"É impossível hoje competir com a China", diz Ricardo Alban, da CNI
Presidente da CNI cobra protagonismo da indústria e defende planejamento de longo prazo, com inspiração no sucesso do agronegócio
247 - Em evento realizado nesta segunda-feira (26) para marcar o Dia da Indústria, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, fez um apelo contundente pela centralidade da política industrial no projeto de desenvolvimento do país. As declarações foram feitas durante o fórum Nova Indústria Brasil, promovido pelo Brasil 247, BNDES e Agenda do Poder, que reuniu lideranças políticas, empresariais e acadêmicas para debater os caminhos da reindustrialização nacional.
Alban destacou que não há crescimento social sustentável sem expansão econômica e que, para isso, é imprescindível fortalecer o setor industrial. “Não existe economia que se desenvolva sem indústria. Não há nada que se desenvolva socialmente sem crescimento econômico. Então, temos que estar sentados nesta mesa; temos que ser o prato principal”, afirmou, em referência à urgência de reposicionar a indústria no centro das decisões estratégicas do país.
Ele ressaltou que o agronegócio pode servir de inspiração para a indústria, lembrando que o setor rural também começou pequeno e foi impulsionado por políticas públicas consistentes. “Temos muito o que aprender com o agro. O agro deu certo — que bom! O agro é um orgulho. Vamos seguir o caminho. O agro começou pequeno, com vários estímulos no mercado financeiro; depois, com a Embrapa, com o Plano Safra. Nós estamos começando aqui. Vamos implementar a LCD, vamos caminhar step by step, mas sempre em uma curva ascendente.”
Alban também expressou preocupação com os efeitos estruturais da política de juros elevados. Embora reconheça que a atual taxa básica de juros é um problema, ele alerta para o impacto prolongado do acúmulo da dívida pública. “Muito mais problemático do que o momento atual é a herança deixada por essa taxa de juros. Podemos chegar ao ponto de não termos condições de que nenhum superávit primário dê conta da exponencial do crescimento do serviço da dívida. Essa é uma preocupação que deve ser de médio e longo prazo; não deve estar atrelada a mandatos — seja do Banco Central, de políticos, do presidente ou de representantes da CNI. Temos que pensar no amanhã.”
O dirigente foi enfático ao avaliar a competitividade da indústria brasileira frente à potência chinesa. “É impossível hoje competir com a China. Impossível. A China tem três fatores exclusivos que funcionam: escala, produtividade e tecnologia. Hoje, a China tem preço e qualidade. Como enfrentamos isso? Os Estados Unidos estão nessa encruzilhada porque a indústria norte-americana perdeu competitividade — assim como a indústria europeia. Então, é necessário algum tipo de barreira, digamos assim, para que se ganhe tempo e o mínimo de competitividade.”
Por fim, Alban reforçou que, durante décadas, a indústria nacional esteve à reboque de outros setores, particularmente do agronegócio, mas que há agora uma oportunidade concreta de mudança. “A indústria se desenvolveu muito pelo agro, porque havia recursos e demanda. Infelizmente, desde a época dos militares, o Brasil não tem uma política industrial efetiva. E nós voltamos a ter, neste governo, uma política industrial.”
O fórum Nova Indústria Brasil ocorre em um momento simbólico, de retomada do debate sobre uma política industrial estruturada no país. Com foco em inovação, sustentabilidade, soberania e modernização econômica, o encontro visa construir consensos e diretrizes para um novo ciclo de desenvolvimento industrial, com protagonismo do Estado e articulação entre setores produtivos, sindicatos e academia.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: