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      Alex Solnik

      Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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      Dragonfly

      Uma top model morta. Um clube secreto. Os mistérios sombrios do Vaticano

      Cardeais da Igreja católica (Foto: Reuters/Remo Casilli)

      Capítulo 4: A Noite que Não Terminou

      Roma, 12 de março de 2013. 23h47.

      A chuva caía como um véu sobre a Piazza Navona, mas dentro da mansão de Carlo Casanova a festa pulsava com risos e taças de prosecco. Clara Vilar, com um vestido preto que não lhe pertencia, segurava um copo intocado, os olhos fixos em Anais. Sua melhor amiga dançava no centro do salão, o cabelo loiro refletindo as luzes do candelabro, alheia ao peso que Clara sentia no ar. Anais estava diferente naquela noite — nervosa, olhando constantemente para o celular.

      “Você tá bem?”, Clara perguntou, aproximando-se. Anais sorriu, mas seus olhos traíram algo. “Só preciso de ar,” respondeu, escapando para o terraço. Clara quis segui-la, mas uma mão a deteve. Carlo, com seu charme de galã envelhecido, ofereceu outra bebida. “Relaxe, Clara. É uma festa”.

      Horas depois, Anais foi encontrada morta no jardim. A polícia disse que ela pulou. Clara sabia que era mentira.

      Na manhã seguinte, no café amargo de um bar em Trastevere, Clara folheava o diário de Anais, encontrado em sua bolsa. Uma frase, escrita às pressas, fez seu coração disparar: “o cardeal sabe. Se eu desaparecer, é ele”.

      Capítulo 5: O Homem no Canto

      Roma, 14 de março de 2013. 19h22.

      O bar La Tazza Rotta cheirava a café queimado e cigarros baratos, um canto esquecido de Trastevere onde turistas não ousavam entrar. Clara sentou-se em uma mesa ao fundo, o caderno de Anais aberto à sua frente, as palavras “O cardeal sabe” gravadas em sua mente como um mantra. A chuva ainda caía lá fora, tamborilando nas janelas embaçadas. Ela não notou o homem no canto até que ele falou.

      “Você parece alguém que perdeu algo mais que uma amiga”.

      Clara ergueu os olhos, sobressaltada. Ele era magro, com pouco mais de 40 anos, cabelo castanho bagunçado e uma barba rala que não escondia as cicatrizes discretas no rosto. Vestia um casaco cinza surrado, e seus olhos, de um azul frio, pareciam ler cada movimento dela. Um copo de uísque intocado repousava à sua frente.

      “Quem é você?”, Clara perguntou, fechando o caderno com um gesto rápido.

      “Alguém que ouviu falar de Anais Duval”. Ele deslizou para a cadeira oposta sem pedir permissão, a voz baixa, com um leve sotaque americano. “E que sabe que ela não pulou”.

      Clara sentiu um arrepio. “Se sabe de algo, fale. Caso contrário, não me faça perder tempo”.

      Ele sorriu, um sorriso que não alcançava os olhos. “Ethan Cole. Ex-CIA, agora... digamos que freelance. Anais cruzou meu caminho há algumas semanas. Ela estava mexendo em coisas perigosas. Coisas que matam”.

      Clara hesitou. A menção à CIA parecia absurda, mas havia algo na calma dele, na precisão de suas palavras, que a fez ouvir. “Que coisas?”.

      “Vaticano. Dinheiro sujo. Pessoas que não gostam de perguntas”. Ethan inclinou-se para a frente, baixando ainda mais a voz. “A festa na mansão de Carlo Casanova não foi só uma festa. Era uma vitrine. Poder, segredos, alianças. Anais viu algo que não deveria”.

      Clara apertou o caderno contra o peito. Ele tomou um gole do uísque, finalmente, e fez uma careta. “Se quer respostas, precisa de alguém como eu. Alguém que sabe onde procurar. E como”.

      “Por que você se importa?”, Clara retrucou, desconfiada. “Qual é o seu jogo?”.

      Ethan olhou para a janela, como se a resposta estivesse na chuva. “Digamos que tenho contas a acertar. E que Anais me lembrou alguém que eu não consegui salvar”.

      O silêncio pairou entre eles, pesado. Clara queria duvidar, mandá-lo embora, mas a frase no caderno de Anais ecoava. O cardeal sabe. Ela precisava de ajuda, e aquele homem, com suas cicatrizes e segredos, era a melhor chance que tinha.

      “O que você propõe?”, perguntou, por fim.

      Ethan puxou um pequeno dispositivo do bolso, menor que um isqueiro, e colocou-o sobre a mesa. “Escutas. Posso grampear os telefones de todos que estavam na festa. Carlo, os convidados, quem você quiser. Mas você precisa me dizer tudo o que sabe. E confiar em mim”.

      Clara riu, amarga. “Confiar em um estranho que diz ser ex-CIA? Você tá brincando”.

      “Não confie, então. Mas me use”. Ele empurrou o dispositivo na direção dela. “Primeiro o: me diga quem estava na festa. E o que Anais sabia”. Clara hesitou, os dedos tamborilando no caderno. Então, abriu uma página e começou a falar. Nomes, rostos, fragmentos de conversas da noite fatídica. Ethan ouviu em silêncio, memorizando cada detalhe. Quando ela terminou, ele se levantou, deixando o uísque pela metade.

