China transforma baterias descartadas em trunfo estratégico para a transição energética
Reaproveitamento de baterias de veículos elétricos avança com alta tecnologia e reduz dependência externa de lítio, cobalto e níquel
247 - Na cidade industrial de Tianjin, no norte da China, um galpão fervilha com atividade: técnicos especializados e sistemas automatizados trabalham lado a lado na revitalização de baterias descartadas de veículos elétricos. A cena, relatada pela agência Xinhua, representa mais do que um esforço local — é o retrato de uma tendência nacional que transforma resíduos perigosos em oportunidades de negócio sustentáveis.
Com o maior mercado de veículos elétricos do mundo, a China enxerga no reaproveitamento de baterias não apenas uma solução ambiental, mas uma vantagem econômica estratégica. A startup Tianjin Battery Technology exemplifica esse movimento, atuando na vanguarda de uma indústria que deve crescer exponencialmente com a ampliação da frota elétrica e o vencimento da vida útil de milhões de baterias.
Explosão da demanda impulsiona economia circular
No fim de 2024, o país contava com 31,4 milhões de veículos de nova energia, o equivalente a 9% de toda a frota automotiva nacional. Com políticas de incentivo à troca de veículos mais antigos por modelos novos, o mercado de reciclagem de baterias ganhou novo fôlego.
Projeções indicam que o volume de baterias descartadas deve atingir 1,04 milhão de toneladas já em 2025, podendo ultraar 3,5 milhões de toneladas até 2030. Desde 2016, fabricantes são obrigados a oferecer garantia de oito anos ou 120 mil quilômetros para componentes essenciais, como baterias, o que agora se reflete na geração acelerada de resíduos.
Da sucata ao insumo valioso
Para Ma Youwei, gerente de equipamentos da fábrica em Tianjin, baterias "aposentadas" escondem um tesouro. “Em nossas palavras, trabalhamos para extrair completamente o valor das baterias descartadas e não deixar nenhum potencial inexplorado”, declarou ele à Xinhua. Com duas décadas de experiência em eletrônicos e fabricação de baterias, Ma lidera uma equipe que reaproveita componentes para consertos e transforma resíduos em matéria-prima nobre, como o carbonato de lítio.
A empresa já alcançou uma capacidade anual de processamento de 10 mil toneladas, com taxas de recuperação de lítio superiores a 90%. A eficiência é essencial, uma vez que, como destacou Ke Yanchun, representante do grupo estatal China Resources Recycling, “a China depende fortemente de importações de lítio, cobalto e níquel”. Nesse cenário, a reciclagem se apresenta como uma forma de reduzir a vulnerabilidade externa da cadeia produtiva dos veículos elétricos.
Inovação tecnológica contra o improviso
Embora o setor ainda enfrente a concorrência de pequenas oficinas sem regulação, líderes da indústria têm investido pesado em automação e rastreabilidade. A empresa GEM, listada na bolsa de Shenzhen, desenvolveu um sistema inteligente de desmontagem que detecta e separa componentes com precisão. Sua tecnologia inclui ativação catalítica em diferentes temperaturas e extração de lítio com altíssimo grau de pureza.
A companhia também implantou um sistema digital de gerenciamento do ciclo de vida das baterias, que rastreia cada unidade desde a coleta até o reaproveitamento. A estrutura faz parte de seu modelo de negócios integrado, que inclui mais de 140 pontos de coleta na China e parcerias com 750 fabricantes e operadores em todo o mundo. Apenas no primeiro trimestre deste ano, a GEM reciclou 10.800 toneladas de baterias, um crescimento de 37% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Em Tianjin, a equipe de Ma aumentou a eficiência do desmonte em 75% ao adaptar ferramentas comuns às especificidades do trabalho com baterias. “Essa inovação simples teve um impacto significativo”, afirmou.
Expansão global impulsionada por regulação ambiental
Com o avanço da China no mercado global de veículos elétricos, empresas locais também têm expandido suas operações além das fronteiras, de olho nas exigências ambientais internacionais.
A gigante CATL, maior fabricante de baterias do mundo, projeta iniciar operações de reciclagem na Europa em 2026, com a inauguração de sua planta de reindustrialização na Hungria. Já a GEM opera centros na Coreia do Sul e na Indonésia. Outras empresas seguem o mesmo caminho: a Gotion High-tech, de Hefei, firmou acordo com a Envision Greenwise, de Hong Kong, para instalar cem centros globais de reciclagem e pós-venda; enquanto a Huayou Recycling, de Zhejiang, uniu-se à sa SUEZ para explorar o mercado europeu.
Esse movimento internacional demonstra como a China, ao transformar o desafio ambiental em estratégia industrial, consolida sua liderança na transição energética global. A reutilização de baterias, além de reduzir a poluição, a a ser também um instrumento de soberania tecnológica e econômica frente à disputa por matérias-primas críticas.
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