Crumb, entre os quadrinhos e o jazz

Rio - Conheci Robert Crumb em agosto de 2010, na Feira Literária de Paraty. Assistindo sua palestra, de cara, descobri que tínhamos em comum duas paixões: os quadrinhos e o jazz.

Ontem, comprei o seu livro ‘Crumb´s, Heróis do Blues, Jazz & Country’ (Editora DarkSide Books - 256 páginas, 18x18cm, capa dura colorido), obra obrigatória para os fãs de Crumb, dos quadrinhos e dos amantes do Jazz e do blues.

Crumb é apaixonado pela música dos anos 1920 e 1930. Nos anos 1980, para homenagear os músicos responsáveis pela sua formação musical, o artista produziu uma série de desenhos retratando os pioneiros do blues, do jazz e do country, quase sempre inspirados em fotografias antigas e raras.

No início deste século, ele reuniu este trabalho em livro, que agora ganha sua primeira edição no Brasil pela DarkSide Books. Crumb, conseguiu captar o espírito daquele tempo seminal da música norte-americana como poucos, a obra conta com perfis biográficos dos músicos e bandas escritos por estudiosos como Stephen Calt, David Jasen e Richard Nevins.

Entre as lendas do início do blues, estão Mississippi John Hurt, Son House, Blind Lemon Jefferson, Memphis Minnie, Charley Patton, Jaybird Coleman, Ramblin’ Thomas e Big Bill Broonzy. Já os retratos dos grandes nomes da origem do jazz se destacam da maioria do trabalho do artista, pois foram originalmente pintados e não desenhados, o que os torna ainda mais fascinantes. Entre eles, nomes consagrados como Louis Armstrong, Bix Beiderbecke, Duke Ellington, Sidney Bechet, Fats Waller e Benny Goodman, entre outros.

Eu já era fã do trabalho do cartunista e dos seus personagens. Li todos eles - seus quadrinhos foram publicados na revista Grilo, durante a década de 1970, e nas revistas Circo e Porrada! nos anos 1980 -, dos icônicos, como Mr. Natural (que pode ser lido como uma sátira de Maharishi Mahesh Yogi e semelhantes, numa época em que era moda gurus espirituais) a Fritz the Cat, um gato boa vida que usa muitas drogas e tem uma vida sexual bastante lasciva.

Robert Crumb é o principal quadrinista do movimento comix underground, que surgiu na Califórnia nos anos 1960. É autor de dezenas de quadrinhos, incluindo uma adaptação quadrinhística de O Livro do Gênesis, o livro da Bíblia, lançado em 2009.

Produziu frequentemente HQs autobiográficas com sua esposa, Aline Kominsky-Crumb, desenhadas a quatro mãos e publicadas na revista The New Yorker. As obras estão sendo republicadas no Brasil pela revista Piauí.

Como músico, tocou banjo e cantou na ‘R. Crumb and his Cheap Suit Serenaders’, banda criada nos anos 1970 e dedicada à música dos anos 1920 e 1930, como ragtime, jazz, swing, country, blues e música de vaudeville.

Crumb nasceu em 1943 numa família religiosa, seu pai, um ex-marinheiro, não sabia porque Robert e o irmão, em vez de brincar, desenhavam quadrinhos tendo o gato da casa como personagem.

Crumb foi tema de um documentário intitulado Crumb, lançado em 1994 pelo diretor Terry Zwigoff. O filme foca-se nele e em seus dois irmãos, os três com um certo grau de sociofobia, frutos da criação de um pai severo e uma mãe superprotetora.

Há, sobretudo, bastante destaque no irmão mais velho, Charles, e sua influência sobre seu irmão Robert. É narrado, em certo momento, que Charles obrigava seus irmãos a desenharem quadrinhos, na infância.

Na década de 1970, começou a colaborar com o roteirista e arquivista Harvey Pekar e ou a adaptar obras literárias de autores como Franz Kafka, Charles Bukowski e Philip K. Dick.

O cartunista é autor da famosa ilustração para a capa do disco "Cheap Thrills", da sua amiga, Janis Joplin.

Em 2007, figurou no 20º lugar da lista de 100 gênios vivos, compilada pela empresa de consultoria global Synectics.

Atualmente, Crumb mora no sul da França com a filha, Sophie Crumb, fruto do casamento com a cartunista Aline Kominsky-Crumb, falecida 2022.