Rompimento entre Musk e Trump ameaça aliança entre Vale do Silício e governo dos EUA
Conflito pode redefinir os rumos da política de inovação e enfraquecer os laços entre gigantes da tecnologia e a Casa Branca
247 - O relacionamento estreito entre Elon Musk e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que havia colocado o Vale do Silício no centro do poder político em Washington, entrou em colapso.
O desentendimento público entre os dois, revelado nesta quinta-feira (5), lança dúvidas sobre a continuidade da influência de bilionários da tecnologia no governo Trump e sobre o futuro das empresas de inovação diante de uma istração que, até então, sinalizava afinidade com o setor. A reportagem é do The New York Times.
Ao longo de 2024, figuras de peso da tecnologia norte-americana aram a apoiar abertamente Trump, muitos deles rompendo com um histórico de apoio aos democratas ou de neutralidade política. O movimento foi motivado, principalmente, por promessas do presidente de afrouxar a regulação sobre inteligência artificial e criptomoedas. Entretanto, com a recente deterioração da relação entre Musk e Trump, esses empresários poderão ter de escolher entre a lealdade pessoal e os interesses de suas empresas.
“Essa é uma história tão antiga quanto o tempo”, disse Venky Ganesan, sócio da Menlo Ventures, em referência à queda de Musk. “Como Ícaro, Elon está descobrindo que se você voa muito perto do sol, sua cera derrete e você despenca.”
Rompimento em meio a tensões
A crise entre Musk e Trump surge em um momento delicado, no qual os resultados das aproximações entre o setor de tecnologia e o governo ainda são incertos. A tentativa do Departamento de Justiça de desmembrar o Google segue em curso; o processo da Comissão Federal de Comércio contra a Meta, controladora do Facebook, acaba de ser encerrado em primeira instância, e os subsídios ou alívios tarifários prometidos para empresas como Apple foram, em grande parte, revertidos por Trump.
Apesar disso, Trump vinha cumprindo promessas feitas ao setor em áreas estratégicas. Seu governo avançou na desregulamentação das criptomoedas e incluiu, em uma proposta de política doméstica, um dispositivo que impede estados de criarem regulações próprias sobre inteligência artificial — uma medida que contrariou Musk. O empresário demonstrou descontentamento nas redes sociais, publicando um vídeo de Trump ao lado de um Tesla em frente à Casa Branca com a legenda: “Lembra disso? @realDonaldTrump”.
Impactos para os aliados e para o setor
O rompimento pode colocar em xeque os interesses de empresas como a SpaceX, que dependem de decisões regulatórias favoráveis para avançar. A empresa de Musk vinha pressionando a Comissão Federal de Comunicações por maior o ao espectro de frequência para o serviço de internet via satélite Starlink. Brendan Carr, presidente da FCC, era um entusiasta declarado da estratégia de Musk e chegou a comparecer a lançamentos da SpaceX. No entanto, com a tensão política em ascensão, especialistas como Blair Levin, ex-chefe de gabinete da FCC, avaliam que os contratos públicos de Musk podem se tornar alvos da Casa Branca. “Politicamente, é muito fácil ajustar certas regras de forma prejudicial a Musk”, disse Levin.
O clima de incerteza é ainda mais preocupante após o fracasso da SpaceX em garantir recursos do programa Broadband Equity Access and Deployment, de US$ 42,5 bilhões, criado na gestão Biden para ampliar o o à internet em áreas remotas — com preferência por fibra ótica, não satélite.
Divisão no Vale do Silício
A disputa também expõe as divisões entre os líderes do setor. Enquanto Musk se afasta do governo, nomes como David Sacks — amigo próximo e atual responsável pela política de IA e cripto do governo — permanecem leais a Trump. Outros empresários, como os sócios da Andreessen Horowitz, Marc Andreessen e Ben Horowitz, surpreenderam ao declarar apoio ao presidente. Horowitz, no entanto, voltou atrás após a entrada de Kamala Harris na corrida presidencial, embora sua empresa mantenha o endosso a Trump.
Na cerimônia de posse, nomes de destaque como Tim Cook (Apple), Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Sundar Pichai (Google), Sergey Brin (Google), Sam Altman (OpenAI) e Jensen Huang (Nvidia) marcaram presença ou mantiveram interlocução direta com o novo governo. Apesar disso, os benefícios esperados por muitos ainda não se concretizaram. Apple voltou a ser alvo de tarifas, e Huang teve restrições impostas à venda de chips para a China. Por outro lado, sua empresa foi autorizada a negociar com países do Oriente Médio, o que acabou beneficiando também a OpenAI.
Nova estratégia em curso
O secretário de Comércio, Howard Lutnick, tem buscado retomar a confiança do setor. Em evento recente patrocinado por empresas como Meta, Amazon, OpenAI, Microsoft e TikTok, ele anunciou a criação do “Center for AI Standards and Innovation”, que substituirá o antigo U.S. Safety Institute. “A América deve liderar em IA, e isso significa abraçar a inovação enquanto protegemos nossa infraestrutura”, disse Lutnick. O novo centro, segundo ele, terá como missão garantir “diretrizes confiáveis e claras — sem regulamentação excessiva”.
Mesmo com essa tentativa de estabilizar a relação entre Washington e o setor de tecnologia, o ime entre Musk e Trump introduz um novo fator de instabilidade. Sem Musk como elo privilegiado com a Casa Branca, o Vale do Silício poderá ver esvair a rara oportunidade de influência direta em decisões estratégicas do governo.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: