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      “Estamos vendo o fim da globalização neoliberal”, diz especialista

      Thomas de Toledo diz que o Brasil pode reverter a desindustrialização se aproveitar a crise do comércio global como motor de transformação interna

      (Foto: Reuters | Divulgação)
      Dafne Ashton avatar
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      247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o professor de Relações Internacionais Thomas de Toledo afirmou que o mundo vive o colapso da ordem neoliberal construída nas últimas décadas. Para ele, esse cenário representa uma “janela de oportunidades” para que o Brasil retome uma agenda de reindustrialização e enfrente os efeitos de décadas de desmonte do Estado.

      “Estamos vendo o fim da globalização neoliberal. Fukuyama está morto, sepultado, enterrado — não como pessoa, mas como pensamento político”, declarou. Segundo Toledo, as instituições multilaterais perderam força e os Estados nacionais voltaram a tomar decisões soberanas à revelia de organismos como a ONU, a OMC e o Tribunal Penal Internacional. Esse novo contexto, afirma, pode favorecer o Brasil, desde que o governo esteja disposto a romper com o receituário liberal.

      Toledo comparou o momento atual com outros períodos em que o país soube transformar crises externas em políticas industriais de desenvolvimento. “A Revolução de 1930, após a crise de 1929, e o choque do petróleo em 1973 são exemplos. O Brasil aproveitou esses momentos para impulsionar a indústria e integrar o mercado interno. Até mesmo em 2009, no segundo governo Lula, houve uma reorientação produtiva com uso de bancos públicos e crédito estatal”, disse.

      Mas o cenário atual, na sua avaliação, é mais desfavorável. “O Estado que o Lula pegou em 2003 já não existe mais. A Petrobras foi mutilada. A BR Distribuidora foi vendida. O Supremo Tribunal Federal autorizou o fatiamento da empresa. Então, o Brasil que aparece agora é um Brasil arrebentado do ponto de vista das condições da tomada de decisão em termos econômicos”, afirmou.

      Ainda assim, Toledo defende que há espaço para ação política e econômica. “O Lula tem menos mecanismos, mas há uma janela de oportunidades que não pode ser desperdiçada. É o momento de tomar algumas medidas um pouco mais drásticas com relação a esse modelo que vigeu nas últimas décadas”, avaliou. Ele citou como exemplo o protecionismo: “Está todo mundo criticando o Trump, mas, pensando enquanto nação, ele não está errado. O problema é que o tarifaço não está acompanhado por uma política industrial robusta. Ele tinha que ser o fim do processo, não o começo”.

      Na análise do professor, os Estados Unidos se colocam hoje em uma posição contraditória. “O Trump quer reindustrializar o país diminuindo o papel do Estado. Isso é uma receita contraditória. Não é como o New Deal. Ele joga as tarifas, mas não cria uma política coordenada de reindustrialização. O tarifaço tem apelo político, mas, sozinho, não resolve”, afirmou.

      Toledo observou que os Estados Unidos também enfrentam limites estruturais. “A dívida externa norte-americana é financiada pela China. Ou seja, o país consome os produtos chineses e, com esse superávit, a China compra os títulos da dívida americana. A China tem muito mais poder de barganha numa negociação séria do que o Trump.”

      Para o Brasil, que ou por quase 45 anos de desindustrialização, o momento exige coragem política. “Desde 1980, o percentual da indústria no PIB só caiu. O setor terciário cresceu, o agronegócio se expandiu. Exportamos soja e minério, importamos industrializados. É preciso reverter isso com estímulos à indústria, redução de juros e investimento público”, defendeu.

      Toledo afirmou que, diante do fim da era neoliberal, o país deve buscar novos caminhos para sua inserção internacional. “O acordo Mercosul-União Europeia, do jeito que está, é um desastre. O Brasil pode renegociar, buscar acordos com países árabes, do sudeste asiático, ou até bilaterais. Mas há um problema: a Argentina pode se alinhar diretamente com os Estados Unidos, o que compromete a atuação conjunta do Mercosul.”

      Ele também apontou o risco de agravamento da guerra comercial entre China e Estados Unidos, destacando que, em caso de ruptura comercial, os impactos seriam globais. “Imagine a China nacionalizando as fábricas da Apple que estão em seu território. Isso seria uma virada na economia mundial. Os EUA não têm condições de se reindustrializar em pouco tempo. Isso levaria décadas.”

      A questão cambial, segundo ele, também deve ser considerada como parte de uma política industrial mais ousada. “Se o governo aproveitar essa janela de oportunidades e transformar isso numa política industrial, a valorização do dólar seria excelente. Mas o governo tem que estar disposto a comprar essa briga na sociedade.”

      Toledo defendeu uma reconfiguração interna da política econômica: “O que o Lula precisava costurar era um pacto pela reindustrialização do Brasil. Esse debate precisa sair do foco da guerra cultural. O Brasil deveria estar construindo uma unidade nacional em torno do desenvolvimento.”

      Na sua visão, esse esforço inclui retomar a integração latino-americana e fortalecer os BRICS. “O BRICS hoje representa uma alternativa ao hegemon. E a atuação da Dilma no banco dos BRICS, na desdolarização das transações internacionais, tem sido reconhecida positivamente. Mas é preciso rever a política externa com relação à Venezuela e à Nicarágua. Vetar a entrada da Venezuela no BRICS foi um erro.”

      Ele concluiu indicando que o Brasil precisa inserir-se na chamada Quarta Revolução Industrial. “Uma política industrial hoje significa entrar no fluxo da indústria 4.0: inteligência artificial, internet das coisas, biotecnologia, produção de chips e semicondutores, e também retomar o programa nuclear, para fins pacíficos. O Brasil está ficando para trás, enquanto a China avança.” Assista: 

       

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