Groenlândia vai às urnas em eleição dominada por ameaças de Trump
Líderes dos cinco partidos representados no parlamento foram unânimes ao afirmar que não confiam em Trump
247 – Os habitantes da Groenlândia votaram nesta terça-feira (11) em uma eleição que ganhou destaque internacional após a ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de assumir o controle da ilha rica em minerais, reacendendo o debate sobre sua independência. A reportagem é da Reuters.
Desde que assumiu o cargo em janeiro, Trump tem defendido que a Groenlândia – um território semiautônomo da Dinamarca – deve fazer parte dos Estados Unidos, alegando que a ilha é essencial para os interesses de segurança nacional dos EUA.
A vasta ilha, com uma população de apenas 57 mil habitantes, tornou-se peça-chave na disputa geopolítica pelo domínio do Ártico, onde o derretimento das calotas polares está tornando seus recursos mais íveis e abrindo novas rotas de navegação. Tanto a Rússia quanto a China intensificaram suas atividades militares na região.
A Groenlândia foi uma colônia dinamarquesa até 1953 e se tornou território autônomo em 1979, quando formou seu primeiro parlamento. No entanto, Copenhague ainda controla assuntos externos, defesa e política monetária, além de fornecer cerca de US$ 1 bilhão por ano para a economia local.
Em 2009, o território obteve o direito de declarar independência total por meio de um referendo, mas ainda não o fez devido ao receio de que os padrões de vida caiam sem o apoio financeiro da Dinamarca.
A votação começou às 11h GMT em 72 seções eleitorais espalhadas pela ilha ártica. Ao todo, 40.500 pessoas estavam aptas a votar. As urnas foram fechadas às 22h GMT, e o resultado final é esperado entre 1h e 3h GMT de quarta-feira.
"Estou muito animada. Espero que as pessoas votem com bom senso e sem ganância", afirmou Liv Aurora, candidata do partido governista Inuit Ataqatigiit, em um local de votação na capital Nuuk.
"Quero fazer a diferença e tornar a Groenlândia forte e independente", acrescentou.
Orgulho inuíte
O interesse declarado de Trump abalou o status quo e, combinado com o crescente orgulho da população indígena em sua cultura inuíte, colocou a independência no centro do debate eleitoral.
"A questão da independência foi colocada em alta velocidade por Trump", disse Masaana Egede, editor do jornal local Sermitsiaq. "Isso abafou os debates sobre questões do dia a dia."
No último debate antes da eleição, transmitido pela emissora estatal KNR na noite de segunda-feira, os líderes dos cinco partidos representados no parlamento foram unânimes ao afirmar que não confiam em Trump.
"Ele está tentando nos influenciar. Entendo que os cidadãos possam se sentir inseguros", afirmou Erik Jensen, líder do Siumut, partido da coalizão governista.
Não foram divulgadas pesquisas de boca de urna. Uma sondagem realizada em janeiro sugeriu que a maioria dos habitantes da Groenlândia apoia a independência, mas há divisões sobre o momento ideal para essa decisão.
No início da campanha eleitoral, as discussões estavam centradas na raiva e frustração em relação aos erros históricos cometidos pela Dinamarca, antiga potência colonial, segundo Julie Rademacher, consultora e ex-assessora do governo groenlandês.
"Mas acho que ultimamente o medo da abordagem imperialista dos EUA se tornou maior do que a raiva em relação à Dinamarca", avaliou Rademacher.
A Reuters entrevistou mais de uma dúzia de groenlandeses em Nuuk, todos favoráveis à independência. No entanto, muitos expressaram preocupação de que uma transição abrupta poderia prejudicar a economia e acabar com benefícios do modelo de bem-estar social nórdico, como o o universal à saúde e à educação gratuita.
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