Derivados mantêm estabilidade com câmbio mais favorável, mas diesel alcança maior valor em 5 anos
Os preços domésticos dos derivados de petróleo ficaram estáveis
247 - Após um período de pressão por reajustes associado à disparada do dólar no último trimestre de 2024 e ao aumento de tributos ocorrido em fevereiro, no último mês de março os preços domésticos dos derivados de petróleo voltaram a apresentar estabilidade. A moeda norte-americana fechou em baixa nesta quarta-feira (16). O preço do diesel S10 manteve-se estável, mas no valor máximo nominal dos últimos cinco anos, com uma ligeira redução de 0,6%, ando de R$ 6,46 em fevereiro para R$ 6,42. Os dados são do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
Em março, o preço do Brent registrou uma queda de 3,6% nos mercados internacionais, mantendo a mesma tendência de redução observada no mês anterior, quando a baixa foi de 4,8%. O câmbio no Brasil permaneceu praticamente estável, com ligeira apreciação do real de 0,2%. O Brent em reais registrou uma queda de 3,8% no período. Vale ressaltar que essa redução está relacionada tanto à expectativa de aumento na produção, quanto à estabilidade cambial observada no país.
O preço médio da gasolina nos postos de combustíveis manteve-se praticamente estável, com uma redução de 0,3%, ando de R$ 6,36 em fevereiro para R$ 6,34 em março. O maior preço médio foi apurado na região Norte (R$ 6,72 por litro), com uma queda de 0,7% em relação ao mês anterior, enquanto o menor foi observado na região Sudeste (R$ 6,19).
Entre os estados, as maiores médias mensais foram registradas novamente no Acre (R$ 7,72) e no Amazonas (R$ 7,32) e as menores, no Amapá (R$ 6,07) e no Piauí (R$ 6,04). Vale destacar que o Amapá segue apresentando comportamento regional atípico. Enquanto a região Norte registra os preços mais elevados do país, o Amapá tem figurado entre os estados que apresentam os preços mais baixos.
No caso do diesel, que apresentou o valor máximo nominal dos últimos cinco anos, esse movimento ocorreu após uma variação positiva de 4,9% no mês anterior, período em que foi registrado um aumento de cerca de 6% nas refinarias. A região Norte se destacou pelo maior preço médio, de R$ 6,76, mantendo-se praticamente estável em relação aos R$ 6,79 do mês anterior. O menor preço médio foi registrado na região Nordeste (R$ 6,33).
Entre os estados, as maiores médias foram observadas de novo no Acre (R$ 7,92) e em Roraima (R$ 7,11) e as menores, na Paraíba (R$ 6,29) e em Pernambuco (R$ 6,21). Ressalta-se que, no último dia de março (31), a Petrobras anunciou uma redução de 4,6% do preço do diesel em suas refinarias. Caberá observar no próximo mês em que medida essa redução será reada ao consumidor final.
Cenário global
Mesmo com a estabilidade dos preços, o cenário global é preocupante por causa da guerra comercial lançada pelos Estados Unidos contra a China. Atualmente, as tarifas dos EUA sobre produtos chineses chegam a 145%. As tarifas do país asiático sobre importações estadunidenses representam 125%.
A guerra comercial ampliou a expectativa de desaceleração da atividade econômica mundial, com alguns analistas já prevendo cenários de recessão em diversos países, o que levou à revisão para baixo das estimativas da demanda por petróleo.
Além das tarifas anunciadas pelo governo norte-americano de Donald Trump, a OPEP e seus aliados, incluindo a Rússia, sinalizaram um aumento na produção, o que também pode contribuir para a queda nos preços presentes e futuros da commodity. Isso deve apontar no sentido de possível baixa de preços no próximo período.
Em março, a redução das cotações internacionais do petróleo, aliada à relativa estabilidade no mercado cambial, contribuiu para a diminuição da pressão por reajustes nos preços internos. No caso do diesel, por exemplo, a continuidade da queda do Preço de Paridade de Importação (PPI) permitiu que a Petrobras sinalizasse, e posteriormente implementasse em 31 de março, uma redução nos preços desse derivado.
Os componentes dos preços também demonstraram estabilidade, e, no caso do diesel, alguns itens registraram recuo, incluindo as margens de distribuição e revenda.
A estabilidade observada no cenário externo até março proporcionou à Petrobras um grau relevante de liberdade para dar continuidade à sua política de preços, que completará dois anos em maio.
A manutenção de uma política que reduza a volatilidade dos preços internos dos combustíveis é essencial para evitar a introdução de um novo fator de pressão inflacionária, sobretudo em um contexto de incertezas econômicas. Esse aspecto torna-se ainda mais relevante diante das decisões do Banco Central sobre a taxa básica de juros e das pressões crescentes por novos ajustes na taxa Selic.
Mas a elevada volatilidade financeira do atual cenário externo pode exercer pressão sobre a taxa de câmbio no Brasil, contribuindo para sua instabilidade e, consequentemente, via câmbio, podendo gerar efeitos sobre os preços internos dos combustíveis. Apesar da calma e estabilidade, o cenário futuro é bastante turvo.

