Entenda por que Mao Zedong se tornou um nome tão importante na tradição marxista
Explicação foi dada pelo professor Richard Wolff ao Robinson's Podcast
247 – Em entrevista concedida ao Robinson’s Podcast e disponível no YouTube, o economista marxista norte-americano Richard Wolff explicou por que Mao Zedong é um dos nomes mais decisivos da tradição marxista no século XX. Segundo Wolff, o líder chinês teve uma contribuição histórica fundamental ao adaptar o marxismo às realidades rurais, abrindo caminho para a revolução em sociedades predominantemente agrícolas, como a China do início do século ado.
“Mao é absolutamente importante porque traz a noção de marxismo revolucionário para áreas rurais que nunca haviam lidado com o capitalismo, mas que já tinham um impulso gigantesco contra ele”, afirmou Wolff. Ao romper com a ênfase tradicional na classe operária urbana, Mao teria “aberto o marxismo para a maioria da classe trabalhadora mundial, que era — e ainda é — rural e agrícola”.
Marxismo camponês: a inovação que mudou a história
Para Richard Wolff, a grande originalidade de Mao foi afirmar que o marxismo não deveria se limitar à indústria e aos trabalhadores urbanos. Essa reinterpretação ousada rompeu com a ortodoxia europeia, onde o campesinato era visto como conservador, pouco instruído e distante da luta revolucionária.
“Foi necessário um nível de coragem inacreditável para dizer que era um erro focar apenas na indústria”, destacou Wolff. Segundo ele, Mao percebeu que os camponeses chineses — ainda marginalizados pelo capitalismo — poderiam se tornar um núcleo poderoso de transformação social.
As bases da ascensão da China
Wolff sustenta que essa reinterpretação do marxismo foi essencial para consolidar a base do poder popular na China e também para o desenvolvimento econômico do país no pós-guerra. “O que Mao conseguiu foi a base do que permitiria à China se tornar hoje uma superpotência capaz de desafiar os Estados Unidos”, afirmou.
Ele lembra que, após serem perseguidos pelo governo nacionalista de Chiang Kai-shek, Mao e seus aliados se refugiaram no interior profundo da China durante a chamada Longa Marcha. Lá, entre os camponeses, construíram não apenas uma base de apoio, mas também uma nova estrutura de poder e um exército revolucionário.
Um líder incompreendido no Ocidente
Apesar de seu papel central na história da China e do marxismo, Mao continua sendo pouco compreendido nos Estados Unidos, segundo Wolff. “Mesmo em universidades como Harvard e Yale, Mao é simplesmente retratado como um vilão. A ignorância sobre sua importância histórica é atordoante”, criticou.
Ele também compartilhou uma experiência pessoal para ilustrar esse desconhecimento: “É como mostrar fogo a alguém que nunca viu um isqueiro. Eles ficam pasmos.”
Wolff pondera que críticas a políticas específicas de Mao são válidas e necessárias, mas destaca que isso não pode obscurecer a dimensão histórica de sua atuação: “Você pode discordar disso ou daquilo, mas o que ele conquistou é imenso.”
A guerra civil e a questão de Taiwan
Ao final da entrevista, o economista recorda o contexto da guerra civil chinesa (1945–1949), em que Mao derrotou as forças nacionalistas de Chiang Kai-shek, levando este a se refugiar na ilha de Taiwan. Para Wolff, esse episódio ajuda a explicar a atual tensão sobre o status da ilha. “É como se Jefferson Davis, após a Guerra Civil americana, tivesse fugido para Staten Island e fundado um novo governo. Os chineses consideram isso um assunto interno, e com razão”, argumentou.
A análise de Richard Wolff oferece uma leitura aprofundada e crítica do legado de Mao Zedong, destacando sua coragem teórica e impacto histórico. Ao levar o marxismo para o campo e transformar a China num modelo próprio de revolução, Mao se inscreve como uma das figuras mais relevantes da tradição socialista mundial.
“Mao tornou o marxismo revolucionário para a maioria da humanidade, que vive no campo. Isso mudou tudo”, concluiu Wolff.
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