Ineep critica política de dividendos da Petrobras e alerta para risco à soberania energética
Instituto afirma que modelo adotado desde 2019 prioriza retorno imediato a acionistas e compromete investimentos estratégicos da estatal
247 - Um boletim divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) nesta semana faz duras críticas à política de remuneração de acionistas adotada pela Petrobras desde 2019. Segundo o documento, a estatal consolidou um modelo “predatório”, voltado ao retorno financeiro de curto prazo para investidores — especialmente estrangeiros — em detrimento de investimentos estratégicos que garantiriam a sustentabilidade da empresa e a segurança energética do país no longo prazo.
“É urgente sair da armadilha do curto prazo!”, alerta o boletim, que aponta a distribuição recorde de dividendos mesmo em cenário de queda significativa no lucro da companhia. Em 2024, a Petrobras registrou um lucro líquido de R$ 36,6 bilhões — uma queda de 70,6% em relação ao ano anterior —, mas distribuiu R$ 75,8 bilhões em dividendos, valor que representa a quarta maior distribuição da história da estatal. Pela primeira vez, o montante reado aos acionistas superou em mais de duas vezes o lucro obtido no ano, com uma relação de 207,1%.
O Ineep destaca que apenas 36,6% desse valor foram destinados ao grupo de controle da companhia, composto pela União e pelo BNDES. Os 63,4% restantes foram distribuídos a investidores privados — 47,3% a estrangeiros e 15,2% a brasileiros. “A Petrobras se tornou uma das maiores pagadoras de dividendos do mundo, mas à custa da sua capacidade de investimento”, afirma o boletim.
Entre 2019 e 2024, a Petrobras distribuiu R$ 502,9 bilhões em dividendos — o equivalente a 99,9% de todo o lucro líquido acumulado no período (R$ 503,4 bilhões). Para efeito de comparação, entre 2003 e 2018, a estatal pagou R$ 90 bilhões em dividendos. O Ineep afirma que esse salto ocorreu em paralelo a uma sistemática redução dos investimentos da companhia em áreas estratégicas, como infraestrutura, refino e energias renováveis.
A crítica do instituto se estende à flexibilização das regras internas da companhia, que atualmente permitem o pagamento de dividendos mesmo em cenários de prejuízo. Para o Ineep, essa política limita a capacidade da Petrobras de responder com agilidade aos desafios da crise climática e de se posicionar na transição energética global.
“O compromisso com a geração de megadividendos compromete o papel estratégico da Petrobras no desenvolvimento nacional”, conclui o boletim. O instituto defende uma mudança de rumo, com a retomada de investimentos de longo prazo e uma gestão voltada ao interesse público, e não apenas à lógica do mercado financeiro.
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