Ricardo Alban: "não faz sentido termos energia barata e tarifa alta"
Presidente da CNI defende política industrial duradoura, uso estratégico do gás natural e racionalização tributária
247 – Durante o evento Nova Indústria Brasil, realizado em 26 de maio na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, e promovido pelo Brasil 247 e pela Agenda do Poder, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, fez um discurso contundente em defesa de uma política industrial estruturada, da racionalização da política energética e da adoção de uma agenda de desenvolvimento com foco em competitividade. Um dos pontos mais marcantes de sua fala foi a crítica à distorção entre o custo de produção da energia e as tarifas cobradas da indústria: “Não faz sentido termos energia barata e tarifa alta. Essa equação precisa ser enfrentada com coragem.”
Alban elogiou o esforço do atual governo para reconstruir uma política industrial nacional, afirmando que o país voltou a debater seriamente o tema após décadas de negligência. “Desde a época dos militares não temos uma política industrial efetiva. Agora temos um recomeço e precisamos fazer disso um grande projeto nacional”, declarou, saudando o vice-presidente Geraldo Alckmin como o “Dom Quixote da Política Industrial”.
Planejamento de longo prazo e nova lógica industrial
Em sua fala, o presidente da CNI destacou que a reindustrialização do Brasil precisa ser pensada como política de Estado, com continuidade acima dos ciclos eleitorais. “Não podemos pensar em industrialização com visão de mandato. O compromisso tem que ser coletivo e duradouro. É trabalho de grupo, de equipe, de país.”
Alban também reforçou a necessidade de mudar a lógica das cadeias produtivas, hoje pautadas por uma globalização que enfraqueceu a indústria nacional. Segundo ele, é hora de buscar complementariedades regionais e agregação de valor em áreas estratégicas como etanol, terras raras, baterias e tecnologia digital.
Gás natural e energia como vetores de competitividade
Alban defendeu o uso estratégico do gás natural como vetor de crescimento industrial e pediu apoio à Petrobras e ao governo federal para transformar essa vantagem em política pública. “O gás é uma mola propulsora. Temos que tratar essa riqueza como prioridade nacional.”
Ele também criticou duramente a distorção entre a abundância de recursos energéticos e os altos preços cobrados da indústria: “O Brasil tem uma das energias mais baratas de produzir e uma das mais caras de consumir.”
Concorrência com a China e novas oportunidades
Ao comentar o cenário internacional, Alban destacou o desafio representado pela indústria chinesa, que combina escala, produtividade e tecnologia. “Hoje, o produto chinês não é apenas mais barato — ele também tem qualidade. Precisamos nos preparar para competir nesse novo contexto.”
Ele propôs parcerias com os Estados Unidos para desenvolver combustíveis sustentáveis para aviação (SAF), aproveitando a posição estratégica do Brasil na produção de etanol. Também defendeu a instalação de data centers no país, abastecidos por energia renovável e tecnologias de armazenamento, como baterias integradas a PCHs e gás natural.
Juros altos e racionalidade tributária
Alban alertou para o impacto nocivo da taxa Selic sobre o futuro da economia. Ele revelou ter iniciado diálogo com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre alternativas para ajustar a política monetária sem comprometer a estabilidade. “A dívida pública pode se tornar insustentável. Precisamos encontrar caminhos mais racionais.”
Sobre a reforma tributária, foi direto: “Não se trata apenas de carga tributária. Precisamos de racionalidade. É hora de enfrentar temas como a tributação das big techs. O setor produtivo quer contribuir.”
Indústria e desenvolvimento social caminham juntos
Encerrando sua fala, Alban reforçou a conexão entre reindustrialização e justiça social. “O setor produtivo precisa de clientes. Clientes são consumidores. Consumidores precisam de poder aquisitivo. Estamos todos falando a mesma língua.”
O discurso de Ricardo Alban no Nova Indústria Brasil sintetizou os anseios da indústria nacional por um novo ciclo de desenvolvimento. Com críticas objetivas, propostas concretas e apelo à união de esforços, ele deixou clara a urgência de reconstruir o Brasil a partir da base produtiva — e com energia justa para impulsionar o país. Assista:
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