Romenos votam em segundo turno presidencial que pode ampliar divisões na União Europeia
George Simion, nacionalista de extrema-direita que se opõe à ajuda militar à Ucrânia e critica a liderança da União Europeia, venceu com folga o 1º turno
(Reuters) – Os romenos foram às urnas neste domingo para o segundo turno das eleições presidenciais, que opõe um candidato nacionalista de extrema-direita e eurocético a um centrista independente. O resultado poderá impactar tanto a economia fragilizada do país quanto a unidade da União Europeia.
George Simion, 38 anos, nacionalista de extrema-direita que se opõe à ajuda militar à Ucrânia e critica a liderança da União Europeia, venceu com folga o primeiro turno, o que levou à queda do governo pró-Ocidente, provocando fuga significativa de capitais.
Do outro lado está Nicusor Dan, 55 anos, prefeito centrista de Bucareste, pró-UE e pró-OTAN, que prometeu combater a corrupção e afirma que o apoio da Romênia à Ucrânia é vital para a segurança do país diante da crescente ameaça russa.
O presidente da Romênia — Estado-membro da UE e da OTAN — possui amplos poderes, incluindo a presidência do conselho de defesa, que decide sobre auxílio militar. Também tem autoridade sobre a política externa e pode vetar votações da UE que exigem unanimidade.
Quem for eleito deverá indicar um novo primeiro-ministro e negociar maioria no Parlamento para reduzir o déficit orçamentário da Romênia — o maior da UE —, tranquilizar investidores e tentar evitar a perda do grau de investimento.
Uma pesquisa divulgada na sexta-feira mostrou Dan ligeiramente à frente de Simion pela primeira vez desde o primeiro turno, em uma disputa acirrada que dependerá da participação e da numerosa diáspora romena.
Até as 03h34 (horário de Brasília), cerca de 2,06 milhões de eleitores — 11,5% dos registrados — já haviam votado, incluindo no exterior. A votação termina às 15h (horário de Brasília) com divulgação imediata das pesquisas de boca de urna. Os resultados preliminares são esperados ainda na noite de domingo. O mandato presidencial é de cinco anos, com limite de dois mandatos por pessoa.
“Ao contrário dos países ocidentais, que podem se dar ao luxo de cometer erros, a confiança na Romênia pode ser perdida com muito mais facilidade — e pode levar gerações para ser recuperada”, disse Radu Burnete, diretor da maior entidade patronal do país.
“Não podemos nos permitir perder o rumo.”
Risco de isolamento
Analistas políticos afirmam que uma vitória de Simion, que é apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, poderia isolar a Romênia internacionalmente, enfraquecer os investimentos privados e desestabilizar a frente oriental da OTAN.
A eleição ocorre quase seis meses após a anulação do pleito anterior por suposta interferência da Rússia — negada por Moscou — em favor do então favorito de extrema-direita Calin Georgescu, posteriormente impedido de concorrer novamente.
Simion deve parte de seu sucesso à indignação popular contra essa decisão, além da frustração generalizada com os partidos tradicionais, acusados de promover altos custos de vida, desigualdade e corrupção.
Ele já declarou que, se eleito, nomeará Georgescu — defensor de nacionalizações e de maior proximidade com a Rússia — como primeiro-ministro.
Simion votou ao lado de Georgescu nos arredores de Bucareste, cercado por seguranças e apoiadores.
“Votei contra os abusos e contra a pobreza”, declarou. “Votei contra aqueles que nos desprezam.”
Dan votou em Făgăraș, sua cidade natal no centro do país, onde abraçou antigos professores e convocou os eleitores às urnas:
“A Romênia está escolhendo seu futuro por mais de cinco anos, estamos diante de um ponto de inflexão”, afirmou.
“Votei por uma mudança que traga prosperidade, não pelo desestímulo ao investimento. Votei por uma boa cooperação com nossos parceiros europeus, e não pelo isolamento.”
Também neste domingo, a Polônia realiza o primeiro turno de sua eleição presidencial, liderada pelo prefeito pró-UE de Varsóvia Rafal Trzaskowski e pelo historiador conservador Karol Nawrocki.
Vitórias de Simion e/ou Nawrocki ampliariam o bloco de líderes eurocéticos da região, que já inclui os primeiros-ministros da Hungria e da Eslováquia, refletindo uma guinada política na Europa Central com potencial de aprofundar divisões na UE.
“O que os nacionalistas querem é uma União Europeia o menos integrada possível”, afirmou o historiador e analista político Ion M. Ionita.
“Uma UE onde as decisões sejam tomadas apenas a nível nacional, mas que continue distribuindo os recursos europeus.”
Alguns analistas alertaram ainda para a disseminação de desinformação nas redes sociais nos dias que antecederam a eleição.
“Estamos vendo a desinformação se espalhar como fogo em plataformas digitais — por meio de bots e repostagens estratégicas que imitam publicações autênticas”, disse Roxana Radu, especialista da Blavatnik School of Government da Universidade de Oxford.
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