“O multilateralismo vai sobreviver e é a razão pela qual o mundo deu um salto de qualidade", diz Lula
Em Paris, presidente defende acordo entre Mercosul e União Europeia como símbolo de cooperação global
247 – Durante entrevista coletiva concedida neste sábado (7/6), em Paris, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou a importância estratégica do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, apresentando-o como uma resposta concreta ao avanço do unilateralismo nas relações internacionais. Segundo Lula, a iniciativa representa não apenas um pacto econômico, mas um o histórico em favor do multilateralismo. “O multilateralismo vai sobreviver e é a razão pela qual o mundo deu um salto de qualidade depois da Segunda Guerra Mundial”, afirmou, segundo reporta a Agência Gov.
Em tom direto e conciliador, Lula contou que apelou ao presidente francês Emmanuel Macron para que a França se engaje na do acordo. “Eu disse ao Macron: abra o seu coração para o Brasil e vamos esse acordo”, declarou. A França tem manifestado resistência a pontos do tratado, principalmente por pressões do setor agrícola. Lula, por sua vez, destacou que o Brasil está disposto ao diálogo e lembrou a solidez das relações entre os dois países. “A França não tem melhor amigo do que o Brasil na América do Sul e o Brasil não tem nenhum amigo melhor do que a França na Europa”.
Segundo o presidente, o tratado envolve uma população de 722 milhões de pessoas e um PIB conjunto de aproximadamente 22 trilhões de dólares. Lula reforçou que, ao assumir a presidência temporária do Mercosul em julho, seu objetivo será viabilizar um consenso em torno do acordo. “Eu não quero que seja um acordo em que as pessoas fiquem de cara feia. Nós vamos continuar conversando com a França, porque a França é um bom parceiro político, econômico, cultural e histórico. Eu estou convencido de que até eu deixar a Presidência do Mercosul vamos ter esse acordo assinado com todo mundo sorrindo”.
A resistência sa se concentra na preocupação de que os produtores locais sejam prejudicados pela concorrência do agronegócio brasileiro. Lula buscou tranquilizar os críticos, destacando a diversidade do setor rural brasileiro: “Longe de mim querer prejudicar o pequeno agricultor francês”. Ele ressaltou que o Brasil possui quase seis milhões de propriedades com até 100 hectares, sendo 2,5 milhões com menos de 10 hectares, que não integram o grande agronegócio. Para o presidente, essas estruturas produtivas podem, inclusive, ter complementaridades com a agricultura sa.
Lula também defendeu uma visão de equilíbrio nas trocas comerciais. “Eu não quero que a gente pare de comprar vinho da França, embora a gente produza vinho. Não quero deixar de comprar champanhe da França, embora a gente produza. Não quero deixar de comprar queijo francês, embora a gente produza também. A política comercial é uma via de duas mãos. A gente vende, a gente compra”, disse.
O acordo Mercosul-União Europeia foi tecnicamente concluído durante a Cúpula do Mercosul, em Montevidéu, no dia 6 de dezembro de 2024. O texto conta com 20 capítulos, anexos e documentos adicionais. No entanto, ainda precisa ar por revisão legal, tradução, formal e ratificação pelas instâncias legislativas dos dois blocos.
Com a União Europeia sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil — com uma corrente de comércio de 92 bilhões de dólares em 2023 — Lula ressaltou que o tratado contribuirá para modernizar o parque industrial brasileiro, ao integrar o país às cadeias produtivas europeias. Ele também prevê que o acordo dinamize fluxos de investimento estrangeiro. Atualmente, a UE já responde por quase metade do estoque de investimento estrangeiro direto no Brasil.
O presidente encerrou a entrevista demonstrando otimismo quanto à superação das resistências sas. “Eu vou encontrar com o Macron na COP30 e penso que lá, quando ele estiver embaixo de uma árvore de 30 metros, quando perceber a beleza da floresta, ele vai fazer o acordo”.
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