Para criticar Trump, Globo faz antes ataque rasteiro a Lula

247 – Em editorial publicado nesta terça-feira (23), o jornal O Globo escancarou seu alinhamento ideológico ao comparar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no que classifica como “populismo econômico”. O texto, que tem como pretexto a mais recente investida de Trump contra o presidente do Fed, Jerome Powell, termina por ser menos uma análise do cenário internacional e mais um ataque velado — e enviesado — ao presidente brasileiro. Ao invés de criticar com seriedade os riscos reais trazidos pela instabilidade gerada por Trump, o jornal opta por distorcer o debate e retomar uma narrativa desgastada contra Lula, em mais uma demonstração de que já está em campanha aberta contra o governo.

A comparação entre Lula e Trump é não apenas absurda, como intelectualmente desonesta. O presidente brasileiro nunca desrespeitou a legalidade institucional nem ameaçou, como Trump fez explicitamente, demitir o presidente do Banco Central por discordar de sua política de juros. O que Lula fez — e com razão — foi criticar, de forma legítima e pública, a conduta do então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cuja atuação foi marcada por resistência à queda da taxa Selic mesmo diante da melhora dos indicadores econômicos. Em suas palavras, Lula questionou: “Como é possível que um país que tem inflação caindo, crescimento subindo, geração de empregos aumentando, continue com uma taxa de juros real entre as mais altas do mundo?”

As críticas de Lula a Campos Neto foram mais do que justas. Expressaram o inconformismo de amplos setores da sociedade, da indústria ao comércio, que sofrem diretamente os efeitos da política monetária excessivamente restritiva. Questionar essa condução não é populismo: é política. É o exercício democrático da divergência, tão legítimo quanto necessário num regime republicano.

Já Trump, em sua cruzada autoritária e desestabilizadora, vem promovendo uma escalada tarifária que mina o sistema multilateral de comércio, ameaça cadeias produtivas globais e impulsiona a inflação mundial. O próprio Globo ite, no mesmo editorial, que as ameaças de demissão de Powell causaram pânico nos mercados financeiros e levaram o ouro a romper a barreira histórica dos US$ 3.500 por onça. Ainda assim, o jornal tenta relativizar a gravidade dessas ações ao buscar um suposto “equilíbrio” com críticas enviesadas a Lula.

A crítica à interferência política nas decisões monetárias é legítima — quando feita com isenção e responsabilidade. O que o editorial do Globo faz, no entanto, é mascarar seu viés antipetista sob uma falsa simetria. Ao tentar nivelar Trump e Lula como faces de um mesmo populismo, o jornal falseia a realidade, oculta os contextos e embaralha os critérios. O resultado é uma peça de propaganda disfarçada de opinião, que serve muito mais aos interesses da velha ordem neoliberal do que ao jornalismo sério e comprometido com a verdade.

Enquanto o governo brasileiro atua para fortalecer a soberania nacional, ampliar a integração regional e proteger a economia dos choques externos — como demonstra a recente cúpula com o Chile e a preparação para a Cúpula China-Celac, marcada para 13 de maio, em Pequim, com a presença do presidente Lula — parte da imprensa segue operando como linha auxiliar da oposição e do rentismo financeiro.

É legítimo divergir do governo. Mas é inaceitável distorcer os fatos para atacar um presidente que tem atuado dentro dos marcos da democracia, com foco em crescimento, distribuição de renda e justiça social. Neste momento de instabilidade global, o país precisa de um debate qualificado — e não de editoriais rancorosos e manipuladores.