A indiferença
“Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo”
Na fase final do Nazismo alemão, não eram mais mortes eventuais, de gritos calados na noite, de algum bêbado ou prostituta, do esganiçar de algum cão na neve atrás de uma raposa ou do rastro apagado de manhã pela nevasca. E sim, a ação deliberada dos grupos de nazistas recrutados para a captura e mortes das vítimas indefesas, como os imigrantes sem rumo, prostitutas pobres, ladrões de comida, pessoas com autismo, tartamudos, repórteres, homossexuais, cantores de rua, bêbados, judeus, ciganos, transgêneros e quem lhes prestasse assistência.
O nazismo nacionalista acenou com ordem rígida, a de garantir segurança, empregos, riquezas, progresso, e muitos cadáveres. Acostumou-se e muitos não ligavam mais ou até aprovavam a barbárie em nome da segurança própria. Os nazistas se punham acima de todos, de qualquer valor de humanismo. Os cidadãos alemães, com medo, obedeciam e aplaudiam as marchas militares. Quando o regime começou a aliciar os filhos deles para a juventude hitlerista violenta, nada podiam dizer, porque antes nada disseram, inermes.
A sanha do ódio se voltou contra todos. Nada, nenhum argumento detinha os nazis. Pessoas ricas alemãs também foram levadas aos campos de extermínio, forçados aos trabalhos vis de separar dentaduras, óculos, anéis, alianças e outros bens pessoais roubados dos mortos.
Atualmente, numa entrevista com Erika Hilton, o jornalista perguntou à deputada trans: “...sobrou algum menino em você?” Ela, sem medo de se expor e bem resolvida, respondeu de pronto que “não tem como sobrar algo que nunca existiu".
Entretanto, Vivian Jenna Wilson, nascida organicamente menino, e mulher trans, foi deserdada pelo pai Musk. Para o oligarca “o filho” foi morto pelo vírus da “mente woke” – Veja de 22/01/2025. Do inglês “woke” (literalmente, conjugação do verbo acordar no pretérito, acordei) virou palavra de ordem para as pautas das esquerdas e do movimento LGBTQ+.
Provável que, como bem arrematou Erika no seu caso, nunca houve “o” menino. Ainda que inconcebível a pais com planos ao seu neném e encantados pelo ultrassom de que sejam “menino ou menina!” Apesar disso, os variados sexos sempre existiram e existirão, mesmo que silenciados pela anticiência, ignorância medieval, inquisição religiosa, torturas físicas e morais, pajelanças, curas evangélicas, expulsão do exército e decretos ditatoriais.
O presidente eleito Trump disse “A partir de hoje, na política oficial do governo dos Estados Unidos haverá apenas dois gêneros: masculino e feminino”.
Vivian reagiu: “Quero que cada pessoa trans leia esse decreto. É importante entender contra o que estamos lutando e a falta de vergonha do ódio deles”. Creio que essa exclusividade não seja somente contra pessoas trans ou LGBTQ+.
Não adianta dizer “não é comigo, porque não sou transgênero”. O nazismo emergiu pela indiferença e pelo menosprezo às minorias, e cresceu assustadoramente, como cresce hoje nos preconceitos do trumpismo e do bolsonarismo.
“Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo” – Berthold Brecht, dramaturgo alemão, contemporâneo do nazismo.
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