Rússia vê os ataques aos bombardeios como o embrião de uma declaração de guerra pelo Ocidente, diz Pepe Escobar
Silêncio estratégico em Moscou marca resposta ao ataque com drones; analista aponta risco de ruptura definitiva do equilíbrio nuclear pós-Guerra Fria
247 – Em nova edição do Pepe Café, publicada no YouTube, o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar relata diretamente de Moscou os desdobramentos de um dos momentos mais graves desde o início da guerra na Ucrânia: o ataque com drones contra bombardeiros estratégicos TU-95, que integram a tríade nuclear da Rússia. Escobar revela que o episódio gerou uma reação silenciosa, porém intensa, por parte do Kremlin. Segundo ele, os ataques são vistos pelas autoridades russas como o “embrião de uma declaração de guerra” promovida pelo Ocidente, com protagonismo de Estados Unidos e Reino Unido.
“Isso foi essencialmente uma operação da OTAN”, afirma Escobar, que relata ter se reunido em Moscou com fontes da alta inteligência russa e discutido o assunto com o diplomata britânico Alastair Crooke. O ataque, segundo ele, rompeu um protocolo histórico do tratado New START, que previa a exposição de bombardeiros nucleares a céu aberto como forma de garantir a verificação mútua entre potências atômicas.
Ataque coordenado e o papel de CIA, MI6 e Kiev
O analista aponta que, embora a execução tenha sido ucraniana, o planejamento e a autorização da operação teriam envolvido diretamente setores da CIA e do MI6 — as agências de inteligência dos EUA e do Reino Unido. Ele levanta ainda a possibilidade de inspiração em operações do Mossad. A dúvida central entre os formuladores de política em Moscou seria sobre quais facções — formais ou não — autorizaram o ataque e se o presidente dos EUA, Donald Trump, tinha conhecimento prévio da operação.
“A dúvida mais crítica em Moscou hoje é: Trump sabia? Ou foi mantido à margem, como parte de uma estratégia de negação plausível?”, questiona Escobar. Ele menciona que, após o ataque, o senador Marco Rubio teria telefonado para Sergei Lavrov para apresentar condolências — sem mencionar os bombardeiros atingidos.
Ruptura do tratado New START e o colapso do equilíbrio nuclear
Para Escobar, o aspecto mais alarmante do ataque está na quebra deliberada de um equilíbrio que perdurava desde a Guerra Fria. O tratado New START, que previa o monitoramento mútuo de armamentos nucleares estratégicos, foi efetivamente inviabilizado.
“A operação destruiu um equilíbrio que durou durante a Guerra Fria e o pós-Guerra Fria. O New START está morto”, afirma. Segundo o jornalista, o ataque mostrou que uma simples enxurrada de drones — mesmo operada por terceiros — pode atingir ativos nucleares de uma superpotência, o que transforma completamente o cenário de segurança internacional.
O “kabuki” de Istambul e a expectativa pela resposta russa
Enquanto o mundo se fixava nas imagens do ataque e na cobertura da mídia ocidental, um encontro diplomático ocorrido em Istambul — segundo Escobar — serviu apenas como “diversionismo”, sem tratar das causas profundas do conflito. “Não aconteceu nada importante em Istambul, apenas troca de prisioneiros e cadáveres”, resume.
O analista relata que há dois consensos entre os formuladores de política e inteligência em Moscou. O primeiro, popular, defende uma resposta massiva com mísseis. O segundo, mais estratégico, exige apuração minuciosa e resposta proporcional, sem precipitar uma guerra nuclear. “A investigação é 24 horas sobre 24. Eles querem determinar com precisão a cadeia de comando.”
O dilema russo: retaliar sem provocar a Terceira Guerra Mundial
Escobar destaca que o maior desafio para o Kremlin é calibrar uma resposta devastadora sem cair na armadilha de uma escalada nuclear, desejada por setores radicais do Ocidente. “Como lidar com todos esses cães raivosos sem provocar a terceira guerra mundial é o dilema russo por excelência.”
Mesmo reconhecendo que o ataque foi doloroso, ele enfatiza que a perda material foi limitada e a Rússia se prepara para responder no campo de batalha, não em negociações simbólicas. “A operação militar especial vai continuar. Isso vai ser resolvido no terreno”, afirma.
Conclusão: entre o silêncio e o Big Hit
Para Escobar, o silêncio do Kremlin é o prenúncio de uma resposta planejada e meticulosa. O “Big Hit” — a grande retaliação — poderá ocorrer a qualquer momento, com o objetivo de deixar claro que ataques contra a tríade nuclear russa não ficarão sem resposta.
“A questão definitiva é como a Rússia pode enfrentar e derrotar o Ocidente coletivo, infligir uma derrota estratégica e profunda, sem provocar a Terceira Guerra Mundial”, conclui. Segundo ele, a Rússia busca reafirmar sua soberania e capacidade militar diante de um Ocidente dividido, mas ainda perigoso. Assista:
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