A vigília que virou posse
Aos que ficaram em vigília em Curitiba e aos que marcharam até Brasília: Obrigada
A posse de Lula não foi apenas cerimônia. Foi vigília, como a de Curitiba. Uma multidão atravessou o país não para assistir a um espetáculo, mas para garantir que o eleito não fosse silenciado mais uma vez. Estavam ali apesar das ameaças e porque sabiam delas.
No meio dos homens que protegiam a cerimônia, havia um que chorava. Meses depois, a operação Contragolpe deu nome ao seu rosto: Wladimir Matos Soares. Agente da Polícia Federal, autorizado a estar ali, credenciado, uniformizado e encarregado da segurança do presidente. Os áudios mostraram que ele esperava uma ordem. Bastava que alguém dissesse, e ele estaria pronto para prender ministros, agir com violência, matar se fosse preciso. A ordem não veio, e Lula subiu a rampa.
Mas não subiu sozinho. A cena, que rodou o mundo, não emocionava apenas pelos braços que acompanhavam Lula. Ela dizia algo essencial: aquela posse precisava ser protegida. E foi. Do lado de fora, o acampamento diante do QG do Exército ainda resistia. As ameaças pairavam sobre Brasília, e os jornais não nos deixavam esquecer disso. O perigo circulava. Por isso a vigília. Por isso o trompete de Fabiano Leitão, erguido como quem toca um alarme, anunciando que a vigília mudava de cenário, mas não de sentido.
Uma semana depois, a diferença entre quem veio para sustentar e quem veio para destruir ficou evidente. O 8 de janeiro não surpreendeu quem já tinha sentido a tensão no ar. A vigília que virou posse havia sustentado a democracia. A horda que invadiu os prédios tentou derrubá-la.
Talvez por isso o choro de Wladimir tenha ado despercebido. Havia muitos chorando naquele dia. De alívio, de lembrança, de luta vencida. O dele se confundiu com os demais. Mas era outro. Era o choro de quem queria impedir a cena que o cercava. Um choro raivoso, de derrota íntima. Um choro assassino. Silencioso. Solitário. Encurralado pela vigília que virou posse.
Aos que ficaram em vigília em Curitiba e aos que marcharam até Brasília: Obrigada. Foi com o corpo de vocês que a democracia resistiu. Foi com a presença de vocês que ela venceu.
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