Acusado de ser mentor de roubo milionário de relógios, Ceotto tem laços com bolsonarismo e já foi genro de Eduardo Cunha

247 - Reportagem publicada originalmente pela revista Veja revela que Alexandre Ceotto André, de 50 anos, apontado pela Polícia Civil como mentor de um roubo de dez relógios de luxo ocorrido em fevereiro, em Niterói (RJ), é figura conhecida nos bastidores da política fluminense. Com trajetória entre partidos da ultradireita, Ceotto é ex-genro do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (Republicanos-RJ), aliado de nomes centrais do bolsonarismo no estado e presidente do diretório municipal do PTB, legenda comandada nacionalmente por Roberto Jefferson.

A Justiça decretou sua prisão na terça-feira (13), após a deflagração da operação “Manto de Engano”, que prendeu o advogado criminalista Luís Maurício Martins Gualda, autor do assalto ocorrido em um apart-hotel de alto padrão no bairro Gragoatá. Gualda afirmou à polícia que Ceotto foi o idealizador e mandante do crime.

Roubo cinematográfico e evidências contra Ceotto

O crime ocorreu no Hotel Orizzonte by Atlântica, onde Gualda invadiu um dos apartamentos usando um disfarce digno de filmes de espionagem. Imagens de câmeras de segurança mostram o advogado chegando de táxi, vestido de terno, com luvas e uma máscara de silicone hiper-realista. Ele permaneceu no local por apenas 16 minutos, deixou o prédio e caminhou até seu carro, estacionado nas proximidades.

No dia 6 de maio, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Gualda. No dia seguinte, ele se entregou e confessou a autoria do roubo, responsabilizando Ceotto como o mentor intelectual da ação. Com base nas provas apresentadas e no depoimento do advogado, a Justiça autorizou a prisão do dirigente partidário.

Perfil político: de Crivella ao clã Bolsonaro

Candidato a vice-prefeito de Niterói em 2020, Alexandre Ceotto transitou por diversas figuras influentes da política conservadora do Rio. Além da ligação familiar com Eduardo Cunha, ele atuou próximo a Marcelo Crivella, ex-prefeito da capital fluminense, antes de se aproximar do núcleo duro do bolsonarismo local. Foi apoiado por Rodrigo Amorim (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL), deputado federal e atual vice-líder da oposição ao governo Lula na Câmara.

Com a eleição de Wilson Witzel para o governo do Rio em 2019, Ceotto foi nomeado para um cargo de segundo escalão na Secretaria de Planejamento e Gestão. Segundo seu perfil no LinkedIn, ainda atua como diretor de desenvolvimento no governo de Cláudio Castro (PL).

Ativismo digital e posse com provocação

Nas redes sociais, o ex-genro de Cunha demonstra alinhamento ao discurso extremista bolsonarista. É crítico feroz de Lula, faz constantes publicações sobre suposta corrupção da esquerda e exaltava Jair Bolsonaro mesmo após o fim de seu mandato presidencial.

Em 2022, Ceotto assumiu a presidência municipal do PTB em Niterói. A cerimônia contou com a presença de Rodrigo Amorim, conhecido por destruir uma placa com o nome de Marielle Franco. Na ocasião, Amorim chegou a declarar que pretendia "quebrar outra placa", desta vez com frases contra o comunismo.

Relatos também indicam que Ceotto trabalhou como assessor parlamentar de Rogério Amorim (PL), vereador em Niterói e irmão de Rodrigo.