O preço médio nacional do GLP seguiu estável, ando de R$ 107,24 por botijão de 13kg em fevereiro para R$ 107,31 em março, com uma variação de apenas 0,1%. A região Norte apresentou o maior preço médio (R$ 121,40), registrando um leve aumento em relação a janeiro (R$ 120,66). O menor preço foi observado na região Sudeste (R$ 104,09). Entre os estados, as maiores médias foram registradas em Roraima (R$ 136,92) e no Amazonas (R$ 127,46) e as menores, de novo, no Rio de Janeiro (R$ 95,95) e em Pernambuco (R$ 94,86).
O preço médio do etanol hidratado registrou ligeira queda de 0,7%, ando de R$ 4,38 em fevereiro para R$ 4,35 em março. O preço do biocombustível corresponde a 68,6% do preço da gasolina, indicando que abastecer com etanol segue sendo vantajoso para o consumidor [1]. A região Norte apresentou o maior preço médio (R$ 5,09) e a região Sudeste, o menor (R$ 4,30). Entre os estados, as maiores médias foram observadas no Amapá e no Amazonas (R$ 5,48), e as menores, de novo, em Mato Grosso (R$ 4,12) e em Mato Grosso do Sul (R$ 4,10).
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS PREÇOS DE PARIDADE DE IMPORTAÇÃO (PPI) E OS PREÇOS PRATICADOS PELAS OPERADORAS
No final de março (24/03/25), o preço de paridade de importação (PPI) da gasolina, calculado pela ANP, ficou em R$ 3,13 por litro, mantendo-se estável ao longo de um período de 4 semanas, apesar das variações observadas durante o mês. Os preços praticados pela Petrobras e 3R Petroleum (R$ 3,04) e pela Acelen-BA (R$ 3,06) permaneceram abaixo do PPI, com defasagens de 2,9% e 2,2%, respectivamente. Enquanto o preço da Ream-AM (R$ 3,30) seguiu acima da referência, porém com uma diferença menor em relação ao mês anterior, de 5,4%.
No caso do Diesel, o PPI encerrou a última semana de março (24/03) em R$ 3,60 por litro, registrando uma redução de 4,0% em relação à última semana do mês anterior. Os preços da Ream-AM ficaram acima 6,9% do PPI, enquanto os da Acelen-BA permaneceram 2,5% abaixo da referência. Ao longo de março, a Petrobras praticou preços 4,2% acima do PPI. No entanto, no último dia do mês, a companhia anunciou uma redução de 4,6% no preço do diesel nas refinarias, movimento que realinhou seus preços aos do PPI.
PROJEÇÃO DA COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DE FORMAÇÃO DOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS
De fevereiro a março, a projeção da composição do preço da gasolina não apresentou alterações significativas. Após o ajuste nos tributos federais realizado em fevereiro, os tributos permaneceram inalterados. O preço do produtor aumentou 0,5%, enquanto o etanol anidro registrou uma redução de 2,3%, após uma alta de mais de 11% nos dois meses anteriores. Já a margem bruta de distribuição e revenda caiu 2,6%, após um aumento expressivo de 14,7% no mês anterior.
Os componentes do preço do diesel apresentaram estabilidade geral. Os tributos federais e estaduais permaneceram inalterados. O preço ao produtor registrou uma queda de 0,3%, o biodiesel adicionado diminuiu 4,8%, e a margem bruta de distribuição e revenda caiu 1,0%, o que resultou na redução final do preço.
No caso do GLP ou gás de botijão, os tributos estaduais permaneceram inalterados, enquanto os preços do produtor apresentaram uma redução de 0,2%. Em contrapartida, as margens de distribuição e revenda seguiram em alta, com um aumento de 1,2%, igual ao registrado no mês anterior.
NOTA METODOLÓGICA
Os dados da composição dos preços dos derivados, divulgados pela ANP a partir do Relatório do Mercado de Derivados de Petróleo do MME, estão disponíveis até outubro de 2024. A fim de acompanhar a trajetória da composição e estrutura dos preços de forma mais atualizada, o Ineep desenvolveu cálculo projetando os últimos meses da composição dos preços da gasolina, diesel e GLP. Esse cálculo é realizado a partir dos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) e Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás).
Destaca-se que, de acordo com a metodologia do MME para análise da composição dos preços dos derivados, o preço final ao consumidor (indicado nos gráficos na caixa preta) é referente ao preço médio da última semana de cada mês. A fonte dos dados do preço final ao consumidor e do preço do produtor é a própria ANP. Para os tributos, utilizam-se como fonte a Fecombustíveis e o Sindigás. Já para o etanol, os dados são do Cepea. No caso da gasolina, para os cálculos, considera-se a mistura atual de 73% de gasolina e 27% de etanol anidro por litro, enquanto para o diesel, para o período da projeção, considera-se 88% de diesel e 12% de biodiesel. A margem bruta de distribuição é a subtração do preço final ao consumidor pelos outros componentes.
[1] O preço da gasolina não impacta diretamente o preço do etanol nas refinarias. Entretanto, como os dois combustíveis possuem diferentes taxas de eficiência energética e concorrem entre si no mercado interno, adota-se como critério que o preço do etanol, para ser vantajoso, deve custar até 70% do valor da gasolina. Isto se deve ao fato de o biocombustível ser 30% menos eficiente que a gasolina.
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