América Latina adota cautela com possível retaliação dos EUA por aproximação com a China, diz Financial Times
Países latino-americanos buscam encontrar um equilíbrio nas suas relações com os EUA e a China em meio às pressões do governo Donald Trump
247 - A Colômbia enfrenta a possibilidade de represálias comerciais dos Estados Unidos após o anúncio do presidente Gustavo Petro de que pretende aderir à iniciativa chinesa de infraestrutura, o Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). A decisão foi revelada antes de sua visita à China, onde participará de uma reunião ministerial da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) na terça-feira (13).
Segundo o Financial Times, o dilema vivido pela Colômbia reflete um desafio maior enfrentado pela Celac: como diversificar as relações comerciais e investimentos com outras potências sem provocar a ira de Washington, liderado pelo presidente Donald Trump. Petro, atual presidente rotativo da Celac, ocupa uma posição delicada, pois a Colômbia tem sido historicamente um aliado dos EUA na América do Sul. Para a China, uma adesão da Colômbia à BRI representaria uma grande vitória, algo que já provocou um alerta em Washington.
Mauricio Claver-Carone, enviado especial para a América Latina do Departamento de Estado dos EUA, indicou que a aproximação de Petro com a China poderia prejudicar exportações colombianas, como flores e café, para o mercado norte-americano, em favor de seus concorrentes mais próximos. Empresários colombianos, temerosos de perderem o ao mercado dos EUA, interpretaram essa fala como uma ameaça velada, o que levou assessores de Petro a tentar persuadi-lo a adiar sua adesão à BRI.
O especialista Cui Shoujun, da Universidade Renmin de Pequim, comentou que, apesar das tensões com os EUA, a China e a América Latina devem aproveitar a reunião para reafirmar seu compromisso com a cooperação. Ele também ressaltou a importância do comércio bilateral, que pode superar US$ 500 bilhões neste ano.
Este evento, que ocorre em um momento de guerra comercial entre EUA e China, é crucial para Pequim. A principal preocupação chinesa é que Washington consiga convencer outros países latino-americanos a acordos comerciais que possam cortar mercados vitais para a China, especialmente considerando o atual momento econômico.
Enquanto isso, os países latino-americanos buscam encontrar um equilíbrio nas suas relações com os EUA e a China. O Panamá, por exemplo, foi forçado a se retirar da BRI devido às pressões dos EUA, que veem a influência chinesa sobre seus portos como uma ameaça. Michael McKinley, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA, alertou que a pressão dos EUA pode ter um impacto mais amplo na região, afetando o controle da China sobre infraestruturas sensíveis.
No Brasil, a maior economia da América Latina, a China já é o principal parceiro comercial. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que participará da reunião da Celac, está em uma visita oficial à China, marcando seu terceiro encontro com o presidente chinês em pouco mais de dois anos. O Chile também estará representado por Gabriel Boric, seu presidente de esquerda e maior produtor mundial de cobre. Diplomatas brasileiros consideram o evento uma continuidade da política de engajamento com potências do "Sul Global", visando um multilateralismo maior, e não uma resposta direta às tarifas impostas pelos EUA.
A reunião ministerial da Celac, que será a primeira desde 2021, buscará traçar um plano para guiar as relações entre a América Latina e a China, num contexto onde os EUA tentam reafirmar sua hegemonia sobre o que anteriormente consideravam seu "quintal". O México, que depende fortemente do mercado dos EUA, se encontra em uma situação delicada, especialmente após enfrentar pressões para reduzir a presença chinesa em setores como o automotivo.
Wen-Ti Sung, especialista no Atlantic Council, ressaltou que a aproximação da China com a América Latina poderia fortalecer a posição da China nas negociações com os EUA, sobretudo sobre temas como Taiwan e o Mar do Sul da China.
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