No Rio, oficiais da PM são flagrados pela PF em negociação com chefão do tráfico, que ainda elogiam "gestão" do criminoso
Mensagens mostram oficiais da PM combinando patrulhamento com chefe do tráfico e elogiando sua "gestão" à frente do crime
247 - Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou que Fhillip da Silva Gregório, conhecido como Professor — um dos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro —, mantinha contatos frequentes com comandantes de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Complexo do Alemão. Segundo informações obtidas pelo jornal O Globo, mensagens extraídas da nuvem associada à conta de e-mail do criminoso mostram uma relação próxima entre oficiais da PM e o traficante, com acordos sobre áreas de patrulhamento e elogios à sua atuação no controle da venda de drogas.
Foragido há mais de seis anos, Professor é apontado como o terceiro homem mais influente do Comando Vermelho fora do sistema penitenciário. De acordo com o inquérito da PF, ele também desempenha papel central na aquisição de armamentos para a facção, mantendo conexões com organizações criminosas do Paraguai, Peru, Bolívia e Colômbia.
As conversas obtidas pela PF começaram na noite de 22 de novembro de 2022. Na ocasião, um oficial da UPP Fazendinha avisou Professor sobre uma troca de comando: “Vai trocar aí. Vou lá pro Manguinhos. Vai assumir um major aí, mas gente boa, sujeito homem. Eu não queria ir, mas não tem jeito. Já vou chegar em Manguinhos com guerra lá. Só dor de cabeça”, escreveu o policial. Em resposta, o traficante prometeu interceder junto ao "dono de Manguinhos" para facilitar a adaptação do novo comandante.
Em uma sequência de mensagens, Professor pergunta: “Deixa esse na mesma sintonia com nós?”, referindo-se, segundo o relatório da PF, à prática de pagamento de propina para evitar ações policiais contra o tráfico. O PM confirma: “Quando ar o comando, vou ar tudo pra ele, já até falei com ele”, e, em seguida, critica a atuação de criminosos armados que circulavam fora das áreas "controladas": “Eu seguro meus policiais, mato tudo no peito. Porque sei que tu é sujeito homem, cumpre tuas palavras”.
Durante a troca de mensagens, o oficial ainda elogiou a atuação de Professor: “Tua gestão é boa. O que te deixa mal são os roubos da (Rua) Canitar, que vão cair tudo na tua conta. Mas eu tô ligado que não é você, só que pra te defender é f....”, relatou. No fechamento da conversa, o comandante informou que o novo major seguiria usando a mesma linha telefônica dedicada a falar com o traficante: “O major pediu para deixar esse mesmo número com ele, o contato será esse mesmo, só que será com ele”.
Já sob nova chefia, em 30 de novembro, Professor procurou o sucessor para se queixar da presença de policiais em áreas dominadas pelo tráfico. “Mano, mudou o comando, né? Queria falar sobre uns policiais que tão entrando ali pela Praça do Sagaz e indo no fundo da firma. Nunca tivemos problemas, fica cada um no seu espaço pra gente evitar algum estresse. Nunca teve isso ali, policiamento parando os viciados e cercando por perto da firma”, reclamou. O novo comandante se comprometeu: “Tranquilo, vou ver isso aí”.
Ao longo de dezembro de 2022, o diálogo entre o traficante e o PM prosseguiu, sempre negociando movimentações e encontros. Em uma das mensagens, Professor escreveu: “Quer pedir para pegar hoje? Pois amanhã tem jogo”, referindo-se à partida entre Brasil e Croácia na Copa do Mundo. O policial respondeu: “Sim, ia falar isso com você”.
Esses registros compõem parte das provas reunidas na Operação Dakovo, deflagrada em dezembro de 2023, que denunciou 28 pessoas por envolvimento no tráfico internacional de 43 mil armas do Paraguai para facções criminosas brasileiras. Na ação, foi decretada a prisão de Professor pela Justiça Federal da Bahia, mas, até hoje, ele permanece foragido.
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