Gisele Ricobom: "Bolsonaro destruiu as bases democráticas do nosso país"
Gisele Ricobom diz que julgamento de militares por tentativa de golpe é divisor de águas e alerta: sem responsabilização, Brasil corre risco de retrocesso
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, a advogada e professora Gisele Ricobom avaliou como histórica a etapa do julgamento dos réus envolvidos na tentativa de golpe de Estado que seguiu a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro em 2022. Para ela, o depoimento prestado por integrantes do alto comando militar no Supremo Tribunal Federal (STF) desmente a narrativa de vitimização que o ex-presidente vem tentando construir e expõe sua participação ativa no planejamento da ruptura democrática.
"Hoje realmente foi um dia histórico nesse julgamento que se inicia no Supremo Tribunal Federal", afirmou. "Pela primeira vez nós estamos com o alto comando das Forças Armadas sendo réus em processos de ruptura do Estado democrático de direito."
A professora destacou o impacto jurídico e simbólico do depoimento prestado por militares que participaram de reuniões para debater o que chamaram de brainstorm sobre cenários golpistas. "Fica claro para a sociedade brasileira que havia reuniões esporádicas para levar a cabo esse golpe de Estado", disse. "Fica claro que o Bolsonaro não só participou desse planejamento como ajudou na minuta do golpe."
Ricobom ressaltou ainda que o julgamento representa uma oportunidade histórica para o Brasil resolver pendências que vêm desde a ditadura militar. "É absolutamente inédito, especialmente quando a gente vê o nosso ado de uma justiça de transição que não se concretizou", afirmou. "Não tivemos o julgamento daqueles que cometeram crimes durante a ditadura militar. O próprio Supremo chancelou a impunidade ao confirmar a Lei da Anistia."
Segundo a advogada, ao contrário do que ocorreu no ado, o STF agora tem a chance de fixar uma resposta institucional à tentativa de ruptura. "É um momento histórico que pode ser decisivo para o futuro do nosso país", afirmou. "A questão golpista no Brasil não está resolvida. Ainda temos vozes importantes, inclusive no cenário internacional, interferindo politicamente por meio de plataformas digitais."
Ela também comentou os esforços de Bolsonaro para sustentar a narrativa de perseguição judicial. "Eles querem dizer que o Bolsonaro é um perseguido político e usam inclusive o termo lawfare", explicou. "Mas é uma tentativa de convencimento apenas para sua base. São coisas incomparáveis com o processo do Lula. Bolsonaro cometeu crimes gravíssimos contra o nosso país e deve ser responsabilizado por isso."
Gisele Ricobom também demonstrou preocupação com a possibilidade de os financiadores da tentativa de golpe escaparem da responsabilização. "Eu não tenho visto investigações em relação a esse núcleo", disse. "O poder econômico envolvido nisso tem o às instituições do Estado. Tenho receio de que a gente não alcance essas pessoas que financiaram o golpe."
Para a professora, a responsabilização judicial de Bolsonaro e seus aliados é um marco para a democracia brasileira. "O Supremo garantiu a transição democrática, embora possamos ter críticas. Mas essa ação é referencial. Tenho certeza de que a democracia brasileira terá um antes e depois desse julgamento", concluiu. "O Bolsonaro tem que ir para o lixo da história. Ele destruiu as bases democráticas do nosso país." Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: