Extrema-direita alimenta racismo que atinge 84% da população preta no Brasil
Pesquisa do Ministério da Igualdade Racial escancara discriminação cotidiana e reforça urgência de políticas públicas antirracistas
A pesquisa apoiada pelo Ministério da Igualdade Racial revela, com números alarmantes, o que a população preta já conhece intimamente: a dor cotidiana da discriminação. De cada 100 pessoas pretas entrevistadas, 84 relataram ter sido alvo de racismo, segundo reportagem da Agência Brasil. Não se trata de casos isolados, mas de uma estrutura arraigada que se expressa em olhares, em atendimentos desiguais, em medo injustificado e em violência simbólica e real. Enfrentar esse sistema é um imperativo político diante do avanço da extrema-direita no Brasil.
O levantamento conduzido por Vital Strategies e Umane, com apoio técnico da Universidade Federal de Pelotas, joga luz sobre a desigualdade racial cotidiana em nosso país. Pessoas pretas são tratadas com menos gentileza (51,2%), menos respeito (49,5%) e recebem atendimento pior em estabelecimentos comerciais (57%). Mulheres pretas, em especial, estão no epicentro da violência: 72% relatam sofrer mais de um tipo de preconceito.
Esses números expõem a brutalidade do racismo estrutural que visa manter uma ordem social desigual — uma ordem que é incentivada e defendida por segmentos da extrema-direita brasileira. O discurso racista, muitas vezes naturalizado, é parte de um projeto político de exclusão. Um exemplo explícito foi dado por Jair Bolsonaro, que antes de ser eleito presidente comparou pessoas quilombolas a animais, medindo seus corpos em arrobas. Esse tipo de fala não é uma gafe ou um excesso retórico: é um aceno ideológico à lógica do supremacismo branco. Inepto, num país erguido sob a mestiçagem.
O racismo evidenciado pela pesquisa não é apenas uma mazela social, mas uma arma de dominação e controle. Combater o racismo, portanto, é também combater o projeto autoritário, colonial e reacionário que sustenta o discurso da extrema-direita. E trata-se, acima de tudo, de uma questão de sobrevivência física.
Não é à toa que os dados mais recentes do IBGE e do Atlas da Violência reforçam esse abismo: pessoas negras têm quase três vezes mais chances de serem assassinadas do que pessoas brancas, são maioria nas favelas, enfrentam maior desemprego e têm menos o a serviços básicos, inclusive na saúde. É nesse cenário que o racismo deixa de ser apenas uma experiência subjetiva para se configurar como fator determinante na expectativa e qualidade de vida da população preta.
Diante disso, qualquer proposta de país minimamente democrático precisa, obrigatoriamente, enfrentar o racismo como prioridade. É necessário que governos, empresas, escolas, veículos de comunicação e cidadãos se posicionem de forma clara contra essa estrutura de opressão. E além disso, que rejeitem o uso da discriminaçõa racial como bandeira política pela extrema-direita.
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