Mercadante: BNDES já aprovou 80% da verba para indústria até 2026
Presidente do banco destaca instrumentos para impulsionar a reindustrialização e critica efeitos dos juros altos na retomada do investimento
247 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já aprovou R$ 205 bilhões em financiamentos no âmbito da Nova Indústria Brasil (NIB), o que representa 80% da meta estabelecida até 2026. A informação foi dada pelo presidente do banco, Aloizio Mercadante, em entrevista à Folha de S.Paulo. Segundo ele, os resultados mostram que o plano de reindustrialização está em curso, apesar do ambiente econômico desafiador.
“Esse avanço só foi possível porque implementamos novos instrumentos, como o financiamento para inovação via TR [Taxa Referencial], com aprovação pelo Congresso, para quem precisa correr o risco e avançar em tecnologia, e o Novo Fundo Clima, com recursos para a descarbonização”, afirmou Mercadante.
O presidente do BNDES destacou ainda que os resultados já são visíveis na geração de empregos e na elevação da posição do Brasil no setor industrial global. “Dos 2,3 milhões de empregos criados pela atuação do BNDES, em 2023, 35% foram na indústria. Além disso, o Brasil subiu para a 25ª posição do ranking da indústria da transformação no mundo em 2024. No ano anterior, estávamos no 45º lugar”, disse.
Projetos financiados pelo banco incluem desde tecnologias emergentes até saúde pública. “O carro voador da Embraer, por exemplo, já recebeu mais de R$ 700 milhões em financiamento para a construção da fábrica em Taubaté e para o desenvolvimento do protótipo, garantindo emprego e exportação a partir do Brasil”, citou Mercadante. Também mencionou o plano de inovação da Positivo com inteligência artificial e o Butantan, que desenvolve bancos de vírus e células para produtos biológicos.
Segundo ele, o setor de saúde foi um dos que mais avançaram nos últimos dois anos. “A NIB apoia vários setores da indústria brasileira, como o da saúde, que bateu recorde no financiamento para novos medicamentos, vacinas e insumos farmacêuticos. Foram R$ 6,9 bilhões, valor superior aos seis anos anteriores ao governo Lula”, afirmou.
No comércio exterior, o banco também ampliou sua atuação. “De janeiro de 2023 a abril deste ano, foram R$ 37 bilhões em crédito para exportações, valor superior à soma dos sete anos das gestões anteriores”, disse. “Juntos, BNDES, Finep e Embrapii, em dois anos, já apoiaram mais de R$ 47 bilhões em inovação para o setor empresarial.”
Apesar dos avanços, Mercadante reconheceu os efeitos da taxa Selic elevada no apetite por financiamento. “É evidente que as taxas de juros elevadas impactam negativamente e continuam sendo um desafio”, afirmou. Para mitigar os efeitos, o banco tem buscado combinar diferentes fontes de recursos. “Temos procurado fazer, em muitos casos, um blend entre taxas de mercado com Fundo Clima e com TR para inovação, contribuindo para manter o apoio aos investimentos das empresas.”
Ele também rebateu críticas sobre a atuação do banco no mercado de crédito. “Ao contrário do que é propagado por alguns stalkers [perseguidores], cerca de 68% do nosso desembolso, em 2024, foi realizado com taxas de mercado. Além disso, o BNDES respondeu por apenas 1,4% do total de novas concessões de crédito do Sistema Financeiro Nacional. Portanto, não há que se falar que o BNDES afeta a potência da política monetária.”
Sobre as Letras de Crédito de Desenvolvimento (LCDs), Mercadante afirmou que o instrumento teve boa aceitação: “Em dezembro de 2024, captamos mais de R$ 9 bilhões, e, no primeiro trimestre de 2025, mais R$ 4,4 bilhões”. Ele destacou que o mecanismo ajuda a reduzir a dependência do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). “Esse novo instrumento é fundamental para diversificar e ampliar o funding do banco, especialmente em razão da ameaça à sustentabilidade do FAT desde a aprovação da reforma da Previdência, no governo anterior.”
No setor de energia, Mercadante afirmou que o país já é referência internacional. “Não é promessa. É realidade. O país líder em energia limpa é também um dos líderes globais em biocombustíveis, com recorde na produção de etanol e biodiesel, que alcançou, no governo do presidente Lula, mais de 43 bilhões de litros em 2023.”
Quanto às críticas à política comercial do governo, especialmente em relação à falta de sanções antidumping, Mercadante defendeu a atuação do Executivo: “O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin tem um papel de liderança nessa agenda ao conduzir as negociações de forma competente. Está claro que a ampla maioria dos países tem retomado medidas de política industrial e defesa das suas indústrias.”
Ele também citou editais do banco que atraíram projetos com investimentos privados expressivos. “No edital para transformação de minerais, recebemos projetos que ultraam os R$ 85 bilhões. Em outro, voltado para combustíveis sustentáveis, os projetos somam R$ 160 bilhões”, afirmou. “Neste ano, a Bosch instalou seu centro de P&D em agroindústria no Brasil graças ao apoio do BNDES.”
Por fim, sobre o acordo Mercosul-União Europeia, Mercadante vê potencial para a indústria brasileira: “A transição para uma economia verde abre caminhos para que a indústria nacional alcance mais mercados na União Europeia. Podemos avançar com motores híbridos, bioinsumos e uma agricultura mais tecnológica e, por isso, mais sustentável.”
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