia e Ampliação Qualificada da Inserção Comercial Brasileira. Publicação, cujo conteúdo técnico foi elaborado pelo Grupo de Estudos em Bioeconomia da UFRJ[4], do qual tenho orgulho de fazer parte, liderado pelo Prof. José Vitor Bomtempo.Segundo José Ricardo Ramos Sales, do MDIC, essa publicação está amplamente conectada à Nova Indústria Brasil, com destaque para a Missão 5 (Bioeconomia, Descarbonização e Transição e Segurança Energética para as gerações futuras), e às Estratégias Nacionais de Bioeconomia e de Economia Circular, em andamento. A tese central é a de que as políticas públicas sobre o tema desenvolvam uma visão sistêmica do biorrefino que transcende a biorrefinaria; ela deve considerar também as cadeias produtivas e os ecossistemas de produção e inovação associados à unidade industrial. O documento traz um diagnóstico situacional das biorrefinarias no Brasil, apresenta um mapeamento de políticas e ações de alguns países e de grupos de biomassas com maior potencial de aproveitamento no País e, por último, propõe um conjunto de recomendações a partir de todas as análises efetuadas.

      A última transição energética, que alçou o petróleo para a posição de principal fonte de geração de energia, se iniciou nos anos 1920 com o surgimento da indústria petroquímica e levou mais de 50 anos até que o óleo se consolidasse nessa posição. A transição energética atual, surgida a partir das mudanças climáticas que o planeta vem enfrentando, não deverá ser muito diferente. Não se pode, do dia para a noite, mudar toda a base de geração de energia que sustenta o atual modo de vida da maior parte sociedade que habita esse planeta. Mesmo que isso fosse o ideal, não temos disponibilidade de novas fontes e nem tecnologia para essa mudança mais brusca. E ainda se arão algumas décadas até que isso possa se realizar. Mas é preciso começar já!!

      Dados de 2023 mostram que mais de 70% das emissões de CO2 para a atmosfera são oriundas de processos de geração de energia: seja para consumo em residências e instalações comerciais, ou para uso nas indústrias ou ainda para a produção de combustíveis de uso nos meios de transporte. Já é possível se observar o desenvolvimento mais avançado de fontes que poderão compor um mix sustentável para geração da energia a ser consumida em prédios e indústrias, com destaque para fontes de energia solar e eólica. Porém, ainda pouco se avançou no desenvolvimento de fontes renováveis para a produção de combustíveis a serem usados nos meios de transporte (terrestre, naval e aéreo). E, é justamente nesse ponto, que destaco um potencial gigantesco para que o Brasil, junto com as instituições e indústrias que atuam por aqui, possam protagonizar processos de transição energética tendo a biomassa como sua principal fonte.

      O Brasil é o país com a maior biodiversidade do planeta e com uma disponibilidade potencial de biomassas vegetais residuais que pode ser capaz de competir em pé de igualdade com as fontes fósseis para a produção de combustíveis. Notem que eu falei em biomassas residuais!! Apesar de insistências de outros países e órgãos internacionais, como a OCDE, em afirmar o contrário, temos capacidade de aumentar nossa produção de biocombustíveis, como o etanol por exemplo, sem afetar nossa produção de alimentos. Para ficar apenas no exemplo do etanol, temos a segunda produção global de etanol utilizando apenas o caldo da cana-de-açúcar cujo plantio ocupa apenas 1% de nosso território. Se utilizarmos também 50% da palha da cana, que fica no canavial depois da colheita, podemos dobrar a produção brasileira de etanol sem qualquer aumento da área utilizada para plantio, nos tornando no maior produtor de etanol do planeta. Se utilizarmos, além da palha da cana, a palha de outras culturas (soja e milho, p.ex.) e resíduos de outras culturas como a do café, do açaí, do guaraná, da palma, entre tantos outros, poderemos nos transformar em uma potência mundial na produção de combustíveis e bioquímicos, sem afetar, em nada, nossa produção de alimentos.

      Comparado com o uso e derivados de petróleo, o uso de biomassa na produção de combustíveis evita, por exemplo, perfurações em camadas profundas dos oceanos com um grande risco poluidor, evita a construção de plataformas e navios para produção offshore, transporte de profissionais para essas plataformas, evita gastos enormes em descomissionamento de instalações após o esgotamento dos poços e tantos outros gastos inerentes à extração do óleo bruto. Uma vez alcançado o desenvolvimento tecnológico necessário (que não irá demorar muito para acontecer), a produção de combustíveis a partir de biomassa, trará custos de produção muito abaixo dos atuais (com base no petróleo), aumentando a rentabilidade de empresas e investidores que tenham tido essa visão.

      A janela de oportunidade, para investir no desenvolvimento tecnológico e no uso de biomassas residuais em grande escala, está escancarada e significa transformar resíduos em produtos de alto valor agregado e, “de quebra”, reduzir drasticamente a emissão de gases do efeito estufa, já que a produção de combustíveis a partir da biomassa, é neutra na emissão de carbono, consumindo todo o CO2 gerado. Um efeito colateral não menos importante será a inclusão regional na cadeia de produção, populações próximas às fontes de geração de biomassa, aumentando o perímetro de desenvolvimento social do país.

      O uso de biomassas residuais como matéria-prima para a produção industrial pode ser uma das formas de se iniciar uma grande transformação capaz de mudar a estrutura da economia, que ainda tem o petróleo e o carvão como as principais fontes de riqueza, para uma nova economia que terá recursos renováveis como como sua principal base de produção. Para isso, entretanto, é preciso que haja domínio tecnológico sobre o manuseio desse tipo de material. Domínio esse que ainda não existe.

      Pesquisa sobre Os Desafios da Utilização de Biomassas Lignocelulósicas em Plantas Industriais Pioneiras[5], desenvolvida na Escola de Química da UFRJ, revelou que problemas com a movimentação de biomassa em grandes escalas ainda não receberam a atenção necessária de pesquisadores ou de formuladores de políticas públicas. Colocar “o manuseio da biomassa” no centro dos debates que tratam dos desafios tecnológicos que ainda precisam ser vencidos, pode ser vital para o sucesso operacional de novas biorrefinarias e do uso de biomassa como matéria-prima industrial.

      A falta de olhos para questões tecnológicas ligadas ao manuseio de matérias-primas sólidas pode ser um paradigma construído a partir do uso predominante do petróleo e seus derivados (fluidos) nas indústrias de processos químicos e similares, no último século. Um paradigma que pode remontar até a base de formação acadêmica dos engenheiros de processo e que precisa ser quebrado.

      O encontro 247 no Rio para debater o futuro da indústria, marcado para 26 de maio de 2025, pode ser mais um importante o nessa direção.

      [1] Biomassa pode ser definida como toda matéria orgânica de origem animal (dejetos, carcaças e resíduos da produção de alimentos de origem animal etc.) ou vegetal (plantas, árvores, frutos, palha, galhos e folhas etc.) usada com a finalidade de gerar bioenergia (na forma de calor, eletricidade ou biocombustíveis) e bioprodutos, como químicos, biofertilizantes, biopolímeros e rações.

      [2] Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – Governo Federal - Brasil

      [3] o em: https://www.gov.br/mdic/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/biorrefinarias

      [4] Universidade Federal do Rio de Janeiro

      [5] http://objdig.ufrj.br/61/teses/937878.pdf

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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