Ata do Copom cita Selic "significativamente contracionista por período prolongado"
Banco Central prevê desaceleração da economia nos próximos meses, mas projeta alta na renda disponível com novo crédito consignado
247 - O Banco Central reconheceu, em ata divulgada nesta terça-feira (13), que o novo modelo de crédito consignado voltado a trabalhadores do setor privado já provoca efeitos positivos sobre o crescimento econômico do país. Lançada em março pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a reformulação da linha de crédito foi mencionada como fator incorporado às projeções do Comitê de Política Monetária (Copom), relata o jornal O Globo.
De acordo com o documento, o comitê identificou que o maior benefício da medida ocorre na elevação da renda disponível da população, a partir da substituição de dívidas mais onerosas por empréstimos com juros mais baixos. “O Comitê incorporou em seu cenário-base algum impacto das alterações no consignado privado sobre o crescimento, mas majoritariamente por meio de uma elevação de renda disponível a partir da troca de dívidas, o que tem efeito mais comedido sobre a projeção agregada”, pontuou o BC.
Desde seu lançamento, o volume de concessões do novo consignado ultraou R$ 10 bilhões em pouco mais de um mês, surpreendendo tanto o mercado quanto o próprio governo.
Medida estrutural, não cíclica - Apesar da percepção favorável, o Banco Central ressaltou que os efeitos do programa ainda estão em fase inicial e cercados de incertezas. Por isso, o Copom continuará monitorando seus impactos no crédito e na atividade econômica. O colegiado também fez questão de frisar que a novidade não deve ser entendida como um estímulo de curto prazo, mas sim como uma mudança estrutural no mercado de crédito brasileiro.
Setores do mercado demonstraram preocupação com o momento de implementação da medida, já que o crescimento do volume de crédito pode reforçar a atividade econômica, em um contexto em que o BC busca justamente reduzir seu dinamismo para garantir a convergência da inflação à meta de 3%.
Política fiscal em destaque - A ata também trouxe um trecho específico sobre a condução fiscal do governo, apontando que a política adotada nos últimos anos representou um “estímulo significativo” à atividade. Segundo o texto, “uma política fiscal que contribua para a redução do prêmio de risco e atue de forma contracíclica contribui para a convergência da inflação à meta”. O Banco Central reforçou ainda que a harmonia entre política fiscal e monetária segue sendo fundamental.
Desaceleração da economia e juros altos - O Copom demonstrou maior confiança na previsão de desaceleração da economia brasileira ao longo dos próximos trimestres. De acordo com a ata, os sinais de moderação no crescimento já começam a ser percebidos e são “necessários” para que a inflação recue ao nível de 3%, conforme o objetivo do Banco Central.
“A conjuntura de atividade segue marcada por sinais mistos com relação à desaceleração de atividade, mas observa-se uma incipiente moderação de crescimento”, avaliou o comitê.
Os efeitos da política monetária, segundo o documento, já se fazem presentes em áreas como crédito, mercado de trabalho, câmbio e expectativas empresariais. A Selic, que foi elevada na última reunião em 0,50 ponto percentual, atingindo 14,75% ao ano — o maior patamar desde 2006 — deve permanecer em nível “significativamente contracionista por período prolongado”.
Incertezas externas e o “tarifaço” de Trump - No balanço de riscos para a inflação, o Copom incluiu um novo fator de viés de baixa: a possível redução nos preços das commodities. Esse cenário, no entanto, está atrelado a um ambiente externo descrito como “particularmente incerto”.
O comitê destacou os impactos da política comercial dos Estados Unidos, referindo-se às medidas protecionistas do presidente Donald Trump, como um fator de instabilidade global. “A política comercial alimenta incertezas sobre a economia global, notadamente acerca da magnitude da desaceleração econômica e sobre o efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países”, afirmou a ata.
Além disso, o BC destacou que a volatilidade de ativos financeiros e o aumento das tensões geopolíticas ampliam os desafios para países emergentes como o Brasil, exigindo maior prudência na condução da política econômica.
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