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      Marcelo Zero

      É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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      As comemorações da derrota do nazismo ressignificam a atualidade nazistóide de Trump

      Trump tem a quintessência política de Hitler

      Presidente dos EUA, Donald Trump - 17/04/2025 (Foto: REUTERS/Evelyn Hockstein)

      Durante a Segunda Guerra Mundial, a humanidade correu o sério risco de sucumbir às forças do nazifascismo. A Europa, em particular, foi, durante anos, praticamente toda tomada pelas forças de Hitler. 

      Caso essas forças não tivessem sido derrotadas militarmente, o mundo de hoje poderia ser muito diferente. Poderíamos ainda estar sob o tacão de forças totalitárias, racistas e genocidas.

      Por isso, devemos estar sempre gratos àqueles que deram suas vidas para que o mundo superasse esse grande perigo, hoje muito presente, sob diversas formas.

      Trump tem a quintessência política de Hitler.

      Muito embora todas as forças que combateram o nazifascismo mereçam todos os encômios e homenagens, é preciso destacar, por uma questão de justiça histórica, o papel heroico e decisivo que o povo soviético e o Exército Vermelho tiveram na derrota do nazifascismo, na chamada, por eles, “Grande Guerra Patriótica”,

      Na imaginação do chamado Ocidente, sempre alimentada por uma pletora de filmes, seriados etc., a derrota de Hitler ocorreu a partir da invasão da Normandia pelas tropas aliadas.

      Isso não é, por óbvio, verdade factual.

      Muito embora a abertura da frente ocidental tenha acelerado a debacle nazista, Hitler já estava praticamente derrotado no “dia D”.

      Como bem salientou o historiador e jornalista britânico Max Hastings em sua obra “Inferno: The World at War, 1939-1945”, o Exército Vermelho foi “o principal motor da destruição do nazismo”.

      Hitler, para quem a busca do “lebensraum” (espaço vital) no Leste era essencial, enviou o grosso de todas as suas tropas para a invasão da União Soviética, que os nazistas viam como o grande inimigo estratégico. Tratou-se da Operação Barbarosa, a qual acabou envolvendo ao longo do tempo, quase 4 milhões de soldados, 600 mil veículos e até 600 mil cavalos (sim, cavalos também).  

      As mais fidedignas fontes históricas estimam que a Alemanha nazista perdeu entre 75% e 80% de todos seus exércitos e dos seus equipamentos militares na terrível “frente oriental”.

      Com efeito, quando ocorreu a invasão da Normandia, muita coisa já tinha acontecido na frente oriental.

      Os soviéticos já tinham, por exemplo, conseguido parar, a muito custo, a ofensiva nazista na sangrenta Batalha de Moscou.

      Em 2 de fevereiro de 1943, as forças nazistas sofreram uma enorme derrota militar em Stalingrado, batalha que todos os analistas sérios consideram como um grande ponto de inflexão do conflito, o começo praticamente irreversível da derrota nazista.  

      Só nessa batalha gigantesca, os nazistas perderam cerca de 1, 5 milhão de homens, entre mortos, incapacitados e prisioneiros. 

      Pouco depois, no verão de 1943, ocorreu a maior batalha militar de todos os tempos: a Batalha de Kursk, vencida pela União Soviética, a qual envolveu cerca de 9 mil tanques, além de inúmeros outros equipamentos bélicos. 

      A partir daquele momento, as forças nazistas perderam qualquer capacidade ofensiva na frente oriental, e aram a uma estratégia defensiva até o final da guerra.  

      Além dos grandes reveses nazistas ocorridos em Stalingrado, em Kursk e na Operação Bagration, que dizimou, entre junho e agosto de 1944, o grupo dos Exércitos do Centro da Wehrmacht, na Bielorrússia, houve também a operação Budapest, que concentrou seus esforços ao sul da frente oriental.

      Essa ofensiva monumental durou de 29 de outubro de 1944 até a queda de Budapeste, em 13 de fevereiro de 1945. 

      Conforme as avaliações da história militar, essa foi uma das ofensivas mais difíceis e complicadas que o Exército Soviético realizou na Europa Central. Resultou, contudo, segundo os historiadores, em uma vitória decisiva para a URSS, pois acelerou muito o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.

      O primeiro (29 de outubro de 1944 - 3 de novembro de 1944) e o segundo períodos da operação (7 de novembro de 1944 - 24 de novembro de 1944) foram marcados pelas duas grandes ofensivas da 2ª Frente Ucraniana, liderada por Rodion Malinovsky. 

      Consta que as batalhas nesses dois períodos foram excepcionalmente sangrentas e ferozes, já que os alemães ofereceram forte resistência contra o ataque soviético. Embora o Exército Vermelho tenha conseguido ganhar um território considerável, eles falharam em capturar Budapeste, num primeiro momento.

      No terceiro período (3 de dezembro de 1944 - 26 de dezembro de 1944), a 3ª Frente Ucraniana de Fyodor Tolbukhin alcançou o estratégico rio Danúbio, após libertar Belgrado e, assim, aumentou muito o poder ofensivo soviético na frente sul. 

      Isso possibilitou as forças soviéticas lançarem um ataque simultâneos ao norte e ao sul de Budapeste, em um clássico movimento de pinças, o qual finalmente cercou a cidade, prendendo num bolsão cerca de 79.000 tropas alemãs e húngaras.

      Já o quarto período (1º de janeiro de 1945 – 26 de janeiro de 1945) foi marcado por uma série de fortes contraofensivas lançadas por reforços alemães, em uma tentativa de aliviar o cerco de Budapeste. 

