Pepe Escobar denuncia: conflito na Caxemira é parte da guerra híbrida contra os BRICS
Analista aponta envolvimento velado da CIA e papel da Rússia como mediadora na escalada entre Índia e Paquistão
247 – Em análise publicada em seu canal no YouTube, o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar denunciou que a recente escalada entre Índia e Paquistão na região da Caxemira faz parte de uma estratégia deliberada de desestabilização do Sul Global. Segundo ele, o confronto é mais um capítulo da guerra híbrida conduzida por potências ocidentais contra os BRICS, bloco que se consolida como alternativa à ordem unipolar. “Adivinha quem está tentando desescalar a escalada dos dois? A Rússia”, afirmou, ao apontar Moscou como única força capaz de impedir uma confrontação de proporções catastróficas.
Escobar também destacou o papel central do chanceler russo Sergei Lavrov na recente reunião de ministros das Relações Exteriores dos BRICS, realizada no Rio de Janeiro. “Lavrov colocou os pontos nos is antes mesmo de chegar ao Rio, em relação à guerra na Ucrânia e aos imperativos de segurança nacional da Rússia”, observou. Para ele, o momento é crucial e exige do Brasil um protagonismo à altura do novo patamar que o bloco busca alcançar.
Caxemira como frente da guerra híbrida
O jornalista relembrou suas visitas à Caxemira, tanto na região istrada pela Índia quanto na porção controlada pelo Paquistão, conhecida como Azad Caxemira. Ele enfatizou que compreender a disputa exige conhecer a realidade vivida pelas populações locais. “É um ninho de vespas. É extremamente complicado”, disse, apontando que o conflito atual é herança direta da partição colonial de 1947, imposta pelo império britânico.
Escobar relatou que o recente ataque a um ônibus de turistas hindus e muçulmanos no lado indiano da Caxemira, atribuído a uma facção ligada ao grupo Lashkar-e-Taiba, ocorreu em um momento estrategicamente suspeito. “O timing desse atentado é extremamente capcioso”, alertou, lembrando que o ataque seguiu-se a visitas diplomáticas envolvendo o primeiro-ministro Narendra Modi e o príncipe saudita Mohammed bin Salman.
O divisor de águas entre Índia, Paquistão e China
Para Escobar, o principal objetivo das provocações é forçar uma confrontação entre Índia e Paquistão que, por consequência, coloque a Índia contra a China, já que Islamabad é aliado estratégico de Pequim. “É uma guerra contra os BRICS em dois ângulos extremamente importantes”, afirmou. Um deles seria fragilizar a Índia dentro do bloco, e o outro, comprometer o projeto do Corredor Econômico China-Paquistão (EC), eixo essencial da Iniciativa Cinturão e Rota.
Segundo ele, operações encobertas promovidas por agências de inteligência, especialmente a CIA, estariam por trás do aumento das tensões. “Isso é o que a CIA faz melhor: atentados de falsa bandeira, operações sujas financiadas por fundos ilegais, como nos tempos do contrabando de ópio no Afeganistão”, denunciou.
Diplomacia multilateral e o papel dos BRICS
Apesar das tensões, Escobar vê na diplomacia multilateral a única via racional. Índia e Paquistão são membros da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), ao lado de Rússia, China e Irã. “O Irã já havia se oferecido como mediador, mas é a Rússia quem já começou a atuar de forma mais decisiva, chamando os dois para conversar”, afirmou.
Ele ressalta, no entanto, que o orgulho nacionalista e a irracionalidade predominam na política entre os dois países, dificultando acordos. “A diplomacia é o último recurso sempre entre Índia e Paquistão, ainda mais no caso de quem apoia Modi. Esses dementes são absolutamente racistas e antimuçulmanos”, criticou. Por outro lado, Escobar também não poupou críticas à elite militar paquistanesa, que prendeu o ex-primeiro-ministro Imran Khan com acusações “espúrias” e destruiu seu projeto de transformar o país em um ator respeitado no Sul Global.
O Brasil no centro da reconstrução multipolar
Com tom irônico e referências culturais, Escobar associa o conflito na Caxemira ao caos pós-moderno do Ocidente. Ele compara a interpretação da mídia sobre o caso ao surrealismo de Alice no País das Maravilhas e à música Kashmir, do Led Zeppelin. “Estamos todos mergulhados nessa demência serial, nesse reality show geopolítico”, disse.
Ao final, o analista lança um apelo ao Brasil, que sediará a próxima cúpula dos BRICS. “Cabe agora ao Brasil manter esse nível, esse patamar, que é o que todos nós no Sul Global esperamos das decisões da cúpula no Rio”, declarou. Para Escobar, fortalecer a integração dos BRICS é vital para resistir à ofensiva de desestabilização conduzida pelas potências decadentes. “É preciso cortar com o dividir para reinar, manipular Índia e Paquistão, e concentrar os esforços para que os BRICS avancem no plano geoeconômico e financeiro”, concluiu. Assista:
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