O Lobo Bom e a poção mágica

A bruxa Magali, mais conhecida como a Bruxa Má, estava preparando suas poções mágicas naquela noite de lua cheia, sexta-feira, 13, o dia ideal para as bruxarias, na frente do caldeirão que estava fervendo.

“Um dente de javali podre, cinco unhas de gato esfolado, vinte bagaços de laranja mofada, um pé de porco trincado, um olho de piranha, uma carcaça de lagartixa… pronto! Agora é só mexer!”

Quando as duas beberagens ficaram prontas, ela foi apanhar a sua vassoura para entregar as encomendas.

Mas não gostou do que viu na garagem.

A primeira vassoura estava com os pneus murchos!

Ela tentou voar na segunda, mas nada do motor pegar. A bateria estava “arriada”!

A terceira vassoura estava sem gasolina.

Que azar! 

Ela estava com pressa porque já estava chegando a meia-noite, hora de tomar as poções e ela não tinha como levá-las à pessoa que encomendou. E pagou muito caro por elas.

Então ela ficou na porta de casa para ver se ava alguém para levar as poções para ela. Avistou um lobo do outro lado da rua e o chamou:

“Oi, você pode vir aqui por gentileza? Preciso de ajuda”.

O lobo não se fez de rogado. E se aproximou da bruxa.

E ela disse para ele:

“Eu preciso entregar duas poções mágicas no castelo da rainha. Mas as minhas três vassouras estão pifadas. Você poderia levá-las para mim?”

Ela chamou o lobo para dentro de casa e mostrou as duas poções. 

“Esta aqui é para a rainha, para ela ficar jovem e bonita. A outra é para o príncipe virar sapo!”

E ainda disse:

“Nós, os maus, temos que nos ajudar, não é mesmo? Eu sou a bruxa má, você é o lobo mau e a rainha é a rainha má! Ela não quer que o príncipe case com a filha dela! Por isso quer fazer essa maldade com ele”.

“Tudo bem”, disse o lobo, “eu levo as poções”.

“Espere aí. Agora estou vendo que você não é um lobo cinzento, como todos os outros, você é um lobo marrom! Posso fazer uma poção para você ficar cinzento como os outros!”.

“Não, obrigado”, disse ele, “prefiro ser assim”.

A rainha já estava nervosa quando finalmente o seu mordomo entregou as duas poções, trazidas pelo Marrom, um pouco antes do casamento do príncipe com a sua filha. 

Que bela peça ia pregar nele! Não via a hora de vê-lo virar sapo!

Colocou as duas poções nas taças e muito alegre (raramente as rainhas más ficam alegres) foi oferecer ao príncipe, na frente de todos os convidados.

Sem desconfiar de nada, o príncipe tomou a taça oferecida pela rainha e ela tomou a outra.

E… abracadabra! No mesmo instante ela virou um sapo!

E o príncipe ficou mais bonito do que já era!

“Prendam imediatamente aquela bruxa!”, ordenou a rainha, agora sapo, aos guardas.

E em poucos minutos a bruxa Magali foi presa e jogada no calabouço.

Bem que a rainha tentou desfazer o feitiço consultando as bruxas mais renomadas, mas nunca mais deixou de ser sapo. 

E os súditos não queriam ter um sapo como rainha.

Expulsa do palácio, ela foi morar numa lagoa.

E a sua filha virou rainha. 

E o príncipe virou rei.

Ela gostava de contar a sua história a quem sentava à beira da lagoa. Um dia puxou conversa com Marrom que eava por ali.

“Você pode não acreditar, mas um dia eu já fui rainha!”.

“Ah, então é você!”.

“Você me conhece?”.

“Você virou sapo porque eu troquei as poções mágicas da bruxa Má. A que era para você foi para o príncipe e a que era para o príncipe foi para você. Eu troquei as etiquetas! A bruxa não sabia que eu era o lobo bom e não o lobo mau!”.

“Então nós acabamos porque você nos enganou”.

“Não. Vocês acabaram porque eram más. E o Mal nunca vai vencer o Bem. Se vocês fossem boas, nada disso teria acontecido. E você seria rainha para sempre. Está vendo agora que é melhor ser bom do que mau?”. 

A rainha ficou morando na lagoa para sempre.

A bruxa nunca mais fez poções. 

E Marrom seguiu em frente, sempre ajudando os bons e atrapalhando os maus.

Moral da história: com feitiço, rainha pode virar sapo; mas sapo não vira rainha nem com feitiço

FIM