Brasil precisa de mais do que isenção fiscal para se tornar potência digital, diz especialista em data centers
Mehdi Paryavi, presidente da IDCA, defende políticas amplas para atrair investimentos no setor e critica a falta de previsibilidade nas propostas fiscais
247 - A isenção de impostos para a compra de equipamentos de computação usados em data centers, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última segunda-feira (5), não é suficiente para atrair investimentos substanciais das empresas de tecnologia, afirmou Mehdi Paryavi, presidente da IDCA (Autoridade Internacional de Data Centers), em entrevista à Folha de S. Paulo.
Para Paryavi, o Brasil precisa mais do que uma medida pontual para se tornar um polo global de data centers. O executivo destaca que o país deve criar uma imagem sólida como "potência digital", com políticas claras de fomento a investimentos, um portfólio transparente dos recursos energéticos disponíveis e um arcabouço legal flexível e seguro para os negócios digitais.
Paryavi critica, por exemplo, trechos do projeto de lei de regulação de inteligência artificial (IA), que exigem remuneração pelo uso de dados protegidos por direitos autorais no desenvolvimento de modelos de linguagem. Segundo ele, para as grandes empresas de tecnologia, chamadas de "hyperscalers", a previsibilidade e segurança jurídica são mais importantes do que incentivos financeiros isolados.
A IDCA, que reúne empresas como Google, Amazon, Microsoft e Roblox, afirma que o Brasil está concorrendo com outros países, como Índia, Tailândia e Emirados Árabes Unidos, que também tentam se posicionar no mercado de data centers, com a promessa de eletricidade barata e infraestrutura robusta. Para Paryavi, a Índia se destaca na corrida, com uma política governamental voltada para a inteligência artificial, que inclui investimentos de US$ 1,1 bilhão em infraestrutura e desenvolvimento de tecnologia própria.
O governo brasileiro, por sua vez, trabalha em uma medida tributária com o objetivo de desonerar as empresas de data centers e incentivar o desenvolvimento da cadeia produtiva no país. O Ministério da Fazenda estima que essa política pode atrair até R$ 2 trilhões em investimentos nos próximos dez anos, o que, segundo as empresas brasileiras de data centers, resultaria em uma expansão de 8 gigawatts na capacidade instalada do Brasil — atualmente em cerca de 1 gigawatt.
Atualmente, cerca de 40% dos aplicativos e recursos digitais brasileiros dependem de data centers no exterior, seja pela falta de infraestrutura em regiões mais afastadas ou pelos preços mais baixos em países como os Estados Unidos. Paryavi explica que, se o Brasil conseguir oferecer uma infraestrutura mais barata, as empresas de tecnologia migrariam seus processos para o país: "Se eu puder fabricar ou processar dados em um data center no Brasil, com um custo menor do que posso produzir no Texas, faz sentido mover a operação para cá."
Apesar das vantagens tributárias, que podem reduzir o custo, Paryavi alerta que o Brasil ainda está atrás de potências como os Estados Unidos, que concentram cerca de 60% do consumo mundial de eletricidade com processamento de dados, conforme dados da Agência Internacional de Energia (IEA). O país também compete com outros mercados que oferecem grandes volumes de eletricidade barata, mas carecem da infraestrutura necessária para se tornar um hub global.
Para o executivo, o tempo é curto e a janela de oportunidade para o Brasil se posicionar como líder no setor de data centers é limitada. "Há uma janela de oportunidade crucial nos próximos 18 meses para atrair investimentos. Perder essa janela significa perder vantagens econômicas", conclui Paryavi.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: