Trump e Melania endossam imagem de IA como Papa, tirando sarro de 1,4 bilhão de católicos
Cabe à sociedade exigir regras que contenham tecnologias manipuladoras e líderes egocêntricos, antes que a verdade se perca de vez
Quase uma semana depois,, o silêncio de Donald Trump sobre a polêmica imagem gerada por inteligência artificial que o retrata como papa revela mais do que uma simples omissão: é um sintoma de seu narcisismo desenfreado. Publicada em 2 de maio na Truth Social e republicada pelas contas oficiais da Casa Branca, a imagem não foi seguida de retratações, mesmo após Trump minimizá-la como “brincadeira” em 5 de maio. Enquanto o Vaticano conduz o conclave para eleger o sucessor do Papa Francisco, falecido em 21 de abril, a falta de responsabilidade de Trump e sua insistência em brincar com símbolos sagrados expõem um líder preso à própria vaidade, ameaçando a confiança pública em tempos de luto global.
A imagem de Trump em trajes papais — batina branca, mitra e crucifixo dourado — viralizou na Truth Social, com 1,2 milhão de interações, 65% delas negativas, marcadas por termos como “blasfêmia”. Pior, Trump revelou em 5 de maio que Melania achou a imagem “fofa”, uma declaração que trivializa a dor de 1,4 bilhão de católicos e amplifica a insensibilidade do casal. Republicada no X pela Casa Branca, a postagem atingiu 2,5 milhões de visualizações, com 58% de reações contrárias. Em pleno luto pelo Papa Francisco, o uso de IA para autopromoção não é apenas de mau gosto: é um alerta sobre os perigos de líderes que manipulam tecnologias para inflar seus egos.
Um Papa Improvável, Uma Provocação Real
Dias antes, em 29 de abril, Trump declarou: “Gostaria de ser papa. Essa seria minha escolha número um”. A bravata, feita durante o luto oficial, chocou pela ousadia. Sua tentativa de minimizar a polêmica, alegando que “alguém” criou a imagem por “diversão”, soa como desdém.
A Casa Branca, ao endossar a postagem, transformou uma piada pessoal em um ato oficial. A falta de transparência sobre quem autorizou a republicação sugere negligência — ou pior, cumplicidade. Trump ainda afirmou, sem provas, que “católicos adoraram” a imagem, uma fantasia que ignora a revolta da comunidade religiosa.
A reação foi imediata. Um bispo de Nova York classificou a imagem como “de mau gosto” e a justificativa de Trump como “insuficiente”. A Conferência Católica do estado de Nova York condenou: “Não há nada engraçado nisso, Sr. Presidente”. Líderes democratas, como Chris Murphy, alertaram no X: “Usar IA para ridicularizar instituições religiosas é perigoso”.
Alexandria Ocasio-Cortez chamou a ação de “insulto aos católicos”, enquanto Gavin Newsom pediu regulamentação urgente da IA. Até Matteo Renzi, ex-premiê italiano, acusou Trump de agir como “palhaço”. A ausência de comentário do Vaticano, com Matteo Bruni em silêncio, reflete um constrangimento diplomático diante de tamanha provocação.
Divisão Republicana e o Peso do Ego
Entre republicanos, as reações variaram. JD Vance, católico, defendeu: “É uma piada inofensiva”. Lindsey Graham ironizou no X: “Peço ao conclave que mantenha a mente aberta!”. Mas Michael Steele, ex-líder do RNC, foi incisivo: “Isso prova quão incapaz Trump é”.
A imagem no Instagram da Casa Branca teve 100.000 curtidas, mas comentários como “desrespeito à Igreja” predominaram. A falta de esclarecimentos oficiais reforça a percepção de um governo que normaliza a manipulação visual, usando canais públicos para alimentar a vaidade de Trump.
A IA como Espelho do Narcisismo
Antes da polêmica, Trump tentou cortejar católicos. Em 21 de abril, decretou bandeiras a meio mastro e publicou condolências na Truth Social. Ele também elogiou o cardeal Timothy Dolan como possível papa, uma jogada vista como oportunismo.
Esses gestos, porém, desmoronam diante da imagem de IA. Publicada após o funeral do Papa Francisco, ao qual Trump compareceu, a postagem revela um padrão: o uso de símbolos religiosos para autopromoção. A contradição entre luto e provocação é a marca de um líder que prioriza o espetáculo.
Psicanalistas, em análise ao Time, apontam um “superego frágil” em Trump, incapaz de respeitar normas éticas. A imagem, projetando-o como figura divina, é um grito por validação. A IA amplifica esse narcisismo, criando narrativas hiper-realistas que borram a linha entre verdade e ficção.
A imprensa reagiu com força. A Associated Press destacou o desrespeito aos católicos, enquanto o La Repubblica acusou Trump de “megalomania patológica”. O Fox News alertou: 60% dos americanos temem manipulação eleitoral por deepfakes. A sociedade assiste a um líder que, preso ao próprio ego, usa a tecnologia para se colocar acima de todos.
Um Perigo Além da Ofensa
A polarização explodiu. Grupos como “Republicanos Contra Trump” chamaram a imagem de “insulto”, enquanto apoiadores a defenderam como “sátira brilhante”. Memes, como “fumaça laranja” no Vaticano, mostram a divisão cultural americana, onde humor e ofensa se misturam.
O cerne, porém, é a ética da IA. Estudos apontam que 70% dos usuários não identificam deepfakes, e a Casa Branca, ao endossar a imagem, legitima a desinformação. A Reuters pergunta: “Como distinguir realidade de ficção quando o governo apoia deepfakes?”. Sem regulamentação, a Brookings Institution prevê que deepfakes influenciarão 30% das decisões eleitorais até 2030.
Trump, com Melania ao seu lado, transformou uma crise de luto em um circo de vaidade. A imagem de IA não é apenas uma ofensa aos católicos: é um ataque à confiança pública. Cabe à sociedade exigir regras que contenham tecnologias manipuladoras e líderes egocêntricos, antes que a verdade se perca de vez.
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