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      Ediel Ribeiro

      Jornalista, cartunista e escritor

      221 artigos

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      O centenário do genial Lan

      Homenagem ao caricaturista Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini, o Lan

      Cartunista Lanfranco Aldo (Foto: Reprodução)

      Rio - O cartunista Jaguar sempre itiu que não sabia fazer caricatura de pessoas. Quando tinha que fazer a caricatura do Carlos Lacerda, por exemplo, usava a idéia do Lan.

      Eu também comecei copiando o caricaturista. Minha primeira caricatura publicada, foi um Nelson Rodrigues, feito a partir de uma idéia do Lan.

      Em um dos encontros que tivemos - quando ele fez 80 anos -, na praia do Leme, disse ao mestre que minha primeira caricatura - do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues - publicada num jornalzinho do SESI, era uma cópia descarada do seu traço. Ele sorriu e disse: “Começou bem”.

      Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini (ufa!), ou simplesmente Lan, é um cartunista italiano, radicado no Rio de Janeiro, apaixonado pela cidade, pela Portela, pelo Flamengo - desde que viu Baltazar, o cabecinha de ouro, fazer um gol de placa - e, principalmente, pelas nossas mulatas.

      Em 1945, o caricaturista Lan - ele não gosta do anglicismo 'cartunista' - iniciou nos jornais “Mundo Uruguaio” e “El País” a carreira que o tornaria famoso internacionalmente.

      Otélo Caçador, num papo entre eu, ele e os também cartunistas, Jaguar, Ykenga, Ferreth e Leonardo, no bar Degrau, no Leblon, me disse que conheceu Lan em 1951, em Buenos Aires, onde ele trabalhava num jornal chamado “Notícias Gráficas”. Segundo Otélo, uma conversa entre os dois sobre o Rio, mulatas e carnaval fez o chargista decidir vir morar no Brasil, fixando-se na Cidade Maravilhosa.

      Lan nasceu no dia 18 de fevereiro de 1925, na Itália e veio para o Rio em 1952. No Rio, deslumbrou-se com a alegria do povo, com o carnaval e com as mulheres cariocas. Em especial, as mulatas.

      Logo que chegou, Samuel Wainer - que sabia tudo de jornalismo - dono do “Ùltima Hora” o convidou para trabalhar no jornal.

      No “Última Hora”, criou o desenho mais icônico de sua carreira: o corvo que simbolizava o jornalista Carlos Lacerda, desafeto de Samuel Wainer.

      “Pra mim, na verdade, é o pior desenho que já fiz na vida, por causa da pressa. O Samuel me pediu o desenho no fim do expediente. Já estava de saída da redação quando o Samuel me chamou, apontou para uma foto do Carlos Lacerda e disse: Eu quero uma charge sobre esse sacana.

      Fiz o corvo porque tinha pressa. Na verdade, eu queria fazer um urubu. Mas eu não sabia desenhar um urubu; tinha que ir ao arquivo para ver como era um urubu. Como eu tinha pressa, resolvi fazer o corvo" - disse.

      Foi assim que nasceu “o corvo”, epíteto que Lacerda carregaria por toda a vida.

      Depois do “Ùltima Hora”, o caricaturista ou pelo “O Globo” e depois pelo “Jornal do Brasil”, onde permaneceu por 33 anos.

      Lan, além de grande artista, era querido pelos jornalistas e intelectuais da época. Nos fins de tarde, frequentava o bar Villariño com Rubem Braga, Haroldo Costa, Paulo Mendes Campos, Otélo Caçador, Lúcio Rangel, Caymmi, Fernando Pamplona, Sérgio Porto, entre outros.

      Era um italiano com alma carioca. Certa vez, acompanhado de um jornalista do “Ùltima Hora”, subiu o morro do Salgueiro carregando um gravador que pesava quase 20 quilos para fazer uma matéria sobre o samba no morro. Foram recebidos pelo Casemiro Calça Larga, sambista famoso no morro, com um litro de Conhaque de Alcatrão São João da Barra, nas mãos. Quarenta graus, na sombra. Lan tomou um porre tão grande que quase não consegue descer o morro com o monstruoso gravador.

      Por causa da violência, abandonou o carnaval e a noite carioca: “A gente zanzava pelas ruas, até a madrugada, sem medo de assalto. Hoje não dá mais. Estamos confinados numa prisão domiciliar" - disse.

      Aos 94 anos, completados esse ano, Lan continua desenhando suas mulatas, mas já não faz mais charges políticas: “Se eu continuasse desenhando charges políticas, infelizmente me expulsariam do país. Nas charges, eu esculhambava os dois lados. Era um terrorista light!”

      Casado desde 1960 com a ex-ista da Portela, Olívia Marinho, hoje Lan a os dias no sítio, em Pedro do Rio, município de Petrópolis, onde ouve seus discos, bebe duas garrafas de vinho por dia e recebe a visita de amigos como Ziraldo, Jaguar e Ique.

      *Lan faleceu em 4 de novembro de 2020 aos 95 anos, em Pedro do Rio, Petrópolis, Rio de Janeiro.

      *Crônica publicada originalmente nos jornais O Dia e O Folha de Minas, em 2020.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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