"Comércio, deve ser ganha-ganha, e não olho por olho", diz Alckmin sobre guerra tarifária de Trump
Vice-presidente diz que projeto de Lei da Reciprocidade, aprovado pelo Senado nesta terça-feira, é “positivo”, mas ressalta necessidade de diálogo
247 - Ao comentar nesta terça-feira (1) as ameaças de Donald Trump de anunciar novas tarifas contra países parceiros, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, afirmou que o Brasil não representa obstáculo para os interesses comerciais dos Estados Unidos. Segundo Alckmin, o país mantém um superávit de US$ 25 bilhões na balança comercial bilateral, tanto em bens quanto em serviços.
Segundo ele, entre os dez principais produtos que os EUA exportam para o Brasil, oito são isentos de tarifas por meio do regime de ex-tarifários. “É zero, não tem imposto de importação”, afirmou Alckmin durante evento no Riocentro, no Rio de Janeiro, de acordo com O Globo. Ele ainda mencionou que a tarifa média final brasileira sobre produtos e serviços americanos é de apenas 2,7%.
“Então, o Brasil não é problema para os Estados Unidos. As medidas que foram anunciadas de aumento de 25% nas tarifas do aço e do alumínio não foram contra o Brasil. Foi para o mundo inteiro”, afirmou Alckmin. “Qual a postura do governo brasileiro que o presidente Lula tem falado: é a do diálogo. Comércio exterior, comércio, deve ser ganha-ganha, e não olho por olho.”
As declarações surgem em meio à expectativa da divulgação, nesta quarta-feira (2), de novas medidas tarifárias pela equipe de Trump. A movimentação já provocou instabilidade nos mercados e queda nas ações de empresas americanas, como observado nos dias anteriores.
Durante sua fala, Alckmin também ressaltou que o Brasil está comprometido com a ampliação do comércio internacional com base na reciprocidade e competitividade. Ele citou os acordos já firmados entre o Mercosul e países como Cingapura e o bloco da União Europeia.
“O Brasil quer ampliar o seu comércio no ganha-ganha, reciprocidade no sentido de competitividade: melhor lá, vende para nós; melhor aqui, nós vendemos para eles. Isso para o mundo inteiro”, explicou.
Em Paris, após a cerimônia de abertura dos Diálogos Econômicos Brasil-França, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também se pronunciou sobre a possibilidade de sanções econômicas contra o Brasil por parte do governo Trump. Ele considerou a hipótese “uma retaliação injustificável” e lembrou que, atualmente, a balança comercial é superavitária para os Estados Unidos.
O avanço das ameaças protecionistas também acelerou a tramitação do Projeto de Lei da Reciprocidade Econômica, aprovado por unanimidade nesta terça-feira (1º) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Por ter caráter terminativo, o projeto segue diretamente para a Câmara dos Deputados.
A proposta autoriza o Brasil a adotar medidas de retaliação contra países que não mantenham relações econômicas de isonomia com o país. Entre as ações previstas, estão a suspensão de concessões comerciais e investimentos, criação de barreiras tarifárias, bloqueio de remessas de royalties e patentes, além de restrições a importações.
Alckmin saudou a iniciativa, mas voltou a defender o caminho do entendimento. “Eu acho que você ter um arcabouço jurídico legal é positivo. Louvo a iniciativa do Congresso Nacional, neste caso, do Senado, porque procura preservar o interesse do Brasil, mas dizer que o caminho é o diálogo e procurar ter uma complementaridade econômica”, disse.
O projeto ganhou força após as declarações de Trump e também em meio às discussões na Europa sobre possíveis restrições à importação de proteína bovina brasileira e soja oriunda de áreas desmatadas — medidas que afetariam diretamente a competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional.
Pelas regras atuais, o Brasil não pode adotar tarifas unilaterais, o que limita a resposta direta a eventuais sanções de Washington. Caso o projeto seja aprovado nas duas Casas Legislativas, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) terá poderes legais para agir em defesa do setor produtivo nacional.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: