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      "O avanço da extrema-direita no mundo é um desafio maior que o nazifascismo", diz João Cezar de Castro Rocha

      Professor analisa como a extrema-direita conquista os jovens e usa a guerra cultural para se perpetuar no poder

      (Foto: Divulgação | REUTERS/Kevin Lamarque)
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      247 - João Cezar de Castro Rocha, professor titular de literatura comparada da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e doutor pela Universidade de Stanford, concedeu uma entrevista marcante à jornalista Hildegard Angel, da TV 247. Na conversa, o acadêmico traçou um panorama da ascensão da extrema-direita global, suas estratégias discursivas e o papel da literatura na formação do pensamento crítico.

      A extrema-direita e a manipulação da juventude

      De acordo com Castro Rocha, a extrema-direita avança conquistando "corações e mentes", principalmente entre os jovens. Ele explica que esse movimento não se sustenta apenas na violência, como ocorreu com o nazifascismo no século XX, mas sim na construção de narrativas que transformam a política em um jogo de manipulação digital. “O que estamos vivendo hoje é um desafio ainda maior do que o nazifascismo, porque, ao invés de impor pelo terror, eles seduzem, iludem e cooptam”, afirmou.

      O professor citou a Cambridge Analytica como um dos marcos dessa estratégia, revelando como o marketing político ou a segmentar eleitores de maneira minuciosa, criando bolhas ideológicas estanques. “As campanhas deixaram de ser para a cidadania e aram a ser de micro direcionamento digital. Cada grupo recebe um discurso personalizado, muitas vezes contraditório, para garantir sua adesão sem que percebam as incoerências”, disse.

      Ricardo III e a política do caos

      Castro Rocha utilizou a literatura para ilustrar os mecanismos de dominação da extrema-direita. Para ele, figuras como Donald Trump e Jair Bolsonaro seguem o modelo de Ricardo III, de William Shakespeare. “O vilão shakespeariano não esconde suas intenções. Ele anuncia suas vilanias e se orgulha delas. A extrema-direita atual faz o mesmo: transforma o ódio em um espetáculo e o utiliza como ferramenta de poder”, comparou.

      O professor destacou que esse método é ainda mais eficiente porque opera no campo das emoções e não da razão. “Eles não precisam convencer as pessoas com argumentos sólidos. Basta fomentar o ressentimento, a raiva e o medo para manter sua base mobilizada”, explicou.

      O papel da literatura na resistência democrática

      Para Castro Rocha, a literatura é um antídoto contra a alienação promovida pela extrema-direita. “A literatura é antropologia radical, porque nos coloca no lugar do outro. Quando lemos Madame Bovary, nos tornamos uma mulher do século XIX e compreendemos sua angústia. Quando lemos A Hora da Estrela, sentimos o drama de Macabéa. Isso nos impede de cair na lógica do ódio e da desumanização do adversário”, argumentou.

      Ele defendeu que a leitura precisa ser uma prioridade na luta contra a desinformação. “Se tivéssemos um país de leitores, Bolsonaro jamais teria sido possível”, disse. No entanto, alertou que a literatura, por si só, não basta. “É preciso também fortalecer as instituições democráticas e a educação para o pensamento crítico.”

      A resposta ao negacionismo e à uberização da vida

      O professor apontou que o avanço da extrema-direita está diretamente ligado à crise do capitalismo. Ele argumentou que a exploração descontrolada dos recursos naturais e a precarização do trabalho criaram um modelo de “neoliberalismo predador”, que busca descartar setores da sociedade considerados dispensáveis. “Imigrantes, idosos, pessoas LGBTQIA+, deficientes: todos aqueles que não se encaixam na lógica do lucro são alvos de exclusão”, disse.

      Além disso, ele ressaltou que o negacionismo climático é parte desse projeto. “A extrema-direita nega as mudanças climáticas porque itir a crise ecológica significaria reconhecer que o modelo capitalista chegou ao seu limite. Por isso, promovem slogans como ‘Drill, baby, drill’ e insistem na exploração de combustíveis fósseis, mesmo diante do colapso ambiental”, explicou.

      O perigo do bolsonarismo e a necessidade de ação

      Na parte final da entrevista, Castro Rocha alertou sobre os riscos de subestimar a extrema-direita no Brasil. Para ele, o bolsonarismo não foi um fenômeno ageiro, mas sim um projeto de poder bem estruturado. Ele destacou figuras como Nikolas Ferreira como representantes de uma nova geração da extrema-direita brasileira. “Ele é jovem, bilíngue e faz um trabalho de base impressionante. É um político que precisa ser levado a sério, porque está construindo uma base sólida para o futuro”, alertou.

      Por fim, o professor defendeu que a esquerda precisa adotar novas estratégias de comunicação para combater essa influência. Ele citou o modelo das mañaneras mexicanas, em que o presidente se comunica diretamente com a população diariamente, desmentindo fake news e pautando o debate público. “Se não politizarmos a gestão pública e explicarmos ao povo as conquistas de um governo progressista, a extrema-direita continuará vencendo, porque eles dominam a guerra cultural”, concluiu. Assista:

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