Guerra comercial de Trump já gerou mais de US$ 34 bilhões em prejuízos para empresas globais
Tarifas afetam decisões e elevam custos em setores estratégicos; maioria das companhias afirma que incerteza inviabiliza previsões financeiras
SÃO FRANCISCO/NOVA YORK/BENGALURU, 29 de maio (Reuters) – A guerra comercial do presidente Donald Trump já custou às empresas mais de US$ 34 bilhões em vendas perdidas e custos mais altos, de acordo com uma análise da Reuters sobre divulgações corporativas — um prejuízo que deve crescer à medida que a incerteza contínua sobre as tarifas paralisa a tomada de decisões em algumas das maiores empresas do mundo.
Em todo os Estados Unidos, Ásia e Europa, empresas como Apple, Ford, Porsche e Sony reduziram ou cortaram suas previsões de lucro, e uma esmagadora maioria afirma que a natureza errática das políticas comerciais de Trump tornou impossível estimar com precisão os custos. A Reuters revisou declarações corporativas, registros regulatórios e transcrições de conferências e ligações com a imprensa para reunir, pela primeira vez, um retrato dos custos tarifários até agora para empresas globais.
Os US$ 33 bilhões referem-se à soma de estimativas de 32 empresas do índice S&P 500, três empresas do índice europeu STOXX 600 e 21 empresas do índice japonês Nikkei 225. Economistas afirmam que o custo para as empresas provavelmente é múltiplas vezes maior do que o divulgado até agora.
“Você pode dobrar ou triplicar esse total e ainda diríamos... a magnitude certamente é muito maior do que a maioria das pessoas imagina”, disse Jeffrey Sonnenfeld, professor da Escola de istração da Universidade de Yale.
Os efeitos colaterais podem ser ainda piores, acrescentou ele, citando o potencial de redução nos gastos de consumidores e empresas e aumento nas expectativas de inflação.
Embora uma pausa recente nas hostilidades comerciais entre China e EUA tenha trazido algum alívio e Trump tenha recuado das ameaças tarifárias contra a Europa, ainda não está claro como serão os acordos comerciais finais. Um tribunal comercial dos EUA bloqueou na quarta-feira as tarifas propostas por Trump. Neste cenário, estrategistas dizem que as empresas buscarão fortalecer cadeias de suprimentos, aumentar esforços de produção local e priorizar novos mercados – tudo isso aumentará os custos.
As próprias empresas estão incertas sobre o custo final. À medida que a temporada de balanços corporativos se encerra, a Reuters encontrou pelo menos 42 empresas que cortaram suas previsões e 16 que retiraram ou suspenderam suas orientações. Por exemplo, no início deste mês, o Walmart recusou-se a fornecer uma previsão de lucro trimestral e disse que aumentaria os preços, provocando uma crítica de Trump. A Volvo Cars, uma das montadoras europeias mais expostas às tarifas dos EUA, retirou sua previsão de lucros para os próximos dois anos, e a United Airlines apresentou duas previsões diferentes, afirmando ser impossível prever o ambiente macroeconômico deste ano.
Trump argumenta que as tarifas reduzirão o déficit comercial dos EUA e levarão empresas a transferirem suas operações para o país, trazendo empregos de volta. Segundo ele, as tarifas também forçarão países como o México a conter o fluxo de imigrantes ilegais e drogas para os Estados Unidos.
“A istração tem sustentado consistentemente que os Estados Unidos... têm influência para fazer com que nossos parceiros comerciais arquem, em última instância, com o custo das tarifas”, disse o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai.
FALA SOBRE TARIFAS
Nas conferências de resultados do primeiro trimestre (janeiro a março), 360 empresas — ou 72% — do índice S&P 500 mencionaram tarifas, contra 150 empresas — ou 30% — no trimestre anterior. Executivos de 219 empresas listadas no STOXX 600 citaram tarifas, em comparação com 161 no trimestre anterior. Das empresas do índice Nikkei 225 do Japão, o número foi 58, ante 12 anteriormente.
“Não acho que as corporações tenham muita visibilidade sobre qualquer coisa no futuro”, disse Rich Bernstein, CEO da Richard Bernstein Advisors, em Nova York. Referindo-se às previsões retiradas, ele disse: “Se você leva em consideração esse mundo incerto e não consegue direcionar ninguém a um número, é mais seguro não dar nenhuma previsão”.
Wall Street espera que o lucro líquido das empresas do S&P 500 cresça em média 5,1% por trimestre entre abril e dezembro, em comparação com uma taxa de crescimento de 11,7% no ano anterior, segundo dados compilados pela LSEG.
Montadoras, companhias aéreas e importadores de bens de consumo têm sido os mais afetados. As tarifas sobre custos de matérias-primas e componentes, como alumínio e eletrônicos, aumentaram, e as tarifas sobre múltiplos países estão tornando mais caro montar carros, devido às cadeias de suprimento globalizadas. Transferir qualquer produção para os Estados Unidos também elevará os custos com mão de obra.
A Kimberly Clark, fabricante dos lenços Kleenex, cortou sua previsão de lucro anual no mês ado e disse que terá cerca de US$ 300 milhões em custos este ano, à medida que as tarifas pressionam seus custos logísticos. Dias depois, a empresa anunciou que investirá US$ 2 bilhões ao longo de cinco anos para expandir sua capacidade de produção nos EUA — valor não incluído no levantamento da Reuters. Empresas como Apple e Eli Lilly também anunciaram investimentos nos Estados Unidos neste ano.
A Diageo, fabricante do uísque Johnnie Walker e da tequila Don Julio, afirmou no início deste mês que cortará US$ 500 milhões em custos e venderá ativos significativos até 2028, uma vez que uma tarifa de 10% sobre importações de lugares como Reino Unido e União Europeia deve impactar em US$ 150 milhões por ano seu lucro operacional.
“As tarifas podem aumentar significativamente o custo de uma boa noite fora – ou até de uma noite tranquila em casa”, disse Zak Stambor, analista da eMarketer.
Reportagem de Sayantani Ghosh em São Francisco, Arpan Varghese em Bengaluru e David Gaffen em Nova York; Reportagem adicional de Anuja Bharat Mistry e Sameer Manekar em Bengaluru; redações da Reuters em Bengaluru e Gdansk, Josephine Mason em Londres e Miyoung Kim em Singapura; edição de Peter Henderson e Anna Driver
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