Nova rodada de negociações diretas entre Rússia e Ucrânia será realizada em Istambul
Reunião acontece no Palácio Ciragan, com trocas de memorandos e presença das delegações renovadas; clima é de tensão após ataques e críticas mútuas
247 – Rússia e Ucrânia voltam a se encontrar neste domingo (2), em Istambul, para uma nova rodada de negociações diretas que pode abrir caminho para um eventual cessar-fogo. O encontro, marcado para as 13h (horário local e de Moscou), será realizado no histórico Palácio Ciragan. As informações foram divulgadas pela agência russa TASS, que acompanha de perto os desdobramentos diplomáticos do conflito.
O anúncio do novo encontro foi feito em 28 de maio pelo chanceler russo, Sergey Lavrov. “O lado russo, conforme o combinado, desenvolveu prontamente um memorando correspondente, que define nossa posição sobre todos os aspectos para superar de forma confiável as causas do conflito. Nossa delegação está pronta para apresentar este documento à delegação ucraniana e fornecer os esclarecimentos necessários”, declarou Lavrov.
A delegação russa, liderada pelo assessor presidencial Vladimir Medinsky, será a mesma da primeira rodada realizada em 16 de maio. Participam também o vice-chanceler Mikhail Galuzin, o chefe da Inteligência Militar Igor Kostyukov e o vice-ministro da Defesa Alexander Fomin. Já o lado ucraniano, chefiado pelo ministro da Defesa Rustem Umerov, chega com mudanças significativas: três novos nomes integram a comitiva, incluindo o deputado Yury Kovbasa e altos funcionários do Estado-Maior das Forças Armadas.
Durante o primeiro encontro, após mais de três anos sem conversas diretas, Rússia e Ucrânia acertaram um plano de troca de prisioneiros na proporção de “1.000 por 1.000”, o que se concretizou. As duas delegações também se comprometeram a apresentar suas visões sobre um possível cessar-fogo. A retomada do diálogo ocorreu por iniciativa do presidente russo Vladimir Putin, após uma conversa telefônica com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que está em seu segundo mandato desde janeiro de 2025.
No entanto, o clima entre os dois lados permanece tenso. O Ministério da Defesa russo relatou ataques com drones ucranianos contra bases aéreas em cinco regiões da Rússia. A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zakharova, acusou Kiev de reagir com “alegria infernal” à destruição de pontes nas regiões de Kursk e Bryansk. “Zelensky montou um circo em torno das negociações”, disse Zakharova, referindo-se às pressões externas sobre o governo ucraniano e à relutância inicial de Kiev em aceitar os termos propostos por Moscou.
Ainda segundo Zakharova, há curadores ocidentais que não abandonaram o plano de impor à Rússia uma derrota estratégica. “Eles voltaram ao histrionismo, produziram o mesmo ruído não construtivo de antes. Mas, no fim, sentaram-se à mesa de negociação e firmaram o maior acordo de troca de prisioneiros da guerra”, afirmou.
O local do encontro também tem valor simbólico. O Palácio Ciragan, antigo palácio otomano transformado em hotel de luxo, está a poucos metros do gabinete presidencial de Dolmabahçe, onde também ocorreram negociações anteriores, incluindo as de 2022. Lavrov elogiou a escolha do local. “Istambul é muito boa”, disse ele, descartando outras opções como o Vaticano ou Genebra, que chegaram a ser cogitadas.
A presença de representantes dos Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido é esperada em Istambul, mas Moscou minimiza qualquer participação direta de intermediários. “Sabemos dos movimentos desses países, mas a iniciativa do presidente Putin é por negociações bilaterais diretas”, reforçou Zakharova. O enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg, também confirmou que os países ocidentais estarão presentes apenas como observadores.
A imprensa russa também noticiou ameaças de grupos extremistas ucranianos à família de Medinsky, chefe da delegação russa. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, qualificou a situação como “escandalosa e sem precedentes”. Medinsky, inclusive, foi incluído no banco de dados do site extremista ucraniano Mirotvorets, que cataloga supostos “inimigos da Ucrânia”.
Com a troca de memorandos e a expectativa de discussões mais concretas sobre um cessar-fogo, o encontro de hoje em Istambul poderá representar um o importante para a redução das hostilidades, apesar do ambiente ainda marcado por ataques e retórica agressiva de ambos os lados.
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