Discurso de Lula em conferência da ONU defende paz nos mares e combate ao plástico nos oceanos
Presidente abriu evento da ONU sobre os oceanos em Nice com apelo à governança multilateral e à proteção da Amazônia Azul contra a mudança climática
247 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta segunda-feira (9), em Nice (França), durante a abertura da 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos, a importância de uma governança global multilateral para proteger o mar da corrida predatória por recursos minerais e dos impactos da crise climática. O discurso foi publicado na íntegra pelo site do Palácio do Planalto neste link.
Inspirado pela célebre frase do oceanógrafo Jacques Cousteau — "O ciclo da água e o ciclo da vida são um só" —, Lula alertou para a urgência de proteger os mares como parte essencial do combate à mudança do clima. “É impossível falar de desenvolvimento sustentável sem incluir o oceano. Sem protegê-lo, não há como combater a mudança do clima”, afirmou.
Defesa do multilateralismo e crítica ao unilateralismo
Lula resgatou o papel histórico da Convenção da ONU sobre o Direito do Mar como marco da diplomacia internacional e criticou os riscos do retorno a uma lógica unilateral. “Hoje, porém, paira sobre o oceano a ameaça do unilateralismo. Não podemos permitir que ocorra com o mar o que aconteceu no comércio internacional, cujas regras foram erodidas a ponto de deixar a OMC inoperante”, advertiu.
O presidente também defendeu o fortalecimento da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos, hoje presidida pela cientista brasileira Letícia de Carvalho, e denunciou obstáculos impostos à criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, por interesses que qualificou como “escusos”.
Compromissos do Brasil com os oceanos
Lula reiterou que o Brasil está comprometido em ratificar ainda este ano o Tratado do Alto Mar e apresentou sete compromissos voluntários no âmbito da conferência. Entre eles, destacou-se a ampliação da cobertura de áreas marinhas protegidas, de 26% para 30% até 2030, além da implementação de programas de preservação dos manguezais e recifes de corais e o lançamento de uma estratégia nacional contra a poluição plástica nos mares.
Ele alertou que “o oceano está febril”, citando dados científicos de aumento anormal da temperatura média do mar em apenas um ano — similar ao registrado nas quatro décadas anteriores. Segundo ele, a causa é o uso persistente de combustíveis fósseis e a poluição plástica, que representa 80% da contaminação marinha.
Amazônia Azul e protagonismo ambiental
Em uma analogia poderosa, o presidente lembrou que o espaço marítimo brasileiro — com 5,7 milhões de km² — equivale à Amazônia continental, o que levou o país a chamá-lo de “Amazônia Azul”. Ele vinculou a proteção desse território à soberania nacional e à segurança alimentar, ressaltando os impactos da crise climática também sobre o oceano.
“Estamos estimulando a pesca sustentável e combatendo ilícitos que ameaçam essa importante atividade para a segurança alimentar do nosso povo”, disse. Lula ainda anunciou investimentos em pesquisa, como a expansão do monitoramento científico e a manutenção da base brasileira na Antártida.
Cultura oceânica e rumo à COP30
Um dos destaques do discurso foi o anúncio de que o Brasil terá em 2025 o maior número de Escolas Azuis do mundo, com 515 unidades e 160 mil alunos integrando o currículo oceânico às aulas. Segundo ele, isso é parte do esforço brasileiro para formar novas gerações com consciência ambiental.
Encerrando sua fala, Lula ligou simbolicamente o evento em Nice à trajetória iniciada no Acordo de Paris e que culminará na COP30, em Belém do Pará. Ele anunciou, em parceria com a ONU, o lançamento do “Balanço Ético Global”, uma iniciativa que envolverá artistas, intelectuais, jovens, povos indígenas, mulheres e comunidades tradicionais. “Precisamos formar uma grande onda para construir um futuro mais justo e sustentável”, concluiu.
O discurso reafirma o protagonismo ambiental do Brasil e posiciona o país como ator central na governança climática global rumo à COP30.
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