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      Washington Araújo

      Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

      77 artigos

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      Diversidade de fachada? Empresas falam em inclusão, mas rejeitam currículos 50+

      O custo oneroso do preconceito geracional no mercado brasileiro é astronômico e com implicações de longo alcance

      (Foto: Rodrigo Garrido/Reuters)

      Nos agitados corredores corporativos que pulsam no coração do Brasil, um paradoxo perturbador se revela a cada dia. Enquanto expressivos 84% das empresas ecoam a crescente apreensão em relação à escassez de talentos genuinamente qualificados, essas mesmas organizações persistem em ignorar, de forma flagrante, um contingente robusto de 1,4 milhão de profissionais experientes que ultraaram a marca dos 50 anos e se encontram em um limbo de desemprego.

      A ironia que permeia essa situação é quase palpável, evocando a imagem daquela velha anedota sobre o indivíduo que busca insistentemente suas chaves sob a luz trêmula de um poste, negligenciando o local exato onde as perdeu na escuridão.

      Juventude idealizada, lealdade ignorada - A fixação obsessiva pela figura do "jovem dinâmico" incrustou-se profundamente no tecido das práticas corporativas, transformando-se em um vício prejudicial. As empresas, imbuídas de uma busca frenética, direcionam seus esforços para a atração de profissionais na faixa etária entre 20 e 35 anos, sob a premissa teórica de que essa demografia injetaria energia renovada e uma familiaridade intrínseca com as últimas tecnologias.

      Contudo, nessa ânsia juvenil, um detalhe crucial é sistematicamente negligenciado: essa mesma geração mais jovem demonstra uma volatilidade profissional alarmante – impressionantes 60% declaram-se abertos a explorar "novas oportunidades" a qualquer momento, uma frase codificada na linguagem corporativa que traduz um pragmático "me ofereça uma remuneração superior, ou buscarei outros horizontes".

      Não surpreende, portanto, que um expressivo percentual de 45% desses jovens talentos incline-se a trilhar o caminho do empreendedorismo, em detrimento das carreiras tradicionais dentro de estruturas empresariais estabelecidas.

      Experiência não tem idade: lições do ado - Enquanto esse ciclo vicioso de empurra-empurra persiste, exemplos históricos luminosos erguem-se como faróis, iluminando a magnitude desse equívoco estratégico. Konrad Adenauer, aos 73 anos de idade, assumiu a chancelaria alemã e orquestrou o monumental "milagre econômico alemão" no período pós-guerra, remodelando uma nação.

      Na África do Sul, Nelson Mandela, após ar 27 anos de injusto encarceramento, tomou posse como presidente aos 75 anos, liderando uma transição política delicada que conseguiu reduzir a profunda desigualdade racial em notáveis 30%.

      E como deixar de apreciar a figura de 'Abdu'l-Bahá, que, aos 72 anos, durante a turbulência da Primeira Guerra Mundial, implementou sistemas agrícolas inovadores na Palestina, salvando milhares da fome iminente – uma proeza que lhe valeu a honraria de Cavaleiro do Império Britânico?

      Parece que, em tempos ados, a idade era reverenciada como um sinônimo de solução robusta, e não como um obstáculo a ser contornado.

      No domínio da ciência, John B. Goodenough revolucionou a tecnologia moderna ao patentear as onipresentes baterias de íon-lítio aos 75 anos – uma invenção seminal que culminou na atribuição do Prêmio Nobel de Química quando ele já contava 97 anos.

      Na prestigiada NASA, Katherine Johnson, aos 51 anos, desempenhou um papel crucial ao realizar cálculos matemáticos de precisão cirúrgica para a histórica missão Apollo 11. Claramente, esses profissionais de calibre excepcional não necessitaram de um estágio relâmpago no TikTok para inscrever seus nomes nos anais da história.

      Lucros da inclusão: casos de sucesso no Brasil - A Siemens no Brasil, uma empresa visionária que mantém 20% de seu quadro de colaboradores composto por profissionais com mais de 50 anos, colhe os frutos de sua abordagem inclusiva em resultados impressionantes: uma notável redução de 25% nos erros em projetos de alta complexidade e um aumento significativo de 30% no índice de satisfação dos clientes atendidos pelo e técnico.

