Tabet, criador do Porta dos Fundos, critica a cultura do cancelamento
Na sua visão, essa cultura serve a propósitos políticos condenáveis e tem sido instrumentalizada por grupos de interesse
247 – O humorista, roteirista e empresário Antonio Tabet, um dos fundadores do Porta dos Fundos, criticou o uso político da cultura do cancelamento e alertou para os riscos que isso representa à liberdade de expressão. Em entrevista publicada originalmente pela Folha de S.Paulo, Tabet afirmou que essa prática tem sido instrumentalizada por grupos de diferentes espectros ideológicos para silenciar adversários. “Essa patrulha virou uma arma política tanto da esquerda quanto da direita. A cultura do cancelamento tem um viés autoritário”, disse.
O comediante destacou que o ambiente polarizado no Brasil extrapolou o campo político e chegou ao humor, afetando a forma como piadas e críticas sociais são recebidas. "Nos últimos dez anos, criou-se a pecha do humor de esquerda e humor de direita. Isso, na verdade, não funciona na minha cabeça. Humor é oposição a tudo que é autoridade, desde um político poderoso da direita a um político poderoso da esquerda", afirmou.
Peçanha e a sátira social
No espetáculo Protocolo de Segurança, Tabet encarna Peçanha, um policial corrupto, preconceituoso e sem escrúpulos. O personagem, que já era conhecido no Porta dos Fundos, satiriza comportamentos enraizados na sociedade brasileira, como racismo, machismo e abuso de autoridade. A peça já foi vista por mais de 20 mil pessoas e entrará em turnê nacional a partir de abril.
Para Tabet, o humor tem um papel essencial ao provocar reflexões e desafiar convenções. “O humor é uma maneira de informar e conscientizar. Mas, para isso, precisa cutucar e botar o dedo na ferida”, explicou. Segundo ele, a censura promovida pela cultura do cancelamento impede que problemas sociais sejam discutidos de forma franca e aberta. "Tenho muitas críticas a pessoas que querem abafar qualquer tipo de discussão. A gente precisa jogar luz inclusive sobre os nossos problemas."
TV e o medo das redes sociais
Sobre o impacto das redes sociais no cenário artístico, Tabet apontou que muitas emissoras aram a evitar conteúdos considerados polêmicos, com receio de retaliações virtuais. Mesmo assim, ele acredita que personagens como Peçanha ainda teriam espaço na televisão. "A impressão é que as pessoas se pautam demais pelas discussões dos 'trending topics' das redes sociais, o que foi podando o humor", avaliou.
Ele também criticou a velocidade com que figuras públicas são julgadas e condenadas sem chance de defesa. "Com as redes sociais, as pessoas já são julgadas e condenadas sem direito à defesa. E acho também que essa patrulha virou uma arma política tanto da esquerda quanto da direita", afirmou.
Experiência no Flamengo e fama tardia
Fora do humor, Tabet também teve uma agem pelo Flamengo, onde atuou como vice-presidente de comunicação entre 2015 e 2018. Ele considera essa experiência um grande aprendizado, mas ite que enfrentou dificuldades. "Era um clube descredibilizado e endividado. Quando saímos, o Flamengo estava com as contas em dia. Mas foi o trabalho mais difícil da minha vida", revelou.
Já sobre a fama, ele considera que o fato de ter se tornado conhecido apenas após os 30 anos foi positivo. "Eu não me deslumbrei, não gastei mais do que eu deveria e sempre tive o pé muito no chão", disse. Aos 50, ele afirma estar no auge da sua energia: "Os 50 são os novos 20, porque estou feliz e cheio de energia com tudo o que está acontecendo".
Apesar do clima de censura e patrulhamento, Antonio Tabet reafirma a importância do humor como ferramenta de resistência e crítica social. “Humor pode se opor também à violência que oprime, a um chefe que oprime ou ao poder financeiro que oprime. Quando você faz humor dessas situações opressoras, normalmente funciona, porque o humor é isso. É uma grande força contrária", concluiu.
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