China reduz juros para estimular economia em meio a tensão comercial com os EUA
Com corte nas taxas de empréstimo e depósitos, Pequim busca reanimar o consumo e o crédito
247 – Em uma tentativa de fortalecer sua economia em meio aos impactos persistentes da guerra comercial com os Estados Unidos, a China anunciou nesta terça-feira, 20 de maio, o primeiro corte em suas principais taxas de juros desde outubro de 2024. A decisão foi noticiada pela agência Reuters, que destacou a movimentação coordenada entre o Banco Popular da China (PBOC) e os grandes bancos estatais para reduzir o custo do crédito e reverter a desaceleração do segundo maior PIB do planeta.
As mudanças ocorrem em um cenário de fragilidade econômica e incerteza geopolítica, especialmente após as recentes negociações entre autoridades chinesas e norte-americanas em Genebra, que resultaram em uma pausa de 90 dias na escalada tarifária entre os dois países. A trégua, ainda que provisória, abriu espaço para ajustes na política monetária interna da China.
Corte nas taxas e reação dos bancos
O PBOC anunciou a redução da taxa referencial de empréstimos de um ano (Loan Prime Rate - LPR) em 10 pontos-base, ando de 3,1% para 3,0%. A LPR de cinco anos, utilizada como referência para financiamentos imobiliários, também caiu 10 pontos-base, agora em 3,5%. Ambas as taxas atingem seus níveis mais baixos desde a reforma do mecanismo de precificação em 2019.
Logo após o anúncio, cinco dos maiores bancos estatais — Industrial and Commercial Bank of China, Agricultural Bank of China, China Construction Bank, Bank of China e Bank of Communications — comunicaram reduções nas taxas de depósito entre 5 e 25 pontos-base, de acordo com os valores publicados em seus aplicativos móveis. A medida deverá orientar cortes semelhantes por instituições financeiras de menor porte.
A leve alta de 0,3% no índice bancário CSI 399986 sugere que o mercado recebeu positivamente a medida, apesar da cautela evidente das autoridades monetárias.
Estímulo contido e expectativas de crescimento
Embora esperadas, as reduções foram modestas, refletindo a estratégia gradual de flexibilização do PBOC. Para Marco Sun, analista-chefe de mercados financeiros do MUFG Bank (China), o corte busca "estimular o consumo e o crédito", mas é provável que o banco central adote uma postura de observação nos próximos meses, "a menos que os riscos geopolíticos externos se agravem a ponto de frustrar as expectativas de estabilização econômica".
Ting Lu, economista-chefe da Nomura para a China, ressaltou: "Ainda acreditamos que será bastante desafiador para Pequim atingir a meta de crescimento de 'cerca de 5%' sem um pacote de estímulo mais robusto". Segundo ele, a trégua tarifária com os Estados Unidos pode reduzir a pressão para a adoção de medidas mais incisivas.
Indicadores recentes mostram um cenário de recuperação fraca. Os preços de imóveis novos ficaram estagnados em abril, mantendo uma tendência de quase dois anos sem crescimento, apesar das tentativas do governo de reanimar o setor. Além disso, os empréstimos bancários caíram mais do que o esperado no último mês.
Lucros dos bancos sob pressão
Segundo Xing Zhaopeng, estrategista sênior da ANZ, o corte de juros tem também o objetivo de "reparar a margem líquida de juros dos bancos comerciais e preparar o terreno para o futuro". Ele prevê mais uma redução até o fim de julho.
Nicholas Zhu, analista da Moody’s, avalia que o país deve enfrentar um período prolongado de juros baixos. “A redução nos custos dos depósitos ajuda a compensar parcialmente o impacto dos rendimentos menores dos ativos, que seguem pressionados à medida que os bancos são convocados a apoiar a economia real.”
As grandes instituições financeiras chinesas já haviam reduzido suas taxas de depósito em julho e outubro de 2024, após três rodadas de cortes em 2023. Ainda assim, os resultados do primeiro trimestre de 2025 mostram margens estreitas e, em alguns casos, queda nos lucros. O dado mais alarmante é a margem líquida de juros do setor, que caiu para o recorde mínimo de 1,43%, com projeções de novas quedas entre 10 e 15 pontos-base ao longo do ano, segundo analistas da China International Capital Corp.
Em meio a um cenário de pressões externas e desempenho interno desigual, a China adota uma abordagem cuidadosa para reanimar sua economia. A escolha por cortes moderados nas taxas sinaliza a tentativa de manter o equilíbrio entre estímulo e prudência financeira, ao mesmo tempo em que acompanha os desdobramentos da guerra comercial com os Estados Unidos, agora em fase de trégua sob o segundo mandato do presidente norte-americano Donald Trump.
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