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      Joaquim de Carvalho

      Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]

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      Letalidade de facadas e o caso Bolsonaro: Entre fatos médicos e a hipótese de auto atentado não investigada

      Estudo realizado num hospital de trauma da Inglaterra mostrou que é baixíssima a possibilidade de alguém morrer por conta de facada única no abdômen

      Jair Bolsonaro e Adélio Bispo (Foto: Reprodução | Ricardo Moraes/Reuters)

      Não venham dizer que é teoria da conspiração, é de ciência que vou tratar neste artigo, ciência relacionada à internação de Jair Bolsonaro na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018.

      Desde que Bolsonaro e Adélio se encontraram no calçadão da rua Halfeld, esquina com a rua Batista de Oliveira, o então candidato já foi internado 13 vezes e ou por sete cirurgias oficialmente atribuídas às complicações decorrentes do episódio da facada.

      A mais recente dessas cirurgias ocorreu em abril de 2025, quando Bolsonaro foi submetido a um procedimento de 12 horas para tratar uma obstrução intestinal e, segundo os médicos do hospital DF Star, reconstruir a parede abdominal.

      Pelo número de cirurgias e tempo de internação, o caso de Jair Bolsonaro escapa da literatura médica construída a partir de estudos acadêmicos. O mais completo deles parece ser o do King’s College Hospital, em Londres.

      Cinco pesquisadores, todos com formação em medicina, realizaram um estudo observacional transversal com todos os pacientes atendidos com ferimentos por faca no pronto-socorro, em 2011.

      Foram 938 pacientes, entre 127.191 atendimentos. Nenhum paciente com ferimento abdominal morreu. Houve quatro falecimentos decorrentes de facada, e todas elas atingindo o coração.

      Segundo o estudo, quando a faca atingiu o abdômen, caso de Bolsonaro, as estruturas intra-abdominais mais comumente lesadas foram os intestinos delgado e grosso (35,4%) - caso do então candidato a presidente –, fígado (25,0%) e baço (8,3%).

      “Excluindo transferências para outros hospitais e auto alta, 25,7% dos pacientes foram formalmente internados. A maioria (70,5%) recebeu alta diretamente do departamento de emergência. O tempo médio de internação para os pacientes internados foi de 3,04 dias (variação: 1 a 48 dias). O tempo médio de internação após laparotomia foi de 9,0 dias. O tempo médio de internação para lesões abdominais com sinais radiológicos de ruptura do peritônio e que foram tratadas de forma não cirúrgica foi de 5,2 dias”, relataram os médicos.

      Ou seja, ainda que a faca atinja o abdômen, a internação ocorre no menor número dos casos. 

      O inquérito que apurou o caso de Juiz de Fora concluiu que houve facada, ainda que não tenha laudo oficial nesse sentido. O que existe no inquérito é um boletim da Santa Casa de Misericórdia. 

      O juiz Bruno Savino, na época titular da 3a. Vara Federal, também levou em consideração na sua sentença o depoimento de um médico que atendeu a Bolsonaro em Juiz de Fora.

      Levando em consideração esse estudo, considerar que Adélio agiu a mando de alguém para matar Bolsonaro só revela um plano com altíssima probabilidade de fracasso, uma estupidez, já que ele tinha 99% de chance de sobreviver.

      Se a ideia era matar Bolsonaro, como seus apoiadores dizem, o mínimo que se esperaria é que o agente utilizasse arma de fogo, e Adélio havia feito curso de tiro.

      Sobram duas hipóteses: Adélio agiu sozinho, por perturbação mental, e via em Bolsonaro um adversário e quis matá-lo com o que tinha ao alcance, uma faca. Mas aí é necessário perguntar: Adélio via Bolsonaro como adversário?

      Se analisarmos a rede social dele num espaço maior de tempo do que a Polícia Federal fez, se verá que Adélio tinha visão parecida com Bolsonaro em pelo menos dois pontos.

      Ele defendia que militares fossem responsáveis por centros de lazer e esportes, uma variante da escola cívico-militar, e também queria a redução da maioridade penal.

      Adélio atacou fortemente o senador Renan Calheiros, na época presidente do Senado, por não colocar em votação um projeto de lei aprovado na Câmara que tinha Bolsonaro entre seus autores. O projeto reduzia a maioridade penal de 18 para 16 anos.

      E a foto publicada no Jornal Nacional que mostra Adélio numa manifestação em Florianópolis pela saída de Temer, na época presidente? Se era da turma do Fora Temer, Adélio era de esquerda, concluíram os apoiadores de Bolsonaro.

