Visita ao Camboja é novo capítulo das alianças estratégicas da China no Sudeste Asiático, em meio à guerra comercial de Trump
Xi Jinping celebra amizade histórica entre China e Camboja e propõe nova era de cooperação
247 - Em visita oficial ao Camboja, nesta quinta-feira (17), o presidente da China, Xi Jinping, afirmou que os laços entre os dois países "resistiram ao teste das transformações globais" e seguem “sólidos como sempre”. A declaração foi feita logo após sua chegada a Phnom Penh, e integra uma ampla mensagem escrita divulgada pela Xinhua, agência estatal chinesa. O Camboja é a terceira e última etapa de uma viagem que já ou por Vietnã e Malásia, reforçando a aproximação estratégica da China com o Sudeste Asiático.
A visita acontece por ocasião do Ano Novo Khmer, o que Xi destacou com entusiasmo: “Estou muito feliz em visitar o Camboja por ocasião do Ano Novo Khmer. Para mim, é como visitar a casa de um bom amigo. Desejo transmitir meus mais calorosos votos de Ano Novo aos nossos irmãos e irmãs no Camboja.” Esta é a segunda vez que o líder chinês visita o país em nove anos. Em seu artigo, Xi ressalta o desejo de “impulsionar o progresso na construção de uma comunidade sino-cambojana com um futuro compartilhado”.
Segundo ele, essa comunidade se sustenta em quatro pilares principais: o legado histórico, o compromisso com a amizade e a justiça, a cooperação baseada em igualdade e benefício mútuo e a inclusão com aprendizado recíproco. O presidente também reforçou a importância de elevar a confiança política, combater interferências externas e aprofundar o intercâmbio entre os povos.
Xi recordou que a relação entre China e Camboja tem raízes profundas. “Nosso intercâmbio amigável abrange dois milênios”, disse, citando visitas reais de Chenla à capital chinesa na Dinastia Tang, o florescimento comercial ao longo da Rota da Seda Marítima e a circulação de obras históricas como Os Costumes do Camboja, do diplomata Zhou Daguan. “As grandes civilizações chinesa e Khmer floresceram juntas, inspirando uma à outra ao longo dos séculos”, afirmou.
Ele destacou também a forte ligação forjada entre os líderes históricos de ambos os países, como Norodom Sihanouk, Mao Zedong e Zhou Enlai. “Setenta anos atrás, Samdech Preah Sihanouk e o primeiro-ministro Zhou se encontraram na Conferência de Bandung e imediatamente se uniram como velhos amigos”, lembrou Xi, exaltando o gesto de apoio cambojano ao estabelecer relações diplomáticas com a República Popular da China em 1958, quando muitos países ainda não o faziam.
A amizade mútua se manteve em tempos difíceis. O presidente chinês lembrou que a China esteve ao lado do Camboja em sua luta contra a invasão estrangeira e na defesa da soberania. Ele também enfatizou a acolhida que Sihanouk teve na China, onde viveu por quase quatro décadas. Xi destacou ainda a deferência da família real cambojana, que mantém visitas frequentes à China, incluindo o rei Norodom Sihamoni e a rainha-mãe Monineath Sihanouk.
Durante a pandemia, esse vínculo se tornou ainda mais evidente. “O então primeiro-ministro Hun Sen desafiou a neve e o vento para visitar Pequim. A China enviou equipes médicas e grandes quantidades de suprimentos”, recordou Xi. “Nossas duas nações forjaram uma amizade inabalável.”
No plano econômico, o presidente destacou que a China é o maior parceiro comercial e principal fonte de investimento do Camboja. Ele mencionou os frutos da cooperação bilateral, como a chegada de frutas cambojanas ao mercado chinês graças ao acordo de livre comércio, e o sucesso da Zona Econômica Especial de Sihanoukville, que atraiu mais de 200 empresas.
Xi citou grandes obras de infraestrutura como resultado concreto da parceria: “a primeira via expressa do Camboja, o maior estádio, a maior usina elétrica e o primeiro viaduto sobre um vale fluvial”. Ele também lembrou ações sociais, como o projeto de alívio à pobreza e poços perfurados com ajuda chinesa. “Uma menina com deficiência auditiva articulou 'mamãe' pela primeira vez graças ao tratamento com medicina tradicional chinesa”, relatou.
Na agenda cultural, Xi destacou a contribuição chinesa na restauração de templos históricos em Angkor, como Ta Keo e Chau Say Tevoda, além da crescente presença de turistas chineses e o interesse de jovens cambojanos em aprender mandarim.
Xi Jinping também propôs uma série de iniciativas para aprofundar a parceria estratégica entre os dois países. Dentre elas, estão a integração entre a Iniciativa Cinturão e Rota e a Estratégia Pentagonal do Camboja; a expansão de corredores industriais e agrícolas; o combate conjunto às "revoluções coloridas" e fraudes cibernéticas; e o fortalecimento de projetos de intercâmbio cultural e governança.
O presidente enfatizou que a amizade sino-cambojana é parte de uma visão mais ampla da China para a região: “A Ásia está num novo ponto de partida. Devemos surfar a maré da história e atender às aspirações dos nossos povos.” Ele defendeu que os dois países devem atuar como “pioneiros na tradução das Iniciativas de Desenvolvimento, Segurança e Civilização Global em realidade”.
Por fim, Xi Jinping reiterou o compromisso com a paz e a cooperação internacional. “Devemos nos opor ao hegemonismo, à política de poder e ao confronto entre grupos. Devemos defender um mundo multipolar igualitário e uma globalização inclusiva.” Em tom simbólico, concluiu: “A verdadeira amizade, como o ouro refinado, resiste a todos os testes do tempo”.
A visita marca mais um capítulo no fortalecimento das alianças estratégicas da China no Sudeste Asiático, num momento em que Pequim busca consolidar sua influência regional e global diante da intensificação das disputas geopolíticas com os Estados Unidos, cujo presidente, Donald Trump, vem adotando medidas unilaterais e protecionistas no cenário internacional.
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