Ainda bem que a extrema-direita não conseguiu 'ucranizar' o Brasil
O risco que o Brasil correu durante a triste era bolsonarista foi muito maior do que se imagina
O acordo assinado ontem entre Estados Unidos e Ucrânia expõe, de forma definitiva, o desastre de uma guerra insana: o país derrotado, devastado por três anos de conflito, agora entrega suas riquezas naturais em troca da promessa de reconstrução. Pelo pacto, anunciado em Washington, os norte-americanos terão o preferencial aos minerais estratégicos ucranianos — como terras raras, ferro, urânio e gás natural — para financiar o que sobrou do Estado ucraniano após sucessivos fracassos militares e econômicos.
O que se vê hoje na Ucrânia é a consequência direta de decisões tomadas sob a influência de potências externas. Kiev apostou tudo na aliança com o Ocidente, foi arrastada para uma guerra devastadora contra a Rússia e, agora, se vê sem alternativas que não a submissão econômica. As jazidas nacionais, antes patrimônio do povo ucraniano, serão transformadas em moeda de troca para bancar uma reconstrução tutelada e dependente.
O Brasil esteve perigosamente perto de repetir esse roteiro. No primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, em 2019, o país ou a adotar um alinhamento automático aos interesses dos Estados Unidos, então presididos por Donald Trump em seu primeiro mandato. Naquele momento, o governo brasileiro flertou abertamente com a ideia de apoiar uma intervenção militar contra a Venezuela, colocando-se como linha auxiliar de uma operação imperialista na América do Sul, que pretendia derrubar o presidente Nicolás Maduro.
Bolsonaro chegou a dizer, publicamente, que consultaria o Congresso em caso de invasão, mas que “a decisão final seria dele” — uma declaração que colocava o Brasil à beira do abismo. Paralelamente, manifestações bolsonaristas exibiam faixas com a frase “vamos ucranizar o Brasil”, numa clara apologia ao caos, à ruptura institucional e à subordinação do país ao nazismo e a interesses geopolíticos externos. Não se pode esquecer do caso da militante de extrema-direita Sara Giromini, a “Sara Winter”, que afirmava ter sido treinada por grupos paramilitares na Ucrânia, como o Batalhão Azov — conhecido por sua ideologia ultranacionalista e por vínculos com o neonazismo.
Esses elementos comprovam que o bolsonarismo não era apenas uma ameaça retórica, mas um projeto ideológico articulado com redes internacionais da extrema-direita. Em várias outras manifestações articuladas até por grupos paramilitares, eram vistas bandeiras da Ucrânia e de seus batalhões mais agressivos.
Se a insanidade bolsonarista tivesse avançado, o Brasil correria risco semelhante ao da Ucrânia. Em caso de conflito, nossa fragilidade militar e dependência tecnológica nos colocariam em posição de submissão, e o custo de um eventual conflito recairia sobre o povo — que perderia ainda mais soberania e riquezas naturais. O lítio, o nióbio, o petróleo do pré-sal e a biodiversidade amazônica estariam hoje sendo oferecidos como pagamento a potências estrangeiras, em troca de “ajuda” para reconstruir um país que sempre evitou se envolver em conflitos.
O Brasil resistiu aos arroubos da extrema-direita e Bolsonaro está prestes a ser condenado e preso por tentativa de golpe de estado. Felizmente, a extrema-direita não conseguiu “ucranizar o Brasil", mas o episódio serve de lição: a defesa da soberania nacional exige vigilância constante, compromisso com a paz e rejeição firme a qualquer projeto entreguista disfarçado de patriotismo.
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