      Temos a Embraer que, por meio de seu perspicaz programa "Experiência que Transforma", reportou ganhos de produtividade na ordem de 15% após a integração de engenheiros aposentados como consultores estratégicos.

      E a Natura, com uma parcela de 18% de colaboradores maduros em sua força de trabalho, registrou um crescimento expressivo de 35% no índice de satisfação com a qualidade da liderança.

      O alto custo do etarismo e o caminho a seguir - O etarismo corporativo, essa prática discriminatória arraigada na idade, atinge patamares tão absurdos que beiram o cômico. As empresas ostentam campanhas vibrantes e repletas de cores sobre a importância da diversidade, mas no momento em que um currículo de um profissional com mais de cinco décadas de vida profissional cruza suas mesas, ele é tratado com a mesma desconfiança e obsolescência de um telegrama empoeirado de 1970.

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      As qualidades intrínsecas e comprovadas dos profissionais com mais de 50 anos são inegáveis e multifacetadas:

      • Visão estratégica aprimorada: décadas de vivência profissional proporcionam uma perspectiva única, permitindo antecipar crises potenciais e identificar oportunidades emergentes com uma clareza perspicaz;
      • Estabilidade emocional robusta: tendo navegado por diversas turbulências econômicas e desafios empresariais ao longo de suas carreiras, esses profissionais demonstram uma resiliência emocional invejável, mantendo a compostura em momentos de incerteza;
      • Mentoria natural e eficaz: a vasta bagagem de conhecimento e experiência é transmitida de forma orgânica e enriquecedora às gerações mais jovens, fomentando um ambiente de aprendizado contínuo e desenvolvimento profissional.
      • Comprometimento e lealdade: profissionais maduros tendem a valorizar a estabilidade e a retribuir a confiança depositada com um alto grau de lealdade e dedicação à organização.
      • Redes de contatos valiosas: ao longo de suas trajetórias profissionais, eles construíram extensas e sólidas redes de contatos, que podem se traduzir em parcerias estratégicas e novas oportunidades de negócios.

      O custo oneroso do preconceito geracional no mercado brasileiro é astronômico e com implicações de longo alcance. Projeções indicam que, até 2030, um expressivo contingente de 30% da população brasileira terá ultraado a marca dos 50 anos. Esse segmento representará um mercado consumidor com um poder de compra estimado em R$ 1,7 trilhão anuais.

      As empresas que persistirem em ignorar esse contingente populacional significativo não apenas sofrerão a perda de talentos valiosos, mas também alienarão uma parcela substancial de seus potenciais clientes. E o prognóstico mais sombrio é que essas organizações estarão inexoravelmente fadadas a se tornarem tão obsoletas quanto aquelas antigas máquinas de escrever que, em seus temores infundados, acreditam que seus funcionários mais experientes não saberiam operar.

      A solução para essa cegueira corporativa reside em uma mudança fundamental de perspectiva: começar a tratar a idade como o que ela verdadeiramente é – um ativo valioso, e não um ivo a ser descartado. É imperativo abandonar a visão simplista de que o WhatsApp representa o ápice da "tecnologia avançada" para um profissional que, em seu ado, já dominava a complexidade da programação em COBOL. E, acima de tudo, é crucial internalizar que a diversidade genuína transcende um mero cartaz colorido pendurado na parede; ela configura uma estratégia de negócios inteligente e essencial para a sustentabilidade a longo prazo.

      Convenhamos, o preconceito etário no mercado de trabalho brasileiro soa tão anacrônico quanto tentar consertar um foguete com o manual de instruções de um Fiat 147, anos 1980. Em tempos de transformação veloz, o futuro exige todas as engrenagens — novas e experientes — operando em harmonia. Ignorar o potencial da experiência madura é como descartar um mapa preciso e confiável para seguir um GPS desatualizado e instável: a jornada se torna mais longa, arriscada e, acima de tudo, muitíssimo menos produtiva. E como sabemos produtividade uma empresa é tudo… Ou quase tudo.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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