"A política olho no olho não pode ser deixada de lado", diz Natália Bonavides
Deputada defende que a esquerda deve politizar debates e fortalecer mobilização popular para enfrentar o conservadorismo
247 – A deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) protagonizou um diálogo com a jornalista Hildegard Angel, da TV 247, sobre o papel da esquerda na mobilização popular, os desafios políticos do país e a necessidade de politizar os debates públicos. A entrevista abordou temas que vão desde a precarização do trabalho e os ataques à democracia até o impacto da moda como ferramenta de resistência cultural e política.
Para Bonavides, a esquerda precisa se reconectar com a população de maneira mais efetiva, indo além das disputas institucionais e resgatando o trabalho de base. Segundo a parlamentar, a falta de mobilização popular enfraquece a capacidade de transformação social e permite que discursos conservadores avancem sem a devida contraposição.
"Nós vimos nos governos anteriores do PT que não basta lançar políticas públicas que melhorem a vida do povo. Se não há um debate político que acompanhe essas políticas, os direitos conquistados podem ser facilmente desmontados por governos posteriores", alertou.
Ela criticou a tendência da esquerda em priorizar a atuação dentro das instituições sem fortalecer os vínculos diretos com a classe trabalhadora. "A política não pode se resumir ao espaço institucional. Se a gente não estiver presente nas comunidades, nos sindicatos, nos movimentos sociais, outros setores vão ocupar esse espaço e definir a narrativa", enfatizou.
Precarização do trabalho e o enfraquecimento da organização sindical
Outro ponto central da discussão foi a desestruturação dos direitos trabalhistas no Brasil, especialmente após o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Bonavides denunciou as mudanças legislativas que enfraqueceram os sindicatos e ampliaram a exploração da classe trabalhadora.
"Quando Temer e Bolsonaro alteraram a legislação, eles não estavam apenas implementando políticas de governo. Eles mudaram a própria estrutura do país, tirando direitos que estavam no espírito da Constituição de 1988", explicou.
Ela destacou que a ascensão dos aplicativos de transporte e entrega aprofundou essa exploração, criando uma nova classe de trabalhadores desprotegidos. "Os entregadores e motoristas de aplicativo reivindicam direitos que remontam à Revolução Industrial: tempo para comer, pausas para ir ao banheiro, jornada máxima de trabalho. Isso mostra o retrocesso que estamos vivendo", afirmou.
A deputada enfatizou que a fragmentação dos trabalhadores e a informalidade dificultam a organização coletiva, tornando a mobilização um desafio ainda maior. "Sem espaços físicos para encontro, sem vínculos empregatícios claros, como os trabalhadores podem se sindicalizar? É preciso criar novas formas de organização e resistência", defendeu.
O papel do governo Lula e a disputa interna por projetos políticos
Bonavides também abordou a complexidade do governo Lula, que reúne uma ampla coalizão de forças políticas, incluindo setores progressistas e conservadores. Segundo ela, essa diversidade exige que os movimentos sociais estejam atentos e disputem a agenda do governo.
"Temos dentro do governo tanto projetos inspirados no MST quanto uma influência enorme do agronegócio. Se os trabalhadores não pressionam por suas pautas, pode ter certeza de que os grandes empresários e o capital financeiro o farão", alertou.
Ela argumentou que é necessário politizar ainda mais o debate público e enfatizar a diferença entre projetos de país. "Quando um programa de educação ou saúde é lançado, é preciso deixar claro que, sem democracia e sem um governo comprometido com o povo, essas políticas podem desaparecer. Precisamos explicar o que está em jogo e mobilizar as pessoas para defender esses avanços", afirmou.
A deputada criticou a postura defensiva adotada em alguns momentos do governo. "Tem pautas que já começamos cedendo porque achamos que não vão ar no Congresso. Mas até que ponto isso nos fortalece? Precisamos entrar nas lutas, mesmo as difíceis, e chamar o povo para esse embate", argumentou.
Crise climática e o risco de um futuro inviável para os mais pobres
A parlamentar também discutiu os desafios impostos pelas mudanças climáticas, ressaltando que os desastres ambientais afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. "O racismo ambiental é uma realidade. O socorro chega de maneira diferente quando as vítimas são negras e pobres. A comoção mundial varia de acordo com quem sofre o impacto", denunciou.
Bonavides alertou para o fato de que eventos extremos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, se tornarão mais frequentes e exigirão grandes investimentos. "Se não houver um planejamento adequado, os recursos para salvar vidas podem começar a competir diretamente com o orçamento de políticas sociais", alertou.
Ela também fez uma conexão entre a crise climática e a disputa pelo orçamento público, criticando o avanço do capital financeiro sobre os recursos do Estado. "Vão querer colocar teto para gastos com resgates, reconstrução de infraestrutura e apoio a vítimas de tragédias. Mas ninguém quer mexer nos lucros exorbitantes do mercado financeiro. Isso precisa ser enfrentado", defendeu.
Mobilização popular como chave para o futuro da esquerda
Encerrando a entrevista, Bonavides reforçou que a esquerda precisa investir mais na mobilização popular e no trabalho de base para construir um projeto político sólido e duradouro. "A política olho no olho, a organização nas ruas e nos bairros são essenciais para enfrentar o conservadorismo e garantir um futuro mais justo", declarou.
Ela criticou a dependência excessiva das redes sociais para articulação política. "As redes sociais são fundamentais, mas pertencem ao outro lado. Se um dia quiserem nos silenciar, podem simplesmente derrubar nosso alcance. Se a gente não fortalecer o trabalho presencial, ficaremos sem chão", alertou.
Para Bonavides, o desafio da esquerda é disputar corações e mentes em um mundo em constante transformação. "Precisamos politizar os debates, mobilizar o povo e enfrentar o avanço do conservadorismo com organização e resistência. Só assim construiremos um Brasil verdadeiramente democrático e igualitário", concluiu. Assista:
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