O momento em que a Terra mudou
A IA engatinha, mas já cria, planeja e ameaça. De jogadas geniais a riscos globais, a humanidade molda o futuro
A IA engatinha, mas já cria, planeja e ameaça. De jogadas geniais a riscos globais, a humanidade molda o futuro de uma tecnologia que pode ser esperança ou destruição. Vemos a olho nu o despertar da criatividade das máquinas.
Em 2016, um evento quase imperceptível mudou o curso da história. Durante partidas de Go, o sistema AlphaGo, da DeepMind, inventou um movimento inédito em 2.500 anos de jogo. Aquela jogada não foi só uma vitória técnica. Revelou o potencial criativo das máquinas, marcando o início de uma revolução.
Projetado para manter mais de 50% de chance de vitória, o AlphaGo calculou uma estratégia que desafiou mestres brilhantes. Como uma máquina concebeu algo que bilhões de jogadores humanos nunca imaginaram? O aprendizado por reforço permitiu explorar e inovar. A questão se tornou filosófica: até onde a inteligência não humana pode ir?
Aquele marco, há quase uma década, inspirou obras como "The Coming Wave", de Mustafa Suleyman, e "Genius Makers", de Cade Metz, que, influenciados por Eric Schmidt, exploram o alcance da IA. Hoje, a inteligência artificial domina debates, mas seu alcance é subestimado. Enquanto o ChatGPT impressionou em 2022 com sua fluência verbal, a IA já planeja estratégias e processos complexos, indo além da linguagem.
Minha trajetória com a IA começou em novembro de 2022, como professor universitário já por longos anos. Desde então, ela é um eixo das minhas reflexões acadêmicas. ados mais de 50 meses, a tecnologia superou em dobro minhas expectativas mais ousadas. Novas plataformas surgem mensalmente, renovando medicina, educação e a vida cotidiana. Como Raul Seixas brincou: "Baby, a gente ainda nem começou". A IA apenas engatinha.
Os limites do futuro - A IA enfrenta barreiras significativas. A energia é um obstáculo crítico. Alimentar data centers exige o equivalente a 90 usinas nucleares, meta inalcançável com zero usinas em construção nos EUA. Energia hidrelétrica do Canadá é uma possibilidade, mas esbarra em questões políticas. Índia e nações árabes planejam data centers massivos, mas a escala global assusta.
A escassez de dados é outro desafio. A IA consumiu todos os tokens da internet pública, exigindo dados sintéticos. Além disso, qual é o limite do conhecimento? Descobertas científicas surgem de conexões inesperadas, algo que máquinas ainda não dominam. Superar isso demandará mais recursos e abrirá novas fronteiras.
A chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1969, foi um marco histórico. A IA, hoje, é um feito comparável, a ser celebrado por gerações. Diferente de Neil Armstrong, que deu um o e falou de um "grande salto para a humanidade", os projetos de IA são uma caminhada pela Grande Muralha da China. Cada o amplia horizontes, mas exige reflexão.
Os que largaram na frente - O ChatGPT, da OpenAI, domina com 77,6% do tráfego de chatbots em maio de 2025, alcançando 2 bilhões de usuários globais. Seu treinamento custou US$ 100 milhões. Curiosidade: está integrado ao Bing e ao Office Copilot, infiltrando-se no cotidiano.
DeepSeek, com 7,6% de participação e 200 milhões de usuários, foi treinado por apenas US$ 6 milhões. Em janeiro de 2025, superou o ChatGPT como o app mais baixado nos EUA. Gemini, da Google, tem 5,5% do mercado e 150 milhões de usuários, com custos na casa dos bilhões. Integra-se ao Google Workspace, escrevendo e-mails e analisando planilhas.
Grok, da xAI, com 3,2% e 80 milhões de usuários, é conhecido por respostas irreverentes e integração com o X. Perplexity, com 1,9% e 50 milhões de usuários, destaca-se como motor de busca com fontes em tempo real. Claude, da Anthropic, cresce 6% por trimestre, com 40 milhões de usuários, sendo preferido por sua ética.
Os riscos e a responsabilidade humana - A autonomia da IA gera debates éticos. Sistemas agênticos — programas capazes de tomar decisões e agir de forma independente, como executar tarefas ou gerenciar processos sem intervenção humana — são a próxima fronteira, mas também um risco. Eric Schmidt, ex-CEO do Google e influente pensador da tecnologia, defende barreiras de segurança, como sistemas observáveis e a opção de "desconectar" máquinas, já que pausar o desenvolvimento é inviável em um mercado global competitivo.
A dualidade da IA — civil e militar — preocupa. A tensão entre EUA e China, com tarifas e restrições de chips, é um xadrez tecnológico. Os EUA focam em modelos fechados; a China, em código aberto, acelerando a proliferação global. Isso pode levar a sabotagens ou conflitos, caso uma nação alcance a superinteligência primeiro.
O Brasil — e vários outros países — precisam agir com urgência no desenvolvimento de IA. Sem investimentos robustos em pesquisa e infraestrutura, o país corre o risco de deixar o futuro ar. Alcançar o estado da arte nessa área instigante e desafiadora será quase impossível se ficarmos para trás na corrida global.
Nenhuma invenção carrega um destino destrutivo intrínseco. A dinamite, criada há um século para abrir túneis, virou arma de guerra em duas décadas, quintuplicando vítimas. A IA será definida por quem a usa. Vemos flores agora; os espinhos virão se permitirmos usos militares devastadores. A humanidade tem tempo para refletir enquanto a IA engatinha.
O futuro em construção - O futuro da IA é promissor, mas exige cautela. Ela pode erradicar doenças, personalizar educação e renovar a saúde global. Schmidt chama isso de maratona, não de sprint. Todos — artistas, médicos, empresários — devem adotar a tecnologia para se manter relevantes. A superinteligência, talvez o maior evento em séculos, está ao alcance.
A IA é um rio jovem, esculpindo seu leito na rocha da história. Suas águas podem irrigar campos de esperança ou inundar vilarejos de imprudência. Cabe à humanidade guiar seu curso, segurando as rédeas enquanto o horizonte se ilumina com promessas e desafios. Que sejamos timoneiros sábios, navegando para um futuro onde a máquina amplifique o melhor de nós.
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