      “Te encontro amanhã. Fique fora de vista até lá. E, olha?”. Ele parou na porta, sem olhar para trás. “Não volte à mansão de Carlo. Ainda não”.

      Quando a porta do bar se fechou, Clara sentiu o peso do caderno em suas mãos. Ela não sabia se Ethan era um aliado ou uma armadilha. Mas, pela primeira vez desde a morte de Anais, sentiu que estava um o mais perto da verdade.

      Capítulo 6: Sussurros na Escuridão

      Roma, 15 de março de 2013. 02h14.

      A noite em Roma era um labirinto de sombras, e Ethan Cole se movia por ela como se fosse sua casa. Agachado no beco atrás da mansão de Carlo Casanova, ele ajustava um transmissor do tamanho de uma moeda, os dedos precisos, apesar do frio cortante. A mansão, agora silenciosa após a festa fatídica, parecia observá-lo com suas janelas escuras. Ethan não se importava. Já havia invadido lugares piores.

      O alvo era a linha telefônica principal, escondida em uma caixa de junção na parede externa. Com uma lanterna minúscula entre os dentes, ele conectou o dispositivo, garantindo que cada ligação de Carlo fosse captada e enviada para seu laptop. “Primeiro o,” murmurou, verificando o sinal. Carlo era a chave — o anfitrião carismático que sabia mais do que dizia. Ethan sentia isso nos ossos.

      Enquanto guardava as ferramentas, um carro ou lentamente na rua, os faróis varrendo o beco. Ethan se fundiu à parede, o coração firme. O carro seguiu, mas a sensação de ser observado permaneceu. Alguém estava acordado. E não era Carlo.

      09h36. Basílica de Santa Maria in Trastevere.

      Clara entrou na igreja com o caderno de Anais escondido na bolsa, o peso da descoberta da noite anterior ainda a sufocando. Após a conversa com Ethan, ela releu as anotações de Anais e encontrou uma linha quase ilegível: “Padre Matteo, Santa Maria, 10/03. Ele sabe do dinheiro”. A data era dois dias antes da festa. Padre Matteo, quem quer que fosse, era a próxima peça do quebra-cabeças.

      O interior da basílica era um mosaico de luz e silêncio, os vitrais jogando cores suaves sobre os bancos vazios. Clara caminhou até o confessionário, onde Anais mencionou um encontro. Não havia ninguém. Apenas o eco de seus próprios os e o cheiro de cera derretida das velas.

      “Posso ajudar?”. A voz veio de trás, grave e cautelosa. Clara virou-se e viu um homem idoso, não um padre, mas um sacristão, com olhos que pareciam pesar seus segredos. “Estou procurando o Padre Matteo,” disse ela, forçando um sorriso.

      O homem franziu a testa. “Padre Matteo não está aqui. Ele... saiu da cidade”. A hesitação na voz dele era um alarme. Clara insistiu, mencionando uma doação que Anais teria feito, um blefe para testar a reação. O sacristão desviou o olhar. “Não sei de nada. É melhor você ir”.

      Clara saiu, mas não antes de notar um jovem de terno escuro parado na praça, fingindo ler um jornal. Ele a seguia desde que deixou o bar na noite anterior. Ethan a alertara para ficar fora de vista, mas a igreja era um risco que ela precisava correr.

      14h22. Um apartamento em Campo de Fiori.

      Ethan abriu a porta do apartamento que usava como base, um espaço espartano com paredes descascadas e um laptop como único sinal de vida. Clara entrou, o rosto tenso. “Alguém me seguiu,” disse, sem preâmbulos. “Na igreja. E o Padre Matteo sumiu”.

      Ethan não pareceu surpreso. “Você foi descuidada. Mas isso confirma que estamos no caminho certo”. Ele ligou o laptop, mostrando uma gravação inicial da escuta no telefone de Carlo. Era uma conversa curta, Victor falando com um homem de voz rouca: “o conclave está próximo. Nada pode vazar. Entendeu?”. A outra voz, com sotaque italiano, respondeu: “E a garota? Ela sabia demais”.

      Clara sentiu um frio na espinha. “A garota... é Anais?”.

      “Provavelmente,” disse Ethan, digitando algo no laptop. “Carlo está no centro disso, mas não é o cérebro. Alguém maior está puxando as cordas. E esse Padre Matteo... vou verificar os registros. Se ele sumiu, não foi por acaso”.

      Clara abriu o caderno de Anais, mostrando a anotação sobre o dinheiro. “Anais estava atrás de um fluxo de dinheiro. Algo ligado ao Vaticano. Ela mencionou ‘desfalques’ e ‘um cardeal’”.

      Ethan parou, os olhos estreitando. “Vaticano, conclave, dinheiro sujo... isso é uma bomba. E se Anais descobriu, não foi só um cardeal que quis silenciá-la”. Ele se levantou, pegando o casaco. “Fique aqui. Vou checar a igreja. E Clara? Não saia. Não é um pedido”.

      Quando a porta se fechou, Clara olhou para o laptop, a gravação ainda pausada. A voz de Carlo ecoava em sua mente. Ela sabia que Ethan escondia algo, mas, por enquanto, ele era sua única chance de encontrar a verdade. Ou de cair em uma armadilha.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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