"Vamos conseguir estabelecer uma ordem multilateral, de maior cooperação", diz Dilma Rousseff
Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento destaca papel dos BRICS na construção de uma ordem internacional mais justa e multipolar
247 – Em entrevista concedida ao canal chinês CGTN, a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, afirmou que a instituição multilateral criada pelos BRICS está consolidada como um marco da cooperação internacional entre países em desenvolvimento. A entrevista ocorreu logo após a visita do presidente da China, Xi Jinping, à sede do banco em Xangai, no 10º aniversário da entidade. Segundo Dilma, o encontro com o presidente chinês foi “um grande sucesso” e reafirmou os valores fundadores do NDB.
“O presidente Xi Jinping sempre deu apoio e grande ajuda para o banco em momentos difíceis”, disse Dilma. “Ele designou a primeira década como uma década dourada e agora apontou que a próxima também será uma segunda década dourada.” Segundo a dirigente, Xi sugeriu três diretrizes fundamentais para o futuro do banco: manter o compromisso com os países do Sul Global, investir em áreas estratégicas como infraestrutura e tecnologia, e incentivar a inovação como força transformadora das nações emergentes.
A visão de um novo mundo multipolar
Ao comentar a importância do NDB na arquitetura financeira global, Dilma Rousseff destacou que o banco foi criado com o mandato de “mobilizar recursos para financiar infraestrutura, desenvolvimento sustentável e a transição energética nos mercados emergentes”. Ela salientou que o NDB não impõe condicionalidades como os bancos multilaterais tradicionais e que todos os países membros participam em condições de igualdade, sem vetos ou controle hegemônico. “Respeitamos o que os países querem. Não impomos agendas. É uma estrutura que reflete os princípios da cooperação verdadeira”, afirmou.
Dilma enfatizou ainda que o NDB já aprovou cerca de 120 projetos, que somam US$ 40 bilhões em investimentos. Entre as inovações institucionais, ela destacou o uso de moedas locais nos financiamentos, o que reduz o risco cambial e protege os projetos da volatilidade do mercado internacional.
Elogios à trajetória da China e de Xi Jinping
Durante a entrevista, Dilma fez elogios enfáticos à liderança do presidente Xi Jinping. “A China, sob a liderança de Xi, transformou-se na segunda maior economia do mundo, consolidou-se como a maior potência manufatureira global e assumiu a liderança em inovação”, disse. Para ela, um dos maiores feitos foi a retirada de 800 milhões de pessoas da pobreza extrema: “Como ex-presidente do Brasil, eu sei o que é liderar políticas de superação da pobreza. O que a China fez é inigualável.”
Dilma também destacou avanços chineses em inteligência artificial, tecnologia verde e qualidade de vida. “A filosofia de governança de Xi permitiu a construção de um socialismo com características chinesas, que serve de exemplo soberano e sustentável para os países do Sul Global”, declarou. Para a dirigente do NDB, Xi é “um dos poucos grandes líderes internacionais deste momento histórico” e também “um pensador sobre os desafios da governança”.
Críticas ao unilateralismo e à guerra comercial
Questionada sobre os desafios da ordem internacional atual, Dilma foi categórica ao criticar o que chamou de “lei da selva” nas relações internacionais e o crescente unilateralismo das grandes potências. Segundo ela, as sanções econômicas, a militarização da economia e o uso do dólar como arma de guerra são exemplos de práticas que fragilizam a estabilidade global.
“A guerra comercial é o maior erro que um país pode cometer. Ao tentar controlar a economia global por meio de tarifas abusivas, estão estimulando a desdolarização e enfraquecendo o próprio sistema que dizem defender”, afirmou, em referência às medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos. Dilma lembrou que o déficit em conta corrente norte-americano está relacionado ao “privilégio exorbitante” do dólar como moeda hegemônica, conceito atribuído ao ex-ministro das Finanças da França, Valéry Giscard d’Estaing.
Visão de futuro e expansão do NDB
Reeleita para mais um mandato à frente do NDB, Dilma Rousseff anunciou que o banco analisa a entrada de 17 novos países e que já incorporou recentemente membros como Argélia e Uruguai. “Nos próximos cinco anos, vamos seguir aprimorando nossa capacidade de financiamento, sobretudo em áreas como infraestrutura digital e economia do conhecimento”, afirmou.
Ela também citou como exemplo inspirador o avanço tecnológico da China em inteligência artificial, mesmo diante de sanções que tentaram barrar seu progresso. “É um exemplo para todo o Sul Global. Mostra que é possível superar barreiras com soberania e inovação”, disse.
Uma experiência pessoal com a China
Por fim, Dilma compartilhou sua experiência pessoal de viver em Xangai nos últimos dois anos. “Tenho visitado capitais históricas e museus. Fiquei impressionada com o sistema de concurso adotado na China dinástica. A riqueza cultural do país é imensa”, contou. A presidente do NDB destacou a importância de compreender a história chinesa para entender sua trajetória de desenvolvimento soberano e sua proposta de uma “comunidade global de futuro compartilhado”.
A entrevista marca um momento simbólico na trajetória do Novo Banco de Desenvolvimento e reforça a posição da China e dos BRICS na busca por uma ordem internacional mais equilibrada, baseada em cooperação, respeito à soberania e prosperidade comum. Assista:
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