Venda de terminais portuários no Canal do Panamá para a BlackRock aponta as forças econômicas que agem por trás de Trump
Negócio bilionário revela o peso do capital financeiro, industrial e tecnológico no governo Trump
247 – A venda dos terminais portuários operados pelo bilionário chinês Li Ka-shing, dono do grupo Hutchinson, no Canal do Panamá e em outros mercados para um consórcio liderado pela BlackRock trouxe à tona o realinhamento das forças econômicas globais e sua influência sobre a istração de Donald Trump. A informação foi divulgada pelo portal chinês Guancha, que destacou o impacto geopolítico da transação e os interesses estratégicos envolvidos.
O bilionário de Hong Kong, conhecido por sua visão apurada para negócios, cedeu sua participação em 43 portos internacionais distribuídos por 23 países na Europa, Ásia e América por um valor estimado em US$ 22,8 bilhões. A operação beneficia diretamente a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, que agora assume uma posição estratégica no comércio global. A venda ocorre após Trump, em seu retorno ao poder, criticar a influência chinesa nos portos panamenhos e sugerir que os EUA deveriam retomar o controle da região.
O consórcio comprador também inclui a Global Infrastructure Partners (GIP) e a Terminal Investment Limited (TiL). A GIP, que recentemente foi adquirida pela BlackRock, é composta por ex-executivos de grandes bancos como Goldman Sachs e Credit Suisse, enquanto a TiL é formada por grandes companhias de transporte marítimo da Itália e do Oriente Médio.
Influência política e redes de poder econômico
Embora a Hutchison Whampoa, empresa de Li Ka-shing, tenha alegado que a venda foi uma decisão puramente comercial, veículos de mídia ocidentais apontaram que a BlackRock manteve comunicação direta com o governo dos EUA antes e depois da transação. Essa movimentação sugere que o negócio pode ter sido impulsionado por fatores políticos e não apenas econômicos.
A operação também expõe as três principais forças econômicas que sustentam a istração Trump: o capital financeiro de Wall Street, o capital industrial e as big techs do Vale do Silício.
A BlackRock, conhecida por seu peso nos mercados globais, historicamente manteve relações próximas com o Partido Democrata, especialmente ao promover políticas de diversidade e inclusão (DEI). No entanto, diante do novo cenário político, a empresa tem se distanciado dessas pautas para fortalecer sua posição no governo Trump. Wall Street segue ocupando espaços de destaque na istração, com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário do Comércio, Howard Lutnick, ambos oriundos do setor financeiro.
O segundo grande bloco de apoio a Trump vem do capital industrial, com forte presença nos setores de energia, siderurgia e mineração. O secretário de Energia, Chris Wright, e o negociador comercial Jamieson Greer, por exemplo, possuem ligações diretas com esses segmentos. O protecionismo econômico de Trump, que se traduziu em tarifas sobre aço e outras commodities, reforça o poder desses setores e sua influência na formulação de políticas.
Por fim, o terceiro pilar de sustentação do governo é o setor tecnológico, com destaque para figuras como Elon Musk e executivos das principais empresas do Vale do Silício. Empresas como Palantir, especializada em inteligência artificial para defesa, e Oracle, que chegou a disputar a compra do TikTok, figuram entre os aliados estratégicos da istração.
Reindustrialização e a guerra comercial global
O governo Trump tem como uma de suas principais bandeiras a reindustrialização dos EUA, mas enfrenta desafios estruturais, como o alto custo de produção e a escassez de mão de obra qualificada. Para viabilizar essa meta, a Casa Branca aposta em uma combinação de tarifas protecionistas e políticas para enfraquecer o dólar, tornando os produtos americanos mais competitivos no mercado global.
Nesse contexto, surgiu a proposta do chamado "Acordo de Mar-a-Lago", um plano econômico que remete ao Acordo de Plaza de 1985, firmado entre os EUA e o Japão para desvalorizar o dólar. A ideia, defendida por Stephen Miran, economista cotado para liderar o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, é convencer outros países a converterem seus títulos da dívida americana em bônus de longo prazo sem juros e não negociáveis. Essa medida reduziria artificialmente a demanda por dólares e ajudaria a impulsionar a produção industrial americana.
No entanto, a proposta enfrenta forte resistência internacional, já que exigiria que outros países sacrificassem sua liquidez financeira em troca de promessas de o ao mercado e proteção militar dos EUA. Para críticos, trata-se de uma manobra coercitiva que beneficia apenas Washington.
A venda dos portos de Li Ka-shing e a consolidação das forças econômicas por trás de Trump mostram um mundo cada vez mais marcado pelo embate entre potências, onde negócios bilionários não são apenas transações comerciais, mas peças estratégicas em uma disputa de poder global.
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