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      José Luis Fiori e Maria Claudia Vater apresentam diagnóstico estratégico da nova ordem mundial em aula magna na FESP-SP

      Professores apontam o colapso da ordem unipolar e a emergência de uma era multipolar de instabilidade permanente

      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – Na abertura do Ciclo de Estudos Estratégicos "Geopolítica do Século 21", promovido pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), o professor José Luis Fiori e a professora Maria Claudia Vater apresentaram uma aula magna em que se debateu o texto Para ler a conjuntura internacional, um ensaio profundo sobre a nova etapa histórica vivida pelo sistema internacional. Combinando teoria histórica, análise de conjuntura e pensamento estratégico, o texto oferece uma leitura abrangente das transformações em curso no século XXI.

      A proposta central do ensaio é que o sistema interestatal capitalista está vivendo, desde as décadas de 1970 e 1980, sua quarta “grande explosão expansiva” – conceito utilizado por Fiori para descrever momentos históricos de profunda reconfiguração geopolítica e tecnológica, marcados por aumentos intensos na competição entre Estados e por mutações estruturais na hierarquia internacional. Segundo essa hipótese, a atual fase é marcada pela decomposição da ordem mundial unipolar do pós-Guerra Fria, pela ascensão de novas potências e pelo surgimento de uma ordem ainda indefinida, atravessada por múltiplas crises simultâneas.

      Conflitos como catalisadores da nova ordem

      No centro da análise de Fiori estão quatro grandes conflitos que, segundo o autor, funcionam como “organizadores da conjuntura”:

      • A guerra da Ucrânia, iniciada com o golpe de 2014 em Kiev e agravada pela invasão russa de 2022, é apresentada como evento fundador de uma nova ordem mundial, ao estabelecer a Rússia como potência com capacidade de veto à vontade das potências ocidentais. A guerra também reconfigurou a posição geoeconômica da Rússia, rompendo com a Europa e reforçando o eixo eurasiático.
      • O genocídio em Gaza, cuja origem remonta à criação do Estado de Israel com apoio anglo-americano, é lida como um conflito crônico que cristaliza a ruptura entre o “Ocidente cristão” e o mundo islâmico. A atual ofensiva israelense é analisada como expressão do colapso moral do Ocidente e do esgotamento da solução de dois Estados.
      • A disputa sobre Taiwan aparece como a peça-chave do confronto entre China e EUA no Pacífico. Fiori descreve o cerco militar norte-americano no Mar do Sul da China e o avanço tecnológico-militar chinês, afirmando que o equilíbrio precário na região pode ser rompido por qualquer erro de cálculo.
      • A guerra econômica do G7 contra Rússia e China é analisada como um instrumento de coerção ocidental que, ao invés de paralisar essas potências, fortaleceu sua autonomia estratégica, levou à reorganização de suas economias e contribuiu para a erosão do sistema financeiro internacional centrado no dólar.

      As múltiplas crises da ordem mundial

      Fiori também identifica quatro grandes crises sobrepostas que explicam a sensação de desordem global:

      1. Crise da ordem bipolar da Guerra Fria, marcada pela perda de legitimidade do multilateralismo e pela desintegração dos arranjos institucionais criados em Bretton Woods e na ONU.
      2. Crise da ordem unipolar, imposta após 1991, que se fragmentou diante da resistência russa e da ascensão chinesa.
      3. Crise da globalização econômica, evidenciada após o colapso de 2008 e o fracasso das promessas neoliberais.
      4. Crise da hegemonia ocidental, que afeta tanto os EUA quanto a União Europeia, incapazes de sustentar suas antigas utopias liberais, social-democratas e cosmopolitas.

      Além disso, o texto dedica uma seção à emergência climática e à transição energética, denunciando o fracasso das potências globais em liderar uma mudança real diante do agravamento das catástrofes ecológicas.

      O BRICS e o Sul Global no centro da disputa

      A emergência do BRICS como ator geopolítico central é outro ponto de destaque do texto. Fiori argumenta que, com sua ampliação para 23 países em 2025, o grupo já detém 43% do PIB global, metade das reservas energéticas do planeta e ampla liderança em produção agrícola. Essa força, somada à desconexão deliberada do sistema financeiro dominado pelo dólar, transforma o BRICS em um polo potencial de contestação da ordem liberal ocidental.

      Fiori destaca ainda o papel estratégico da China como o principal desafiante tecnológico e industrial dos EUA. Segundo o ensaio, o modelo de pesquisa e inovação “dupla” adotado pelo Estado chinês já coloca o país como líder em 37 das 44 tecnologias críticas do futuro.

      O Brasil na encruzilhada da ordem mundial

      O ensaio termina com uma análise do lugar do Brasil no novo mundo em formação. Apesar de sua posição geográfica privilegiada, da estabilidade territorial e do papel de sócio-fundador do BRICS, o Brasil, segundo Fiori, ainda precisa tomar decisões fundamentais sobre sua estratégia internacional. O país pode optar entre a submissão à lógica militar e financeira das potências ocidentais ou a construção de um projeto autônomo baseado em desenvolvimento sustentável, alianças Sul-Sul e protagonismo diplomático.

      Um pensamento necessário

      A aula magna de José Luis Fiori apresentou um verdadeiro mapa para entender a desordem global. Com erudição e clareza, seu ensaio convida à reflexão crítica sobre o destino do sistema internacional, sem ceder à nostalgia da ordem ada nem à euforia com o mundo multipolar que ainda se desenha.

      Para a FESP-SP, a presença de Fiori marca a retomada de seu compromisso histórico com a análise estrutural e com a formação de quadros intelectuais capazes de pensar o Brasil e o mundo de forma estratégica. A série de encontros que se seguirá ao longo do curso promete aprofundar esse debate e expandir as perspectivas abertas por essa aula inaugural.

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