Nas redes, fraude no INSS supera 'crise do Pix' e oposição domina a narrativa

247 - A crise envolvendo denúncias de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) já ultraou, em volume de menções, a comoção causada pela 'crise do Pix' em janeiro deste ano. É o que revela um levantamento feito pela consultoria Bites a pedido do jornal O Globo. O estudo indica que, desde que a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram uma operação sobre o caso, no dia 23 de abril, foram registradas 4 milhões de menções a palavras-chave como "fraude no INSS", "queda de Carlos Lupi" e outras relacionadas ao escândalo.

Esse total supera com folga as 2,7 milhões de citações relacionadas à crise do Pix, contabilizadas nos 15 dias mais críticos do episódio. A oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem capitalizado politicamente sobre o caso, em especial o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que lidera a mobilização digital.

Um vídeo publicado por Nikolas nesta quarta-feira (7) gerou um novo pico de interações sobre o tema: 4,8 milhões de reações e impressionantes 97,3 milhões de visualizações no Instagram em menos de 24 horas. A peça audiovisual impulsionou o debate sobre o escândalo a níveis equivalentes aos observados no dia 24 de abril, quando o caso veio a público.

Segundo o relatório da Bites, “o novo vídeo de Nikolas pautou o esquema no INSS como escândalo e deve ajudar a estender a sangria do governo do PT, que voltou a ser associado com corrupção”. A postagem teve mais que o dobro de interações do post com maior repercussão de Jair Bolsonaro (PL) neste ano, que somou 2,3 milhões.

Ainda de acordo com a consultoria, a oposição tem obtido vantagem expressiva na chamada “disputa de narrativas”. Dos 271 deputados que já abordaram o escândalo, os 67 do PL foram responsáveis por 13,7 milhões de interações. Em contrapartida, os 55 parlamentares do PT acumularam apenas 577 mil interações. Mesmo somando os 9 deputados do Psol, o campo governista não ou de 908 mil interações.

“O cenário indica que a batalha faz o governo sangrar”, conclui o estudo da Bites.

Narrativas opostas e acusações cruzadas - O pano de fundo da crise é a operação que revelou um esquema de descontos indevidos em benefícios do INSS. Segundo informações da CGU, os desvios vêm ocorrendo desde 2016 e somam, ao todo, R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024 — abrangendo tanto o governo de Jair Bolsonaro quanto o de Lula.

Na tentativa de reverter o desgaste, o presidente Lula autorizou um plano emergencial de ressarcimento aos aposentados afetados. A versão oficial do governo é de que o esquema criminoso ganhou corpo durante a gestão anterior e só ou a ser enfrentado agora.

A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), reforçou a tese de que as irregularidades nasceram durante o governo Bolsonaro. Em publicação feita nesta quarta-feira (7) na rede X (antigo Twitter), Gleisi escreveu: “Foi no governo Bolsonaro que quadrilhas criaram entidades-fantasmas para roubar os aposentados, sem que nada fosse feito para investigá-las ou coibir sua ação no INSS. A maior parte das associações investigadas ou a atuar no governo Bolsonaro”.

Com o embate digital em pleno curso, o governo busca estratégias para mitigar os danos à sua imagem. No entanto, os dados da Bites deixam claro que, por ora, a oposição tem ditado o ritmo e o tom do debate público.