      Finalmente, no quinto período (27 de janeiro de 1945 – 13 de fevereiro de 1945), os soviéticos reuniram suas forças para eliminar os defensores sitiados na cidade. As tropas alemãs lutaram por cerca de meio mês a mais antes de se renderem em 13 de fevereiro de 1945, encerrando quatro meses de combates sangrentos na área de Budapeste. Dos estimados 79.000 defensores, menos de 1.000 conseguiram evitar a morte ou o cativeiro.

      Após essa ofensiva de Budapeste, as principais forças do Grupo de Exércitos Sul da Wehrmacht praticamente entraram em colapso. 

      O caminho para Viena, a antiga Tchecoslováquia e a fronteira sul da Alemanha ficou amplamente aberto para os soviéticos e seus aliados.

      Reforce-se que, com as forças nazistas praticamente destruídas na região, Hitler deslocou tropas da frente ocidental para tentar lançar uma contraofensiva com o objetivo de tentar defender desesperadamente o Sul da Alemanha, a Unternehmen Frühlingserwachen, que fracassou totalmente.

      Foi o último movimento contraofensivo do nazismo. Seu derradeiro e fracassado estertor.

      A partir daí, as forças soviéticas avançaram sem maiores resistências até Berlin. Em 8 de maio de 1945 (horário de Berlin), já 9 de maio, no horário de Moscou, a Alemanha Nazista capitulava ante as forças soviéticas que já haviam tomado toda a capital daquele país. 

      Mesmo assim, ainda há grupos nazistas da Hungria que não reconhecem o mérito da União Soviética e seus aliados na derrota do nazismo e tentam comemorar o chamado “Dia de Honra” (12 de fevereiro), dedicado à comemoração das poucas forças nazistas que conseguiram fugir da Budapeste cercada pela União Soviética, ao final da Segunda Guerra Mundial.

      Da mesma forma, na Ucrânia, nas repúblicas bálticas e na Croácia, além de outros países, há vários grupos de nazistas e de nacionalistas que elogiam o papel das forças do nazismo na Segunda Guerra Mundial e rejeitam o papel da União Soviética, na libertação dos povos europeus do jugo nazista.

      Na realidade, esses grupos nazistas e de extrema-direita estão se tornando mais ativos e agressivos na Europa e no mundo.

      Num revisionismo histórico demente, reacendem as chamas destruidoras do nazismo e do fascismo, combinadas com uma crescente russofobia.

      Parecem querer repetir a história como farsa e se alinhar a uma nova Guerra Fria destrutiva e extremamente perigosa, que não se acanha em promover o nacionalismo de extrema-direita de caráter nazistóide.

      Quase 80 anos após o último estertor em Budapeste, o nacionalismo de extrema-direita europeu quer respirar de novo com o oxigênio malcheiroso das mentiras históricas.

      Mas nada muda o fato histórico que a então União Soviética pagou, de longe, o preço mais duro., na Segunda Guerra Mundial. Embora os números não sejam exatos, estima-se que 26 milhões de cidadãos soviéticos morreram durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo cerca de 11 milhões de soldados. 

      O país foi devastado.

      O próprio Eisenhower escreveu em suas memórias que:

      Quando voamos para a Rússia, em 1945, não vi nenhuma casa em pé situada entre as fronteiras ocidentais do país e a área ao redor de Moscou. Através desta região invadida, disse-me o marechal Zhukov, foram mortas tantas mulheres e crianças, e tantos idosos, que o governo russo nunca seria capaz de estimar o total.

      Não há termo de comparação. Os EUA perderam 141 mil soldados, no cenário europeu. Os soviéticos, como salientado, perderam ao redor 11 milhões. Para cada soldado estadunidense morto no front europeu, morreram 78 soviéticos. 

      Especificamente na invasão da Normandia, faleceram 4.400 soldados aliados, incluindo 2.500 estadunidenses. Perda de vidas a se lamentar, é claro, mas cujos números empalidecem, em comparação à catástrofe sofrida pelo povo soviético.

      Não obstante, o Ocidente é recalcitrante em reconhecer o papel decisivo da União Soviética na derrota do nazismo. Também é recalcitrante em reconhecer os ecos do nazismo histórico em forças política na moderna Ucrânia, nas Repúblicas Bálticas, na Croácia, na Romênia etc.

      Por isso, é fundamental que, neste momento em que há um grande avanço da extrema-direita e de forças antidemocráticas no mundo todo, que o papel decisivo do povo soviético e do Exército Vermelho na derrota do nazifascismo seja reconhecido por todos, sem desmerecimento das outras forças, que, em escala menor, mas não menos heroica, livraram o planeta do pesadelo do nazifascismo.

      Não obstante, a Europa, hoje, está ameaçada, internamente, pelo crescimento da sua extrema-direita e, externamente, pelos avanços hobbesianos de Trump. Ao contrário do desvario ideológico de alguns, nem a Rússia e nem a China representam ameaça geopolítica similar ao continente europeu.

      Em sentido inverso, uma détente com a China e uma paz realista com a Rússia, em torno da neutralidade do território ucraniano, poderia colocar a Europa no centro geopolítico da Eurásia e descortinar novas alianças com o Sul Global, isolando a extrema-direita interna e Trump. Um novo pacto de defesa, para além da OTAN, como se imaginou no início deste século, poderia ser criado.

      Será, evidentemente, muito difícil convencer gente como Macron e Ursula Von der Leyen. 

      Mas a ordem mundial só poderá sobreviver, remodelada, com decisões difíceis e inusitadas, que extrapolem os antigos paradigmas destroçados por Trump e aliados.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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