      Adélio na manifestação com o militante de direita Luciano Mergulhador
      Adélio na manifestação com o militante de direita Luciano Mergulhador(Photo: Reprodução da rede social da Adélio Bispo de Oliveira)Reprodução da rede social da Adélio Bispo de Oliveira


      É outro fato que a imprensa em geral nunca verificou: o líder daquela manifestação era um militante de direita, amigo de Oswaldo Eustáquio e aliado de Eduardo Bolsonaro em algumas causas, como o impeachment de Dilma Rousseff. 

      O nome desse líder é Luciano Carvalho de Sá, hoje muito abalado com a repercussão do caso. Ele diz ter sido induzido num programa de Luís Ernesto Lacombe a afirmar que havia ouvido de Adélio a declaração que era ligado a Jean Wyllys, que era deputado pelo PSOL.

      Carvalho de Sá, conhecido como Luciano Mergulhador, foi processado por Jean Wyllys, e perdeu. E hoje critica duramente a família Bolsonaro, em seu círculo próximo. Luciano Mergulhador suspeita que Adélio tenha sido plantado naquela manifestação, para vinculá-lo ao caso.

      Luciano Mergulhador já me deu entrevista uma vez, mas deixou de falar publicamente sobre o caso. A manifestação pela renúncia de Temer naquela ocasião estava conectada a uma entrevista que Bolsonaro havia dado, por conta da greve dos caminhoneiros.

      Bolsonaro havia dito que o melhor para o Brasil era “Temer renunciar”. Luciano Mergulhador, então, fez um cartaz “Renuncia Temer”, e foi para frente da Catedral, em Florianópolis. Algumas pessoas o acompanharam e Adélio apareceu, para a foto.

      Nos bastidores, o que se comentava na época é que a greve dos caminhoneiros sepultou a ideia de Temer disputar a reeleição. Ainda que tivesse pequenas chances de êxito, Temer, se candidato, atrapalharia os planos de Bolsonaro de disputar a eleição como postulante da extrema direita.

      Três meses depois, Adélio estava em Juiz de Fora, cidade que não conhecia. Tentou estocar Bolsonaro duas vezes. Na primeira, apesar de agir ostensivamente, os seguranças não o detiveram. 

      Na segunda, as imagens mostram o ataque com um jornal, em que aparece algo brilhante quando ele afasta o braço. Adélio foi protegido pelos seguranças, diante do avanço de uma multidão enfurecida. Ele foi levado para o mezanino de um prédio em frente, e foi questionado sobre a razão do ataque.

      “Por que você fez isso?”, perguntou um homem. Adélio, ofegante, indaga: “Quem é você?” O homem responde: “Policial”. Adélio, então, afirma: “Porque mandaram”. O vídeo foi obtido pelo jornalista Thiago Parijiani, publicado em seu canal no YouTube.

      Trecho do vídeo aparece no documentário “Abin Paralela”, que realizei para o Brasil 247. Quem mandou Adélio atacar Bolsonaro? Como a arma escolhida oferecia remotíssima possibilidade de êxito no caso de ser um plano para eliminar o candidato, resta a hipótese de que a ideia foi provocar um ferimento e não matá-lo. 

      Quem ganharia com isso? O próprio Bolsonaro disse, em um churrasco posteriormente, que, se esfaqueasse o churrasqueiro, o elegeria “presidente da ONU” (sic). 

      Sua antiga aliada, Joyce Hasselmann, contou ter ouvido de Bolsonaro alguns dias antes do episódio de Juiz de Fora que, se ele levasse uma facada, seria eleito presidente.

      A hipótese de auto atentado, nunca investigada, foi considerada plausível por um delegado que atuou no caso. Porém, ele disse que não houve condições políticas para avançar nessa linha. A identidade desse policial será mantida em sigilo.

      Se foi auto atentado, estudos mostram a baixíssima letalidade no caso de facada - e esse estudo trata de facadas em geral, seja de uma só estocada ou de múltiplas. 

      No caso de Bolsonaro, foi única e com Adélio sem ponto de apoio firme para golpe mais profundo - para quem duvida, recomenda-se que se veja a imagem.

      Tendo esse estudo como base, Bolsonaro é um caso que merece ser analisado à luz de critérios médicos. O que se sabe com segurança é que ele tinha uma doença abdominal anterior a 6 de setembro de 2018.

      Sobre a hipótese do auto atentado, se fosse investigada, afastaria todas as suspeitas de armação. Para isso, estudos como o da Inglaterra devem ser levados em conta.

      Para ar o estudo da Inglaterra, clique aqui.


      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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